Ela saiu de cena sorrindo. Olhou para as mãos que permaneceram firmes durante todo o espetáculo e sentiu uma saudade imensa dos minutos anteriores. Quando ciente da realidade, vestiu um roupão de seda e voltou ao palco para agradecer.
As lágrimas lhe caíram como uma água qualquer que lava a alma. E ela se sentiu plena. Quando saiu do placo novamente foi correndo ao camarim, parando vez por outra para abraçar os técnicos e os demais artistas. Chegou lá dentro de vinte minutos, com uma garrafa de champagne que catou pelo caminho.
Abriu a porta em disparada. Olhou para um rapaz que estava fumando sentado na bancada do espelho e sorriu. Ele deu um grito:
- Ma-ra-vi-lho-so! Ouvi comentários de que você nunca esteve igual.
- Jura que você gostou?
- Eu amei! Você tava inteira, tava perfeita, tava reluzente e... linda.
Ela olhando para ele solta outro berro. Tira o cigarro de sua boca e o beija. Quando um grupo abre a porta novamente, os dois cessam.
- Uh! Sexo pós-espetáculo - diz uma baixinha que corre para abraçá-la - Você tava como nunca! Ou como sempre. Eu já nem consigo descrever o que eu sinto...
As duas riem. A atriz traga o cigarro e o apoia no cinzeiro. Pega um copo de champagne e brinda com o grupo que povoa o camarim antigo.
- E meu corpo? Deu pra ver?
- Eu bem que tentei - solta um homem altíssimo que a abraça profundamente - mas a cortina não era completamente transparente.
- Não venha querer reclamar... Você que já o viu tantas vezes!
Riso geral. É assim que morrem os momentos de felicidade, que nascem nós nem sabemos como. Eu sei que a consciência saiu daquele lugar e veio aqui lhe contar essa história.