23 de dezembro de 2009

Relato breve e posterior


Ela saiu de cena sorrindo. Olhou para as mãos que permaneceram firmes durante todo o espetáculo e sentiu uma saudade imensa dos minutos anteriores. Quando ciente da realidade, vestiu um roupão de seda e voltou ao palco para agradecer.

As lágrimas lhe caíram como uma água qualquer que lava a alma. E ela se sentiu plena. Quando saiu do placo novamente foi correndo ao camarim, parando vez por outra para abraçar os técnicos e os demais artistas. Chegou lá dentro de vinte minutos, com uma garrafa de champagne que catou pelo caminho.

Abriu a porta em disparada. Olhou para um rapaz que estava fumando sentado na bancada do espelho e sorriu. Ele deu um grito:

- Ma-ra-vi-lho-so! Ouvi comentários de que você nunca esteve igual.

- Jura que você gostou?

- Eu amei! Você tava inteira, tava perfeita, tava reluzente e... linda.

Ela olhando para ele solta outro berro. Tira o cigarro de sua boca e o beija. Quando um grupo abre a porta novamente, os dois cessam.

- Uh! Sexo pós-espetáculo - diz uma baixinha que corre para abraçá-la - Você tava como nunca! Ou como sempre. Eu já nem consigo descrever o que eu sinto...

As duas riem. A atriz traga o cigarro e o apoia no cinzeiro. Pega um copo de champagne e brinda com o grupo que povoa o camarim antigo.

- E meu corpo? Deu pra ver?

- Eu bem que tentei - solta um homem altíssimo que a abraça profundamente - mas a cortina não era completamente transparente.

- Não venha querer reclamar... Você que já o viu tantas vezes!

Riso geral. É assim que morrem os momentos de felicidade, que nascem nós nem sabemos como. Eu sei que a consciência saiu daquele lugar e veio aqui lhe contar essa história.

14 de dezembro de 2009

Durante um chat PUC


Temeroso e a verdade das coisas


Já conheceu o senhor Temeroso?

Ele mora pra lá da consciência,

e foi ele que inventou a diferença

temido do mundo que nada muda.

Esse senhor é um baita de um medroso

Temeroso quer mais é alguém que o acuda.


Ora Temeroso, todos somos acudidos

pelos amigos pretos ou brancos

covardes ou francos

me diga então qual é

a diferença do crocodilo e o jacaré?


O senhor que inventou essa lorota

e todo mundo acabou acreditando.

Tudo bem, que tem diferença que a gente tem

e eu até que prefiro ser igual a ninguém.

Mas vai dizer que isso mesmo importa

quando o mundo muda quando agente amando?


E ninguém mais acreditando,

quando amando eu admito

ser leal é ser leal

ser fiel é ser fiel.

E eu amando, quanto minto;

quem gosta inventa mito.

Covarde que é, quer ser mal,

e o outro se vinga sendo cruel.

Pra no fim ninguém ser leal, nem fiel.


Prefiro todo o calor

a sinceridade do momento sem medo

pra ser inteiro, não ser ilusão.

Um dia, pra Temeroso, a grande revelação:

Todo mundo é diferente e igual

Fiel e leal.

De verdade o que vale é quão calor, quão amor.

Pra no fim descrição ser esqueleto,

alma amor e limite um pudor.


8 de dezembro de 2009

Muitos diálogos: Pode contar até trinta



Ai de ti! Achou que muito me conhecias e o muito é pouco pra ti. Nada me conheces. Estou na próxima página fazendo mistério pra outros perdidos.


Como vai? Sinto uma nada falta. Sou diferente daquela do minuto anterior. Sou incogniscível. Mistério puro, sem mistério algum. E vou lhe revelar;


Que coleciono as pedras, os bombons, um tanto de cetim. Nada de presente, tudo em minha cabeça, tudo fantasia. Vou me transformar numa que não sou e todo mundo vai acreditar.


Menos você. Que eu já te contei tudo. Que eu vivo de fingir e que é o que mais gosto. Que nada me algema, nem nada me enlaça. Mas tudo me prende e me devora. Quero as tais prendas que me prometeras...


Prometeu? Nada me prometeu. Em mim não há Prometeu, só a loucura. A alucinação de que nada é como quero e tudo deveras ser. Nosso compromisso é uma insanidade que conforta e inquieta. O comprometimento é uma lástima. Me torna mais sã; aos olhos dos cegos mais louca.


Porque ninguém compreende o sentimento. Todos buscam bem-ser ao invés de bem-estar. Talvez esta seja a chave do amor. Ainda digo tantos sim quanto posso. Os meus conhecidos acham que digo de mais, mas eles que dizem de menos. Menos noitadas boas então.

(risos capciosos) Pra que a meia luz? (risos que intimidam)

Porque é melhor assim. Bom seria se me imaginassem exatamente como sou... Sei, no entanto, que na penumbra descobrem outras silhuetas que não as minhas. Viro rival desta aqui que sou. Sobrevivo cantando coisas bonitas, cantando quem me possui.

Esse papo libertino camufla bem meu bem-estar. E vira meu bem-ser. Daí escrevo muito, pra que todos acreditem que são um; e o único. Que na verdade são; não faz mesmo diferença. Meu folhetim é infinito de páginas.


4 de dezembro de 2009

Muito de mim; pouco pra ti

Ditos largados de poucas

e boas prosas

encantam tanto;

sob condenação não sei

me expressar mais.


São loucas

e soltas todas as nossas;

o encantamento é tal que o pranto

é excitação e eu ...

,troco rimas,

me desespero.


O saber que sei pouco

tanto sabes

que no encalço de uma angústia íntima

de um quase pudor

faço um nó de vergonha em mim.


Desatá-los-ia

em meu sonho

entre trovas de um belo cantador;

que és.

Não sou digna de sensibilidade tamanha.

Mas me desfaço em amor

desfazendo rimas

perfazendo ardor.

3 de dezembro de 2009

lembrando até do que eu não vivI

Estática em frente à tela do computador. Acumulando estudo e trabalho pra bisbilhotar um passado fresco. Frescor do tempo é engraçado; tanto graça quanto o tempo, parece o geladinho do ar-condicionado que já foi desligado faz uns quinze minutos. Por ironia, em mim, essa brisa só aquece o coração. Nada muito forte. Apenas o gosto de recordar.

Há uns meses era de pelar. Por que procurar a cura de um mal que quer ser a cura de sí? Pensar não é libertador. Sentir é ser. Fico feliz com a liberdade de sentir e ser e pensar que não tinha há muito tempo.

Não obstante sobraram linhas bonitas e frases inversas que só eu guardo na minha caixa de e-mails. É como tirar velhas caixas do depósito (velhas analogias da mesma mente) pra rir e lembrar e guardar. E voltar feliz pra realidade cacheada que não responde minhas mensagens.

Sobram trechos... superáveis, e especiais.

"Quero renovar uma coisa que eu não sei o que é, mas que me faz digitar cada letra no exato momento. E estou desejando algo que com certeza me levaria à igreja para pedir perdão se eu acreditasse nessas coisas. Prefiro continuar desejando essa coisa! Prefiro ser bem má assim ou só autêntica. Não sou de desistir das coisas, só de um jogo qualquer de damas." (26 / 12 / 2008)