30 de junho de 2009

A caixa de cds

Então. A tal caixa de cds...

Foi ela que me despertou. Passei a semana conjecturando a possibilidade da minha geração estar apelando pra originalidade e todas as alternativas alternativas. Aí o Michael Jackson morre e as minhas teorias vão por água abaixo... Elas não são muito fundamentadas, é bem verdade, mas é que eu vejo tantos jovens curtindo coisas tão diferentes e buscando curtir mais coisas que ninguém curte e criando coisas pra ninguém curtir igual, pra no fim a minha conclusão ser a de que isso não passa de mais uma tendência. Mais um fruto do Pop. Caraminholas em confusão!

Salve Michael! Ele era genial, escultural por legitimidade. Por originalidade. Essa discussão é muito difícil, portanto, já cansada de pensar resolvi admitir que toda geração vai ser sempre movimentada por algo POPular, que muita gente curte, que muita gente gosta. Porque somos seres humanos e precisamos do mínimo de identificação pra nos relacionarmos.

Também vai sempre existir a contra-cultura, a oposição (ainda bem!) que irônicamente devido a este mesmo fato é POPular, é recorrente. Porque enquanto houver a réplica haverá grandeza de pensamento.

Parei de me reprimir finalmente. E mergulhei como uma diva na caixa de cds; que é muito pop! Ao invés de aderir a moda dos vinis acho até que vou me apegar aos cds... Pois eles são definitivamente material relíquia da minha geração, afinal de contas o mp3 ainda não caiu em desuso.

Primeiro cd; um rosinha que deve ter sido gravado por mim em 2005. Primeira música Kiss Me Sixpence None The Richer, que ouvi a primeira vez em um clip-montagem de Pacey e Joey, toca em um episódio também. Segunda All Star Cássia Eller, que mamãe sempre amou. Terceira California introdução de The OC. Quarta Pingos de Amor Kid Abelha. Quinta That Thing You Do The Wonders, que antes me lembrava o filme, hoje me lembra a homenagem dos quinze anos de uma amiga. Sexta Vital e Sua Moto Paralamas, mamãe sempre amou também. Aos poucos fui percebendo muitas influências dela. Sétima Um Mundo Ideal que eu sempre preferi em português mesmo. Oitava...

Ah oitava! Como àquele vestido que você amava aos dez anos (àquela bermuda para os meninos); que você acha anos depois no fundo da gaveta; fica fazendo de tudo pra caber em você de novo. Daydream Believer Mary Beth Maziars. Outro episódio de Dawson's. Um flash da pequena Anna Luiza esparramada no sofá da sala comendo brigadeiro às cinco p.m. com os olhos vidrados em mais episódio. Pra mim essa era única verdade.

Nona Último Romântico Lulu. Décima Fazer amor de madrugada. Décima primeira This Kiss Faith Hill outra de um clip-montagem, só que dessa vez de Seth e Summer. Pra terminar a décima segunda Champagne Supernova, episódio 2.14, a descoberta de uma banda incrível.

Segundo cd; um roxinho da época que mil músicas não cabiam em um cd (ou só na minha cabeça era assim). Uma continuação.

1 - Juliette Vanessa Daou, episódio 6.15
2 - Velha Infância Tribalhistas, nem gosto mais... Daquelas que enjoam muito!
3 - This Year's Love David Gray, episódio 4.02
4 - Uma excelente música que eu não consegui achar o nome, episódio 2.07 quando eles pulam na piscina.
5 - Footloose, eu gosto de filme
6 - Faz Parte do Meu Show Cazuza
7 - Nada Sei Kid Abelha
8 - I Hate Myself for Loving You, só me faz pensar que a Joey era piscinana com certeza
9 - Feels Like Home Chantal Kreviazuk, Como perder um homem em 10 dias, favoritíssima
10 - Hey Pretty Girl Bodeans, já parando de encher o saco de quem fez questão de ler até aqui.

Outros sete cds. Várias fugas da minha geração, de acordo com os Cazuzas, Kids e Paralamas. Lembranças de uma época em que curtir uma música não era analisar ideológicamente o seu próprio eu interior.

Caraminholas definitivaente em confusão!

28 de junho de 2009

Segunda opinião - LANÇAMENTO

É a primeira vez em dois meses que eu tiro o casaco. Os 40 graus servem apenas de título para as boates do Rio de Janeiro de uns tempos pra cá. Bom, porque lavei os agasalhos fedorentos e tenho saído descombinadamente elegante. Engraçado é fazer faxina de moletom (as lingeries ficam para a Luana Piovani).

Quem disse que somente as virginianas curtem faxina? A nossa grande diferença é que transformamos o ambiente a ser arrumado em um sítio arqueológico.

Prezada Best Friend, qualquer semelhança é puro plágio, puro marketing e pura conhecidência também!

Acontece que as taurinas são obrigadas a fazer faxina, as virginianas são viciadas em e as piscianas chegam até a curtir; é lógico que, como tudo pra nós, somente é agradável quando não planejado.

Como ontem, quando o meu nômade favorito chegou. Sem surpreender ninguém fez uma surpresa (caros amigos leitores, a palavra surpresa é quase sempre associada a algo bom, TOMEM CUIDADO COM ISSO)... boa. Porque o quartinho ao lado do meu não está mais tomado pelos meus livros, papéis, brinquedos, tocas, gorros, sapatos velhos. Eu tive que fazer faxina. Desafio: em poucos minutos. Desde que a rotina artística recomeçou vencê-los não é problema.

Estava eu lá. E TCHAN! Não foi o crânio da Lucy, mas achei uma caixa de cds que procurava há algum tempo. Quem diria que a tal caixa me ajudaria tanto na minha mais recente pesquisa? Porque quem disse que eu abandonei a idéia de trabalhar com método científico. Tenho feito isso apenas como hobby.

As coisas não mudaram por aqui e eu só venho introduzir o tópico central do meu texto depois de seis parágrafos. Nós temos uma geração afinal? Não posso contar projetos sigilosos, mas partilho essa recente dúvida a qual tenho tentado esclarecer.

Sério, porque a minha mãe usava jeans até a cintura e ia pra Mamute, ver os Paralamas, Cazuza, jogava Atari. O meu tio está desolado com a perda do Rei do Pop. A minha vó, mesmo atípicamente vó, enaltece as grandes divas do Rádio, chora ouvindo Taiguara e ainda é loucamente militante, loucamente artista. Mas e eu?

Descobri que não é frivolidade a execução da pesquisa, vis-to-que muitos historiadores pesquisam os tempos atuais, tentando abrir brechas para os que um dia irão pesquisá-lo. Pode até ser saudosimo além da conta ou desilusão precoce. O fato é que eu sempre vivi de passado mesmo, só tenho tentado documentá-lo.

Mentira. Quero também descobrir isso devido aos meus planos sigilosos que só divido com Paula, Cadore e Matheus.

Essa pergunta é a primeira de muitas que vou responder com a ajuda de uma amiga; abrindo uma série de novas idéias que serão implementadas por aqui.

E aí Best, temos uma geração? Podemos prever a geração que seremos um dia?

A minha opinião lê no próximo post. auhauhuahua

9 de junho de 2009

Vinicius já dizia

Peixes no almoço e um capricorniano na roda. E Vinicius já dizia... algo que ninguém se lembrou por inteiro, mas que venho aqui, por intermédio do Dr. Google trazer na íntegra.

A conversa rondou assuntos interessantes e, quem sabe, perspicazes. Assuntos que gosto de discutir com gente como eles. Elas. Ele é quase ela.

Chá vai. Chá vem. Batata vai. Batata vem. Sem bacon! Mas traz o potinho separado...

Cheguei em casa e rodei um trailer no You Tube; de um filme que tínhamos vontade de assistir e que eu já vi. O filme é parte de uma memória estranha que eu acompanhei de perto. Eu sou parte da memória do filme. Que medo de um dia ser um filme!

Recomendo o filme não só pro dia dos namorados. Até porque não existe data mais estúpida. Vincular amor, paixão, adoração, carinho, e o que quer que seja, a uma delimitação de vinte e quatro horas é jogar um balde d'água fria na audácia dos românticos. Dia 12 é dia do túmulo, dos que vivem iludidos achando que amar é tão fácil.

Sou fã dos amores impossíveis. Que a vida pois o fim que agente nunca teria posto. Incoerentemente acredito que esses são os maiores amores justamente por isso. Ainda bem que não são duradouros. São os fogos de artifício do reveillon.

Meus amigos também acreditam nisso. Astrologicamente falando; claro! ; três românticas práticas e um praticamente romântico.

Esse trecho é pra eles.



Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



PS.: Pra melhor mãe do mundo também, que recita até hoje de cor. Educação exemplar.

Aumentando um ponto

Só tenho inspiração para ler, colher e semear. Talvez algo brote...



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Conto de verão nº 2: Bandeira Branca



Luís Fernando Verissimo


Ele: tirolês. Ela: odalisca; Eram de culturas muito diferentes, não podia dar certo. Mas tinham só quatro anos e se entenderam. No mundo dos quatro anos todos se entendem, de um jeito ou de outro. Em vez de dançarem, pularem e entrarem no cordão, resistiram a todos os apelos desesperados das mães e ficaram sentados no chão, fazendo um montinho de confete, serpentina e poeira, até serem arrastados para casa, sob ameaças de jamais serem levados a outro baile de Carnaval.


Encontraram-se de novo no baile infantil do clube, no ano seguinte. Ele com o mesmo tirolês, agora apertado nos fundilhos, ela de egípcia. Tentaram recomeçar o montinho, mas dessa vez as mães reagiram e os dois foram obrigados a dançar, pular e entrar no cordão, sob ameaça de levarem uns tapas. Passaram o tempo todo de mãos dadas.
Só no terceiro Carnaval se falaram.


- Como é teu nome?


- Janice. E o teu?


- Píndaro.


- O quê?!


- Píndaro.


- Que nome!


Ele de legionário romano, ela de índia americana.


Só no sétimo baile (pirata, chinesa) desvendaram o mistério de só se encontrarem no Carnaval e nunca se encontrarem no clube, no resto do ano. Ela morava no interior, vinha visitar uma tia no Carnaval, a tia é que era sócia.


- Ah.


Foi o ano em que ele preferiu ficar com a sua turma tentando encher a boca das meninas de confete, e ela ficou na mesa, brigando com a mãe, se recusando a brincar, o queixo enterrado na gola alta do vestido de imperadora. Mas quase no fim do baile, na hora do Bandeira Branca, ele veio e a puxou pelo braço, e os dois foram para o meio do salão, abraçados. E, quando se despediram, ela o beijou na face, disse - Até o Carnaval que vem - e saiu correndo.


No baile do ano em que fizeram 13 anos, pela primeira vez as fantasias dos dois combinaram. Toureiro e bailarina espanhola. Formavam um casal! Beijaram-se muito, quando as mães não estavam olhando. Até na boca. Na hora da despedida, ele pediu:


- Me dá alguma coisa.


- O quê?


- Qualquer coisa.


- O leque.


O leque da bailarina. Ela diria para a mãe que o tinha perdido no salão.



No ano seguinte, ela não apareceu no baile. Ele ficou o tempo todo à procura, um havaiano desconsolado. Não sabia nem como perguntar por ela. Não conhecia a tal tia. Passara um ano inteiro pensando nela, às vezes tirando o leque do seu esconderijo para cheirá-lo, antegozando o momento de encontrá-la outra vez no baile. E ela não apareceu. Marcelão, o mau elemento da sua turma, tinha levado gim para misturar com o guaraná. Ele bebeu demais. Teve que ser carregado para casa. Acordou na sua cama sem lençol, que estava sendo lavado. O que acontecera?


- Você vomitou a alma - disse a mãe.


Era exatamente como se sentia. Como alguém que vomitara a alma e nunca a teria de volta. Nunca. Nem o leque tinha mais o cheiro dela.

Mas, no ano seguinte, ele foi ao baile dos adultos no clube - e lá estava ela! Quinze anos. Uma moça. Peitos, tudo. Uma fantasia indefinida.


- Sei lá. Bávara tropical - disse ela, rindo.


Estava diferente. Não era só o corpo. Menos tímida, o riso mais alto. Contou que faltara no ano anterior porque a avó morrera, logo no Carnaval.


- E aquela bailarina espanhola?


- Nem me fala. E o toureiro?


- Aposentado.


A fantasia dele era de nada. Camisa florida, bermuda, finalmente um brasileiro. Ela estava com um grupo. Primos, amigos dos primos. Todos vagamente bávaros. Quando ela o apresentou ao grupo, alguém disse -Píndaro?! - e todos caíram na risada. Ele viu que ela estava rindo também.



Deu uma desculpa e afastou-se. Foi procurar o Marcelão. O Marcelão anunciara que levaria várias garrafas presas nas pernas, escondidas sob as calças da fantasia de sultão. O Marcelão tinha o que ele precisava para encher o buraco deixado pela alma. Quinze anos, pensou ele, e já estou perdendo todas as ilusões da vida, começando pelo Carnaval. Não devo chegar aos 30, pelo menos não inteiro.



Passou todo o baile encostado numa coluna adornada, bebendo o guaraná clandestino do Marcelão, vendo ela passar abraçada com uma sucessão de primos e amigos de primos, principalmente um halterofilista, certamente burro, talvez até criminoso, que reduzira sua fantasia a um par de calças curtas de couro. Pensou em dizer alguma coisa, mas só o que lhe ocorreu dizer foi - pelo menos o meu tirolês era autêntico - e desistiu. Mas, quando a banda começou a tocar Bandeira Branca e ele se dirigiu para a saída, tonto e amargurado, sentiu que alguém o pegava pela mão, virou-se e era ela. Era ela, meu Deus, puxando-o para o salão. Ela enlaçando-o com os dois braços para dançarem assim, ela dizendo - não vale, você cresceu mais do que eu - e encostando a cabeça no seu ombro. Ela encostando a cabeça no seu ombro.


Encontraram-se de novo 15 anos depois. Aliás, neste Carnaval. Por acaso, num aeroporto. Ela desembarcando, a caminho do interior, para visitar a mãe. Ele embarcando para encontrar os filhos no Rio. Ela disse - quase não reconheci você sem fantasias -. Ele custou a reconhecê-la. Ela estava gorda, nunca a reconheceria, muito menos de bailarina espanhola. A última coisa que ele lhe dissera fora - preciso te dizer uma coisa -, e ela dissera - no Carnaval que vem, no Carnaval que vem - e no Carnaval seguinte ela não aparecera, ela nunca mais aparecera. Explicou que o pai tinha sido transferido para outro estado, sabe como é, Banco do Brasil, e como ela não tinha o endereço dele, como não sabia nem o sobrenome dele e, mesmo, não teria onde tomar nota na fantasia de falsa bávara.

- O que você ia me dizer, no outro Carnaval? - perguntou ela.

- Esqueci - mentiu ele.

Trocaram informações. Os dois casaram, mas ele já se separou. Os filhos dele moram no Rio, com a mãe. Ela, o marido e a filha moram em Curitiba, o marido também é do Banco do Brasil - E a todas essas ele pensando: digo ou não digo que aquele foi o momento mais feliz da minha vida, Bandeira Branca, a cabeça dela no meu ombro, e que todo o resto da minha vida será apenas o resto da minha vida? E ela pensando: como é mesmo o nome dele? Péricles. Será Péricles? Ele: digo ou não digo que não cheguei mesmo inteiro aos 30, e que ainda tenho o leque? Ela: Petrarco. Pôncio. Ptolomeu...