4 de dezembro de 2010

Mantém aquecido


Para quem procura um momento pra Hey Jude e não foi no show do Paul vou lhes dizer com exatidão.


Eu era uma garota saindo de casa sem muito saco de ir até o Centro. Fui dar uma volta pela redondeza. Cuidado redobrado sem a mãe por perto. Dobra duas ruas à direita, encontra duas senhoras e três crianças, uma num carrinho de bebê. Tem algum parque por aqui? Segue em frente que você verá um portão. Em frente e um portão. Tira uma foto e a bateria acaba.


Começa um outro lado. Segue a trilha de neve pisoteada. Olha um homem fotografando com tripé e equipamento. Olha pra onde ele olha. É um novo mundo. Um marco zero. Abaixo de zero está tudo o que é novo, que faz tremer o corpo inteiro. Acima, tudo o que é essencial: família, amigos, a segurança da cidade insegura. Mentira quando falam que é sem graça enxergar tudo branco. Isso aqui é como uma livro pra colorir e eu posso te mostrar as cores que eu enxergo.


Devia ser um campo lindo, com um banquinho pra sentar no meio e uma placa indicando um parquinho e algum monumento histórico. Tem um casal caminhando com dois cães que parecem lobos. Um deles me encara desvendando meus sentimentos, farejando meus estrangeirismos. As senhoras vêm com as crianças e o carrinho atrás de mim. O farejar delas é tão humando quanto as minhas lágrimas. Essa água morre nas marcas da minha luva, enxugando meu rosto. Eu sei qual o significado de achar que entende tudo sem precisar de fato entender.


Aqui é só eu. E o meu Salgueiro Lutador alí na frente. Apresso o passo até ele. Sento no banquinho e da uma vontade de olhar a entrada secreta pra Casa dos Gritos. Lá estou eu desvendando as raízes das árvores. Deixando minha bota afundar na neve até eu poder gravar imagens o suficiente na minha memória. Aí toca Beatles, a música sem momento, que eu escolhi esse pra presentear.


Não tem horizonte, tudo é foggy, nada é claro. Nada nunca foi tão esclarecedor quanto o céu se misturando com uma superfície sem fim. Meu corpo sem temperatura definida. Minha mente é um suspiro de surpresa seguido por alívio recompensador. Não vale a pena pensar em ninguém. Isso que aconteceu nasce segredo entre você e você mesmo. Gostar de alguém já torna tudo colorido. Aqui quem não vê em cor, não deve ter muitos amigos.

Entrou pro ranking de uns acontecimentos inesquecíveis da minha vida.

2 de dezembro de 2010

O anúncio de um novo blog

... 29 de novembro de 2010 ...

Hoje eu vi um grupo de garotos e garotas sentados num campo coberto de neve. Era final de tarde, já estava escuro, a noite num preto e laranja mais claro que no Rio. Lá estavam eles a jogar bola de neve um no outro, se auto-fotografando no celular, numa paquera que eu nunca vi igual. Foi bonito ver; eu quis chegar perto pra puxar papo. E talvez essa magia seja como tomar cerveja em algum baixo carioca. Zona Sul chia, mas é a mesma sensação na Zona Norte. A curtição dum dia de inverno tá pra mim como o que nenhum gringo entende das nossas conversas sacanas na beira da praia e do bar. Eu fui cruzando a esquina encantada.

... 26 de novembro de 2010 ...

Hoje quem estivesse passando pela Jardim Botânico do lado oposto ao Baixo Gávea às dez da manhã poderia ver a minha calcinha. Pra quem não estava lá, ela era bege e sem costura, de tamanho médio que eu odeio coisa apertada. Eu corria pra pegar o 438, pois algo me dizia que aquele não seria queimado. O momento não era nem muito especial – perguntem aos meus vizinhos de janela e colegas de palco – mas valia a pena ver a minha troca rápida de expressões faciais. Foi um momento marcante de uma despedida que semi-aconteceu. Vinte e quatro pics para se desesperar, para malandramente resolver o que está errado, para se atrapalhar resolvendo, para se preocupar com o que os outros vão pensar da minha roupa íntima, para fingir que não me preocupo, para aproveitar o fingimento para um exercício teatral, para me tocar de que estou partindo para o outro lado do mundo, para de verdade não ligar se alguém estava me reparando. Talvez fosse uma boa dica de entretenimento se dada com antecedência. Por isso que vou fazer cinema.

... 29 de novembro de 2010 ...

Hoje quem estivesse passando pela Northwood Road do lado oposto ao Costa Café às seis da tarde poderia ver meu rosto choroso. Pra quem não estava lá, era vermelho sem blush, com os lábios meio brilho-meio rachado, a boca tremendo de frio. Eu caminhava observando uma galera se divertindo. Eu parava pra ver a neve caindo em mim. O momento era muito especial – perguntem aos vizinhos de quarto e aos colegas de curso – mas valia mais a pena sentir o mesmo que eu sentia naquela hora. Foi um momento marcante de uma chegada que ainda ta acontecendo. Vinte e quatro quadros para se desesperar com o frio do lado de fora, para afundar o pé na neve, para sacar a chuva de caspa de São Pedro, para ficar confusa para qual lado olhar antes de atravessar, para sentir saudade dos amigos, para ponderar tristeza e felicidade, para descobrir que se chora por algo mais que somente esses dois sentimentos. Por isso que vou fazer psicanálise.

18 de novembro de 2010

Toalha de mesa na grama

Desde que a professora da segunda série começou a ensinar o desenho abstrato, eu nunca mais larguei a canetinha. Quando ela engata numa superfície menos aderente do papel, consigo vislumbrar os cruzamentos. Quero terminar pra colorir logo. Nostalgia não tem motivo algum e só faz sentir uma pressão no umbigo. Acho que não sei mais reagir ao encontro e a perda.

Decidi sair da margem do papel. Cansei de passar em cima de linha e mais linha de alguém que eu não conheço mais. Agora eu to pintando a mesa que é pra ver se me acho longe desse emaranhado. E aí talvez eu me perca de verdade, por não saber os limites desse novo lugar. Pois se perder fingindo não serve nem mais pro papel de atriz furreca que eu faço.

O tempo não passa pra essa tentativa de obra de arte. Eu me dei conta que eu sou aquela aluna que sempre trava a caneta pra mostrar o que já fez. Bem feito que depois quase desequilibra de exuberância. Só que das primeiras vezes que fiz isso, umas meninas riram de mim e gostei da ideia de ser palhaça. Palhaça e malabarista, que enquanto não largava o traçar dava pra jogar fandangos pra cima e encaçapar com a própria boca. Quando caia no chão e eu comia sem nojinho então, a plateia largava a gargalhada.

Pobre de mim que fui fazendo amigos querendo fãs. Aquelas meninas da aula de arte começaram a me desafiar num picadeiro de piadas. Me ensinaram a fazer tipo, a falar tipo, a falar gíria, gíria idosa de sacanagem, sacanagem de quem não entende graça. Quando notei que elas eram melhores, quis imitar. Quando tentei imitar, me deu agonia infeliz de palhaço. Fiquei sem saber quem era eu, quem era ela, quem era o palhaço. Elas ainda zuaram da minha desgraça.

Foi mais um momento de instantes longos da minha vida. Meu olhar levantando vagarosamente do meu estado em cabisbaixo. A estranheza, a humilhação, a dor, o ódio, a vingança eram lances da escada da minha visão. Que deve ter alcançado o par de olhos verdes mais encantadores que já vi. A boquinha fechada numa conformação pateta, que não tem como não esquecer os pesares do mundo. É que elas acham graça de tudo mesmo. O tapinha nas costas de aconchego é como o de uma giganta sem dedos.

Nossa trupe foi desenrolando charme por aí. Tem um jogo de dados das faces de humor. Umas vezes nós brincamos de Uma na roda sem entender o que as outra dizem. Outras de repetição incansável de anedotas ruins. E mais ainda de rir da Louise, que é o nosso ventríloco típico, desses com a boca bem grande. Trabalhar nisso era bom e eu fui ficando. A gente foi trocando de escola de comédia; refinando e embabacando o show. Eu me dei conta de que falava em plural e repetia gerúndio sem condenar a rotina na qual me meti.

Nem me sinto muito animada com os nossos concorrentes. Mas quando dá vontade de mudar de vida, eu sento na plateia sem elas perceberem. Sinto de novo a alegria crua de ser criança. Meu corpo reage que nem boneco de dar corda: balança perna sem parar. É a espera do próximo número. Comento com o resto dos pagantes a qualidade, eles se emocionam com as minhas palavras de orgulho e com a eloquência da minha fala. Elas descobriram esse meu talento e me puseram de cara-de-pau. Que sou a única palhaça sem-vergonha.

Mas eu só faço porque tem vezes que uma delas me percebe sentada vendo o show e tira do bolso seu próprio desenho daquela aula de artes. Trigonométrico, corte e colagem, moldura de revista de fofoca ou faces de linhas freudianas. Eu me vejo em todos os traços e aposto que tem muito delas nos meus.

São reflexos de uma estada colorida na Terra, dum espetáculo barulhento e lindo. É como um piquenique forjado só pra comemorar a amizade. O encantamento ta na toalha que nós estendemos. Se uma solta, a outra pega, não deixa cair. E olha só como ela num é um artesanato de linhas encontradas.

14 de outubro de 2010

A partir do inamor

Desculpa meninos, mas eu despi a calça jeans sem pudor. To vestindo a cinta-liga de maneira muito hábil, ágil, fastil. Ou vou com algo muito apertado. Ou muito leve e delicado. Tudo fica bem num olhar direto, de boca semi-aberta sem sorriso. Eu tenho uns toques desesperados pelo rosto: aperto meus lábios, procuro espinhas, comprimo a glândula lacrimal. Venham logo que eu to passando a língua nos dentes lá de cima.

É que eu não acredito mais no amor. Nunca confiei em relacionamentos, mas sentimentos coloridos são a grande fraude de todos os tempos. Você tem toda razão. Eu sou mal amada, mal parada, mal digerida. Tem dias que eu quero mesmo que todos os pombinhos se explodam, que nem desenho animado, pra ser mais sádico. Eu ia guardar as peninhas numa caixa de sapato. Com bilhetinhos só de papel, pingentinhos só de metal, origamis só de dobradura. E a minha carteirinha Delta Romantic Loser.

Eu me juntei a umas garotas interessantes que não gostam de ser mulher, nem menina. Nós curtimos garotos pra vida passar mais de pressa. Pra acontecer de mãos femininas tocarem costas masculinas num desses momentos únicos. Vestimos cintura alta, temos flor no cabelo ou uma camisa dos Strokes, com casado na cintura. Isso independe do fato de que nunca acreditaremos no teu amor.

Nós descobrimos a prisão de todos os canalhas, pois. A culpa não é sua, é minha

Uma terra paralela, onde é proibido eles te amarem, devido a. O problema é que te amo

A biblioteca dos finais felizes, lá. Você é a mulher da minha vida

A vitrine mágica dos cronômetros, que. Esse não é o momento certo pra ficarmos juntos

Eis o grande chamado de uma era. Arrepio de mão única. Falta de sinalização não causa acidente e evita esperança de que o laranja nunca vai ficar vermelho. Acredite quando eu digo: quem dá muitas voltas está perdido. Excesso de localização não ajuda. Pode dirigir no escuro que aqui ninguém ama. Mas claro que a luz do dia favorece as belas.

Eu sou feia, então tanto faz. Não soa angustiante o anúncio de um conquistar diferente.

6 de outubro de 2010

Pelo jeito não,

ele não existe mais.
Tem outro cara me fazendo companhia quando pego o
ônibus de caminho longo. Na verdade, eu comecei com esse ônibus por ele. Que é
muito diferente quando alguém sabe exatamente o que fazer, o que conversar,
aonde tocar. Então, tem esse garoto que chega no ônibus comigo e sai fazendo
tudo o que eu quero.

Eu sei que é estranho. Sei que parece mentira. Mas não
é.

Tem dia também que eu vou de taxi, de carona,
de pé. Aí ele não aparece. Só no ônibus ou quanto o metrô está muito
vazio.

Quase sempre vem dançando; quer dizer, é mais como um
fundo musical. Me beija no refrão, nos compassos mais eletrizantes. Eu já disse
que ele sabe fazer tudo isso. Ainda aparece diferente a cada dia. Chega de
camisa de flanela, bermuda cargo, óculos de grau e barba. De cabelo enroladinho
grande, de cabelo lisinho sujo, de cabelo que eu não sei definir. Do nada quer
ತಿರರ್ ಅ ರೌಪ, ಕಾಲೋಕಾರ್ ಉಮಾ calça ಜೆಂಸ್ ಎ ಉಮಾ ಬ್ಲೂಸ ಬ್ರನ್ಚಾ, ಮಾಸ não.

- Pode ficar assim! - eu esbravejo.

No minuto seguinte eu to rindo sem querer. É que ele
sabe fazer isso de me convencer. Eu finjo acreditar que é só ele, mas sei o
quanto sou óbvia. Gosto muito dele. Mas enquanto estamos no ônibus eu até que me
controlo bastante. Sou a mulher poderosa que os homens amam.

Sentada no ônibus minhas posições nada femininas até
que ficam graciosas. Meu cabelo não desarrumava nem quando tava longo. Minha
roupa é sempre perfeita e meu corpo escultural. Eu sou do jeito que ele gosta e
ele como eu quero. Faz tudo de errado na hora que eu decido, porque eu odeio
perfeição. E a gente só separa mesmo quando saio do ônibus.

A música me segue e deixa ele lá. Tem vezes que até me
acompanha do lado de cá. Mas some n0 primeiro susto que eu levo, no primeiro
conhecido que eu encontro, na primeira coisa que me dispersa. Quando telefona é
pra me dar bronca fofa: tem que ir no teatro, tem que escrever, senão eu não
apareço. Verdade.

Eu já falei que não é mentira. Que eu vejo ele todo dia
no corpo de alguém. Esquecido de tudo que fizemos no ônibus, dos momentos mais
íntimos. Me dá um abraço, um sorriso, um bater de mãos. Vira meu melhor amigo,
meu colega, um desconhecido. E eu só conheço ele de novo no ônibus. Mas ali é de
verdade.

Eu sou a verdadeira dele e é pra ele que eu escrevo.
Pra ilusão de que os caras de verdade são como eu vejo.

Tá todo mundo iludido. Ninguém conhece quem ama. No anonimato sou Anna Luiza Escritora Aqui do Blog. Ninguém me conhece.

13 de setembro de 2010

I'll choose unloved instead

Hoje o segurança viu a menina subir a rua e parar no meio dela. Não foi por causa da macumba. Parece que foram as estrelas.

...

Disputo uma corrida comigo
Estirada numa combe, lançando fitas
Pisando na linha medida em cetim
Gargalhada em gargalhada, travando castigo
Voltando, que tombe, não levita nem você em mim

Paramos numa ladeira doce antiga conhecida
Donde a gente desceu esbaforida
Nem pensou em observar, em tudo caindo
Corrida nem beira a eira dum belo traçar
Para de voar e vê as luzes , casa o olhar com um outro bem-vindo

Namora o colo e o joelho feio
Embala uma brisa de noite laranja, desmancha
Desfaz o corpo que paralisa em conselho um sinal
Não existe o amor, só o prazer próprio não é devaneio
Inala, perfaz, decola, quero o silêncio feliz do meu final

6 de setembro de 2010

Black Alien

Quem entra já sabe: Justiça nossa, quem alimenta o hilário é a gasolina. Ta na porta. Numa placa e as letras formadas por lâmpadas vermelhas. Por lá, pena é mais um acessório na fantasia de índia. De melindrosa. De pops e bis. De gostosa. Ou de gostoso.

Na janela o vidro é fumê e esconde tudo, mas quando alguém sai dá pra ver o clima de baile de carnaval. Se você tem convite, não se sinta prestigiado. É só um favor. Um preview do cabaré de gatas preguiçosas. O show nunca é para os que querem. Elas são ambiciosas. Talvez para os que imploram. São piedosas. Para os que as dominam, perigosas.

Corra enquanto há tempo ou não resistirá ao barulho metálico, que vem de gargalhadas estridentes também. E quando entrar, o clima é outro. Diferente do que se supôs, pois quem comanda o lugar é poderosa. Não tem só o lote e uma boa ideia; dá aula. Dá dica, conduz o estado de espírito pelo caminho que todas percorrem. A semelhança é um laboratório de casos de amor sem sucesso. E as vitórias elas comemoram com música alta, olhares sujos e cantadas deslavadas.

Você vai se surpreender no meio do clip de Wannabe, sem falas, de beijos roubados sem reação. Se for moleque a gente te deixa em casa. Mandando bem, ainda existe drive-in no Rio de 2010. Só não tira a chave da ignição que o circo acaba. Elas vão saltar no meio da estrada escondendo o espartilho num vestido tão florido quanto a ilusão. Se embrenhar no mato sem fim até cair de amor. Se entregar até achar um chaveiro de soluções modeletes no bolso de trás da calça jeans. Com cuidado pega-se a própria chave e sorri de carona. Depois larga na primeira esquina.

Arma o circo de novo. As meninas ajudam a cobrir olheiras. Ensaiam algo mais desinibido que um balançar de cabeças. Recebem mais príncipes que preferem ser tratados como sapos. É o que sabem fazer de melhor.

...

Ta virando tendência título iningrish.

30 de agosto de 2010

Verão de um ano

Introdução

A paixão cria seis páginas de Word quando impossível. Anuncia uma obra de sete volumes se não correspondida.

Capítulo 1 – Ele

É um personagem à quem eu dei muitos nomes. De Fausto a Peixoto e nunca o verdadeiro. Os dias são longos em sua companhia e o sorriso é uma brecha que eu quero penetrar. Cria um portal da maravilha, uma vitrine dos meus maiores heróis; eu te travesti de cada um deles. De palhaço e guitarrista, jogador de futebol, menino dourado e do Rio e de mim. Até o fantasma da groselha – pra eu fingir que amor dá pra ser correspondido.

Ele começou pela metade. De tamanho e de personalidade. Um menino franzino, meio sujo. Eu inventei a beira de uma praia pra ele morar. Mas seu caso era com a biblioteca, pra onde ele ia todo dia ficar olhando as voltas que dava um ventilador velho. Num giro despencou do céu um caderno e uma garota.
Capa dura e ela no rodapé. Ele com preguiça de ler. Deu uma olhada nas piadas, pegou pra amiga, pra passar o tempo, enquanto o ventilador velho não expulsava calor nenhum. Quando o menino ficou muito apaixonante eu resolvi que iríamos pro fim do mundo.

Lá ele era saudade. Tinha uma placa numa esquina me lembrando tudo que a gente podia ter vivido. Deu vontade de mandar uma mensagem fingindo que eu tava perdida, perguntando onde ele estava. O carro virou de novo e eu fugi de lá. Transformei ele em palavra e inspiração; depois em fantasia. Que eu guardei no armário durante as férias e serviu direitinho no carnaval. Virou uniforme. Dava vontade de usar até nos finais de semana.

Ficou apaixonante de novo. Dessa vez eu fiz segredo e tranquei a sete chaves – cada uma num teor alcoólico diferente. Quando veio a bebedeira nós escrevemos um novo personagem. De blusa rosa, lencinho e óculos escuros. Num dos meus versos eu gritei assim Não some da minha vida não. Que o sol parece que bronzeia mais fresco quando o seu olho de penumbra ri de mim.” De olheira, de tempo misterioso, de coleira.

Eu escrevi um herói importante pra eu namorar no teatro e coloquei nele todas as suas características. Com explicações extensas e pintas exatas. Me esnobando, me provocando, me desmentindo, me confundindo. Eu batia nele todo dia. Ainda mais quando falava baixinho no meu ouvido que sabia que era louca por ele. Tava confusa com a quantidade de caras que queria.

E a sua cara que me confundia. Nela tinha só você e um sentimento bonito. Um dragão de fogo, que nem tatuagem. O inferno do fim do mundo quando a gente briga. Uma constante de ir e vir, de caras e pintas. Pra no final ele ser verão. Um calorão de te querer e não.

23 de julho de 2010

Avoiding repetition

A sequência de espirros sempre foi um aviso para Kimberly. Sobre os momentos em que tudo faz sentido, um arranjo do destino para que finalmente todos os pontos possam ser interligados, ela nunca teve dúvida de que isso aconteceria pois estava escrito. Kimberly acabava de comprar pizza quando, esperando o sinal fechar, se viu no meio da história de sua mocinha favorita. Quis ajeitar o cabelo para seu narrador-onisciente e esperava o momento em que ele expressaria toda a agonia que aquela revelação representava.

Nada se fez. Enquanto esperava o bonequinho verde figurar do outro lado da rua nenhum mocinho de espreita, nenhum nariz de palhaço, nada de folhas de fichário, nem bola de clóvis. Um vento. Como aquele e ela pôde atravessar finalmente. Ficou esperando sua carona do outro lado com uma pizza e uma sacola na mão. Sem ter como fazer sinal para o Yugo prestes a capturá-la dentro da sua imaginação. A mentira não era só dela.

A verdade era que lá estava uma garota de dezenove acompanhando o formato das pedras portuguesas com os pés. Olhando para sua cópia barata de all star, descobrindo um novo sinal no tornozelo e pulou um espião quando o outro sinal fechou. Ele disfarçou rápido. Kimberly virou, umedeceu os lábios e ficou olhando de espreita. Quando seu olhar já não tinha ângulo para o disfarce virou novamente. O espião sumiu na esquina deixando o bonequinho verde atravessando do outro lado.

Tudo teve razão mais uma vez. A lua branca no céu estrelado lembrava que além da água, existem outras formas de comunicação. A mesma via de duas mãos num outro tempo-espaço tem outro significado. Por ela o bonequinho podia estar carregando um lap top na mão quando estivesse vermelho, a poesia teria até mais sentido. E o vento em definitivo acelerava seu pensamento, enquanto ela ponderava em minutos suas histórias de amor.

Passou uma moto fazendo barulho que deu susto. Mais uma outra realidade. Mais uma personagem dela mesma, com nome de power ranger, levando comida pra casa. Tinha uma menina sentada na beira da rua que olhou pra Kimberly. Disputavam o título da Dona da Verdade quando chegou um cara com um troféu na mão explicando que o destino é uma sabedoria. Ele era um sábio muito atraente, com uma gargalhada sacana e tinha o troféu na mão pois sabia como convencê-las a obtê-lo. - ambiguidade proposital -

6 de julho de 2010

Sabotage girl

Assim que o amor entrou no meio o meio virou amor.

Simples assim.

You wanna know something ms Josephine Potter? I think the world may just surprise you yet. Are you fell in love and doesn't work out? You think it'll never happen again, but it does. Believe me, it does. In the strangest places.

...

Não sei se transcrevi i-p-s-i-l-í-t-e-r-i. É a febre que bate às vezes.

25 de junho de 2010

Sobre um grilo

Espero que alguém tenha sentido falta - carente, como sempre


...

Cri cri
E eu não to zuando
É que nos meus raros silêncios
Tem um canto me alucinando

Dá pra falar pouquinho
Do barulho pro calor
Que só pode à um aquecer
Não, não, não deixa a chama, por favor
Morrer no amanhecer

Como falei é miudinho
Verde, que se camufla e cadê
Pousou na minha mão como um rabisco
No segundo seguinte eu to contando o que ninguém vê
E ele cantando, meu coração a bater
Num canto baixinho
Um tanto curtinho
Que até cabe no versinho
Cri cri

(intertextual)

Sei que o mundo pesa muitos quilos
Não me leve à mal se eu lhe pedir para cortar os grilos
Guardar os grilos

Ai então você vai se convencer: que se o mundo pesa, não vai ser de reza que você vai viver

4 de junho de 2010

A questão é só de dar, a questão é só de dor

Ta, vai dormir. Fecha os olhos (tem gente que dorme com eles abertos). Deixa as vozes e as imagens do seriado favorito se misturarem com as do seu inconsciente. Percebe como os cílios enlaçam essa mistura, parece um processador. Agora dorme.

Vejo uma nuca e uma mão.

Acorda. Lembra de uma aula de Gramática, de Cinema, de Vida, do que for. Chega às pressas, procura os amigos pra sentar perto. Vê uma nuca, uma mão e uma boca. Roendo unha - ignora a porqueira, ignora tudo. Senta atrás. Enquanto um monte de gente famosa canta e encanta, seu olhar passa uma cantada deslavada no encanto da mão na nuca, da mão na boca.

Fecha os olhos. Ouve que há sempre um novo amor a cada novo amanhecer. Lembra da boca que hipnotiza e abre um olho. Fecha em seguida, porque a nuca percebeu e se contorceu. Parece até que você piscou. Que a nuca ignorou ou se assustou. Abre os olhos, que tem que prestar atenção na aula.

Tenta resistir aos charmes da boca, porque a mão e a nuca estavam quietas. Essa boca é simples, mas incorrigível, tentadora. Presta atenção na aula!

Intervalo. Quando desce a escada quem ta lá embaixo? Te encarando? A boca.

Sorri um sorriso desmerecedor daquela boca e fala. Como uma bailarina fantasiada do avesso, dançando sem harmonia, mas com a mesma forma suave a bailar. Lá está a boca linda a sorrir do avesso, falar sem harmonia, mas com a mesma forma suave a bailar. Quem resiste?

Volta pra cama. Liga a TV pra dormir. Bora sono! Processa aquela boca na minha... mente.



9 de maio de 2010

Bom jungamento

Bom Jungamento - pra quem entende*


A casa sete lá da vila está pra vender há dois anos e só ontem apareceu uma menina por lá. Pediu pra ver os cômodos, disse que talvez fizesse uma proposta, mas se entregou ao deixar cair do bolso o emblema da escola. Mesmo assim eu a deixei entrar.


Passamos pela grade cercada de heras e a estudante logo me conduziu a porta de madeira trabalhada. Foi me contando que morava na rua de trás, que queria mesmo era mudar de bairro, mas que aquela casa era inteirinha como a que aparecia no seu filme favorito.

Ela girava com os dedos apoiados no ar, tentando mudar alguns detalhes da arquitetura mentalmente. Eu me percebi no enquadramento de suas mãos como outro personagem daquele episódio. Lembrei-me das plantas que cansei de desenhar nas aulas de geometria, ilustrando meu futuro lar-doce-lar.


Pouco importa meu endereço atual. Soube naquele momento, como cada canto do meu lugar parece com o cenário desse meu filme. Ele passou rapidinho na minha cabeça como "sessão da tarde". Depois eu vizualizei o mapa do caminho, como um rascunho que fiz questão de rabiscar. E quase entreguei a chave pra ela.


*e pra perder o medo também.

30 de abril de 2010

Abre a cortina.

Sabe, eu estou amando. Estou tão enfeitiçada que as piores preocupações são agora as maiores piadas. Eu vou te seguindo, insana, com o brilho no olhar que me é peculiar, que pra ti fica tão visível. Deixando pra trás a minha vida, pra no próximo passo ser a nossa vida.

Melhor, você me ama também. Não fugimos desse sentimento-catástrofe, nem deixamos de ter medo. Quando em ti, sou maior. Quando em mim, sou só sua. E no estalo dos nossos toques eu me confronto, descubro quem sou, do que gosto. Passam rápido os nossos beijos, voam as nossas noites de amor.

Como ontem. Despertei ofegante sem estar mesmo adormecida. A minha transpiração fazia jus a entrega, ao destempero do drama entre dois amantes. Olhei pro teto enquanto descansávamos um do outro e vi os refletores apagados. Comecei a perceber novamente os sons da rua, a chuva de mansinho, minha panturrilha dormente.

Depois tu me tomas de novo, como sempre. Te direi logo que já pensei muitas vezes em lhe deixar, procurar uns meninos. Mas eu sei que a melhor coisa da vida é o tempo que espero calada pra entrar em cena. Pra nos encontrarmos.

Só você me repara, só você me educa, me enlouquece, me agoniza, me maltrata, me faz viva. Depois, todo mundo aplaude. E a gente se ama de novo, Teatro.
* eu não revelaria mesmo os meus amantes. até porque são só amantes

16 de abril de 2010

Amo e amo



Entenda que eu te darei outro sintoma:
Quando você se faz em dois
Um que esqueceu o limite entre a sanidade e a loucura
E pula de um lado pro outro
Divergindo em maiores alegrias e piores dores
Querendo acreditar que aquele é seu maior amor do momento

Pior que é

Outro que é menos você, justamente porque tem razão;
Mas que é cúmplice daquele que ama
Te proíbe de falar o que pensa
Nem te deixa olhar que nem bobo quando o seu benzinho fala sem parar
Quer apagar o vermelho das tuas bochechas
Conter os corpos que se querem feito um grito

Só o coração sente
Tentando falar em dupla, precisando falar de pressa

11 de abril de 2010

Cameu , Proseu e a pedra



Proseu e Cameu eram inseparáveis desde meninos. Estudavam juntos, tocavam juntos e aproveitavam o resto da semana juntos também. Como no primeiro sábado do mês, quando acordavam cedinho pra ir explorar o bosque atrás da vila onde Proseu morava.

Lá era uma imensidão. Tinha riacho e cachoeira, lagarto, cobra, limo nas pedras, uns jardins de flores bonitas misturados com umas árvores altas, com casa de marimbondo lá no topo. Tinha vez que eles só tomavam banho de rio. Aos sete anos, quando começaram a fugir pra lá, passavam dias catando gravetos pra construir uma casa da árvore. Nunca conseguiram terminá-la, daí o abrigo ficava sendo uma figueira que tinha bem no meio do caminho.

Quando fizeram nove anos sumiram por uns meses, a grama ficou alta. Depois voltaram com dez trazendo inspirações como a Ilha Perdida e o poster do Dennis. Com doze a diversão era a coleção de Playboys do primo do Cameu; o Proseu levou a foto da Ritinha também, de calcinha e sutiã, no vestiário da escola. A Ritinha (sua foto, melhor dizendo) podia ser dividida entre eles; assim como as fitas de 64 e o chapéu de "aventureiro". A dupla não discutia por muita coisa.

Até um dia que Cameu foi dar uma volta pelo bosque sozinho. Tinha perdido um desenho que ia transformar em tela; caiu no vaso sanitário por acidente. Ele foi direto pro forte, tirar o baú deles do fundo da árvore, dar uma olhada nas modelos antigas, nas cartas de Trunfo da fórmula 1. Achou o bodoque velho - que serviu de explicação pra música do Chico numa aula de Literatura da oitava série - e resolveu catar pedrinhas.

Perto da menor queda d'água ficavam as pedras mais bonitas. Algumas preciosas certamente. Uma verde irritava seus olhos, quase que brincava com a luz do sol. Ele catou essa pequenininha e enfiou no bolso. Mostrou pra Proseu no dia seguinte, que disse que era uma crisólita. O pai dele era geógrafo e tinha um livro com uma foto imensa desse pedra rara. Eles decidiram guardá-la no baú.

Cameu viu Proseu carregando-a um dia no pescoço, por dentro da blusa. Concordou que era mais seguro e que até combinava com o estilo do amigo. Ficou sonhando com a pedra e pediu pra desenhar depois de umas duas semanas. Criou diversas jóias: um anel, um colar e uma tornozeleira; cada uma mais bonita que a outra. Mas a pedra era melhor ainda bruta. Cabia perfeita entre os ossinhos do dedo médio e o fura-olho, como não cabia nos de mais ninguém.

Cameu tinha um ciúme infinito da crisólita, até com Proseu. Tinham decidido partí-la ao meio, mas logo desistiram da idéia. Ela virou o passatempo de um e o talismã de outro. Um queria, outro necessitava. Era de um e pra outro. E eles eram amigos. Amigos como eles não brigam, não entram em questão. Guardam o verde infinito pros sonhos mais íntimos. Decidem que não possuir é melhor pro amor.

...

Torcemos para que Proseu tenha encontrado uma água marinha tempos depois. E Cameu carregue crisólita pura entre seus ossinhos. Amor por amor, melhor não se desfazer da amizade * nem deixar um friozinho na barriga passar.

6 de abril de 2010

Ciência, política e amor

10 de novembro de 2009


A costa leste em um harmônico breu. Outros podem ter optado por uma interpretação mais pessimista daquele BO, mas eu estava bem de calça jeans, pizza e carona. Bem com os que resolveram bem sumir, bem mal fazer às lembranças de um tempo como o melhor. O filme do passado parece mais palpável do que isso que estamos tentando gravar. Esse ensaio de uma complicação interna difusa calçada em birrinhas de amigos eternos.



Vou então me apoiar na memória. De uma terça de Domino's no Humaitá com uma galera meio doida que te faz feliz sem querer. Foi quando tudo apagou e além dos blacberryS multicoloridos sobravam pontos de luzes (nem néon, nem quimicamente instáveis) aguardando pacientemente um novo Big Ben.




O fim do mundo era uma fantasia gostosa de embarcar que correu veloz pela Epitácio Pessoa. Os cinco/quatro sobreviventes tentavam capturar imagens entre o preto e o cinza de uma noite muito quente e sem chuva. Depois nós varamos a noite conversando. Depois estávamos eu e um parceiro comendo besteira num posto de gasolina, esperando o túnel ficar seguro de passar. Dentro do Rebouças eu avistei o outro lado de um espaço psicológico; deu uma vontade infinita de fazer o tempo parar.


05 de abril de 2010

A janela do ônibus pintava umas coisas bonitas de ver. Uma cachoeira translúcida, um pinguço sem camisa no meio da Jardim Botânico nadando contra a lucidez, o braço esquerdo do Cristo borrado. E de fora, agente sabia que dava pra ver um grupo de jovens que transformava a maior enchente dos últimos anos, numa máquina de fazer o tempo passar rápido.



Notícias sobre um carro alagado. Mais tarde o panorama do purgatório do caos. Enfim, a condenação superficial, e nem por isso injusta, de um bando de babacas. Os que nada fazem, os que fazem errado, os que não votam, os que votam errado, os que reclamam e os que ficam calados. A solução persevera no reclamar, votar e fazer, por saber que o nosso Redentor não cruza os braços.


?

A tela que pintei contava uma história de amor. A menina nuinha aos trancos e barrancos; em pingos; no ar, querendo te arrancar a razão. O moço se derretendo, se contorcendo, tentando ficar empezinho. Um vivo pelo outro, pois se tinha chuva e temporal, todas as casas iam correndo acender suas velas.


Numa mistura de percepções eu te enxergava perfeito. Cada detalhe bagunçando a tradução dos meus sentimentos. Olhava pra água correndo no meio-fio e era assim como eu passando irredutível ao nosso redor. Rompiam-se todas as barreiras, se tinha jeito pra tudo.


Uma brisa forte entrou pela janela. Todo mundo percebeu, todo mundo se arrepiou. Quem veio com o vento foi a água, sem pedir licença, tomando tudo. E com a volubilidade que lhe é peculiar criou um balé fantástico ao redor da chama. A vizinhança toda iluminada. Todo mundo brindando a tempestade, de frio e calor, de água e fogo, de amor.

27 de março de 2010

Usa óculos escuros - mais uma interpretação

Requisito: que meus amigos parem com a preguiça e leiam um singelo poema de quatro estrofes! Só quatro estrofes!


Quem não tem colírio
soca o travesseiro,
se vira do avesso.
- Não dorme de novo!
Não tem recomeço!

Quem não vê o empecilho
é porque vai dormir.
#Inventa um celeiro
naquele mesmo endereço.
Mente pra mim se eu sorrir;
diz que é fim sem eu pedir.
Cala o consenso que eu emudeço.

Beija-me mais, não me desvencilho
nem você se descompromete.
Já sou tua - na tua voz que repete#
E lá na rua ta você possuído
jurando pra ela um amor falido
diferente do nosso por alavancar.

Ceguei teu pavor com um delírio.
Olho pro preto numa máscara de sonho
Será o sentimento do qual eu disponho?
Põe os escuros e me dê um colírio
Talvez eu enxergue o que é
Delirando em ser tua mulher
Percebendo o que você não quer

(ou eu não quero)

18 de março de 2010

O texto e eu. E meu amante: o filme.

Descobri que a descendência do hipertexto é o cotidiano de uma geração plugada. Eu ia falar que estamos todos na mesma vibe, mas isso só é consequência do modo on no qual vivemos. Novamente peço que não levem em conta a prepotência desta que vos esclarece as coisas. Entremos numa onda de que só a nossa geração mesmo viveu essa vibe até agora. Meu palpite é o de que nossos avós se reprimiram, nossos pais piraram e nós fingimos que estamos doidos depois de dois goles de Ice. Eis uma palpitáfora.
Mas hoje só eu vi um filme que tinha tudo a ver com uma crônica que só eu li que refletem essa vidinha que só eu vivo. Não foi apenas meu coração

- um dia eu assiti um filme indicado por um amigo e tive a sensação, no decorrer das cenas, que meus batimentos funcionavam de acordo com a velocidade de rpm do dvd; eu penso até hoje assim -

Não foi apenas meu coração que acelerou daquele jeito que nem nos filmes que agente quer entrar. Foi que o o mocinho é o Tom Hanks indie e desacelerado como a gente gosta. A mocinha é o parceiro cheia de opinião pela qual nós esperamos que eles fiquem encantados. Foram os inúmeros diálogos. O para-brisa limpando a marca de batom no vidro do carro [como as caixas de tic-tac caindo do correio]. Foram as boa referências musicais. New York. Talvez até o final feliz.

O estímulo interessante causado por breves minutos de êxtase me fez pensar sobre o adeus. Dizem que tudo começa quando conhecemos um alguém, como aquele álguém com o qual a infinidade de palavras beira a preocupação abismal de que nada pode dar errado. O vocábulo oi é o então adeus. Buscamos nada mais que a superação da barreira. Ou do absimo. 

A pessoas que está diante de nós, se também interessada, se desfalece. Renasce em quem ela é. Nos encantamos duplamente: pelo ausente que se faz presente, como pelo passado que se faz ausente. Trair o que primeiro sentimos, para poder sentir o que verdadeiramente somos. Ou continuar conquistando mais, se envolvendo menos.

Lá está um primeiro beijo de adeus. Graças a Deus. Querer iludir o público dizendo que essa segunda pessoa é uma dádiva é uma besteira. E uma possibilidade. Mas aí eu fico com vontade de viver isso. Que é só um filme. 

Lá estão os perfis do gênero da gente (ok, pode ser que ninguém concorde comigo). Uma mulher deitada em coma achando que vive. A outra que desliga a televisão quando depois de zapear os canais encontra um filme só seu. Nada de infinito e eutanásia. O lance é buscar essa noite de amor e música. Buscar pra valer.


3 de março de 2010

Vem me exorcisa



Escrito em 25/02/2010 às 00:40.


...



Conheça uma menina que nasceu há exatos 19 anos. Não posso me dedicar a contar o início de sua vida, já que tenho estado de consciência presente de uns quatorze anos pra cá. Não houveram grandes mudanças no mundo, nem ela, nem dela. Ou só no dela. Ontem ela subia a única ladeira doce de sempre, que a conduz ao palácio de eras no meio do seu nada. Em 2010 ela subiu ouvindo sua música.


Não podemos dizer ao certo se Jobim compôs o nome composto ou o singular primeiro, mas certamente conheceu uma Luiza para querer galgar a muralha até a Anna Luiza (vou colocar a grafia na minha mesmo). E quem a foi de alimentar sonhos infantis de que suas conversas com a Lua eram mesmo de verdade. Faz duas semanas que o pai a pegou deitada no quintal olhando o céu estrelado do Rio, eu percebi que ela cantava uma ciranda, que é chegada em milagre. Que milagre algum chegou, nem trovador.


Por isso ela é Anna também. Tem alguma inteligibilidade ininteligível fruto de pura fé que a fez construir os vales, os mares, os montes, as flores, as fontes. Teu mundo é cercado assim, de espécies simples, do que só se vence pelo esforço, por nada mais.


Olha a menina lá no meio, no meio de um banheiro. Com uma máquina de escrever de última geração, balançando os dedinhos, soltando a música, calando a música, sendo quem é, quem acha que é, quem gosta de ser. Refletindo olhando o seu reflexo no vidro do blindex. Apagando a última frase que vocês não descobrirão. Delatando a última gota de insegurança dessa porção. Ela pensa até em voltar a jogar Freecell.


Nem venha me perguntar o porquê. Dela se cercar de artifícios fáceis, dela cuidar do que não sabe ser, dela velar o que já é mistério. É justo que ela seja o maior deles. Se não entendes teu valor escreva um texto inteiro sobre o que pensa ser.


Olhando uma foto dessas novas e sem vida; dessas sem papel; sem toque e cheiro; ela se viu. Jogada na cama, de bruços, com o rosto em evidência, os dentes entrecortados, a boca semi-aberta, um sorriso evidente da meia-cova do lado esquerdo, o cabelo preso torto e os pés a mostra do lado direito, um coçando o outro. Além do texto, a foto também é resultado de pura vaidade. E o fundo é a prova de tudo isso que eu guardei somente pra te dar Luiza.


A redoma sem proteção da primavera em si. Não é toa que a escolheu sem a conhercer sabiamente como sua estação favorita. E o olhar... Ah o olhar... Na Maravilhosa que tem lago, serra e mar. Nele a alteração da cor varia de acordo com o humor.


Ela é mesmo uma muralha de baixa estatura. Ela não é dócil, ela só adocica a vida. E há quem resista a todo encanto. São esses os que já se cansaram no meio do caminho.


- Mas minha mãe ta lá ó!


- Pensou que a filha fosse chorar no primeiro dia de aula e ela só deu tchal.


- Tão meu irmão, os outros zeladores, as crianças, uma feiticeira que me ensina o que fazer do mundo.

A Luiza só se cercou porque não achou o trovador. No entanto eu já a vejo, criando uma cena, fingindo-se de bicho-grilo, cantando que ela brinca de amor.

E cuidado, que todo mundo acreditou!

22 de fevereiro de 2010

Sugerindo para acalentar

O carnaval acabou...

Fica uma música para repor as energias positivas para o ano que vem. Dou meu trecho favorito:

'Só desejava o amor dos homens pra bem amar'

11 de fevereiro de 2010

Pobre coelho vermelho

Esta é a história de um coelhinho no mundo sozinho. Um coelho vermelho que nem o verão, que nem é ficção. De olhos verdes reflexo da água de uma praia distante, lembrando semanas antes, quando saiu da cartola.

Ora, ora. O mágico anda fugido. É um vigarista, um bandido. Quem dera o coelho soubesse falar, mas só poucamente consegue levitar. Foi o que sobrou do feitiço sobre ele lançado, e ele ainda está bastante enfeitiçado, sentindo saudade das mãos do mágico em suas orelhas, quando viu o mundo viu primeiro suas sobrancelhas.

Cabeludas. Vestia camisas engraçadas e bonitas bermudas. Para engraçar-se mais tinha até um brinco, era um esquisito com cabelo pinto. 'Esse maluco só dá mesmo pra farçante, pra aprendiz de feiticeiro. Me transformou em um instante e no outro correu ligeiro.'

Durante a noite até que o pobre coelho foi bem tratado: entre os cumprimentos da platéia por seu feitor era carinhosamente acariciado. Depois de repensar os fatos, percebeu como foi feito de troféu. Pois recebeu notícias do paradeiro daquele antigo chapéu.

No escuro de um cantinho o coelho ainda nem se via vermelhinho. Agora não entendia a estranheza da sua cor. Nos versos da feitiçaria falada a proeza do domador. Palavras oblíquas sobre a Rita Lee, cantou uma música e aí... Cantou outras dez e se foi.

O animal cansou de esperar um outro oi. Leu no jornal que o mágico é letrista. Que adora dar pinta de artista... Em seu novo horizonte não fugiu destes mamíferos como àquele, encontrou uma coelhinha da playboy pra ser só dele. E o pobre fruto proibido da mágica descabida, que achou que ele era herói, disse que de João e Maria ele não chega a ser nem caubói.

Ah sim! O porquê dele ser todo rubro. Enfim, além do sol que fazia e do pêlo salobro, a conciência de que foi fantasia, foi como um sopro. A raiva, a agonia que agita, o ciúme que grita. E ele é só um coelho.

Querendo parar de levitar ele se fantasiou, porque no carnaval qualquer delírio não o é. Imita o sotaque das oblíquas palavras bandidas, se despede do resto de lembranças com bebida, tenta encontrar em vão uma cartola que é: igual ou como aquele boné.

Condição ausente

Soca o monitor
Todo o mundo é uma máquina
Engano não é
que a tela é colorida
Se enxergo em fonte bicolor
sem parafuso de vida

Abraça o monitor
Fala sem resposta
Aguarda um recomeço
um inexistente recomeço
Se o desencaixe é um assunto
a conversa é uma bosta
a interação é um tropeço

Ajoelha em frente ao monitor
solicite seu regresso
Deixa vazar o óleo humano
De entendimento da imperfeição
Ninguém é uma máquina
Percebe a beleza do engano;
não tem culpa nem o coração

(salve salve geração msn)

5 de fevereiro de 2010

Lendo meus textos? Veja meu filme!

Salve salve ... MINUTOS ANTES DE VOCE


http://www.youtube.com/watch?v=svfpnRnqDcQ

4 de fevereiro de 2010

Caio na rede

O rádio me aconselha “nenhum aquário é maior do que o mar”. Pois meus pensamentos viajam num mar de aquário celebrando os aniversariantes do por agora. É bem deles essa frase, que ensina a grandiosidade de um mundo que se quer descobrir, que se deixa molhar os pés e deita na areia olhando o céu imenso pra descobrir como somos ínfimos. É bem de um deles, de um compositor que adoro.

Deles posso falar com experiência. Tenho um legítimo de terceiro decanato em casa. Escolhia suas roupas, botava sua comida, preparava a nebulização, brigava quando ele tentava copiar as besteiras que o papai sempre fez; era difícil controlar as duas crianças em nossas viagens. No tempo das vacas gordas, quando ele resolvia gastar o vale que mamãe dava para a semana inteira distribuindo lanches para todos, eu era chamada. E todos tinham medo de mim. Mas ninguém se metia com ele. Porque lá estava eu. O peixe mais protegia o aquário que ele a mim.

Mais tarde fui expulsa do seu mundinho, como acontecem a todos os irmãos, antes de se necessitarem eternamente. Como hoje nos necessitamos eternamente. Nesse meio tempo conheci o mar. E ele abrigou outras águas, percebeu como poderia ser suficiente sem a minha presença. Hoje ta grande, ta trabalhando, ta saindo sozinho, ta invertendo as previsões de que quem sairia de casa primeiro seria eu.

Apesar do vazio que a lembrança preenche, digo da sensação de abrigo que eu era, fico feliz com o jovem aquariano que temos casa. Percebo finalmente como a humildade e a generosidade me foi ensinada por ele. Vai lá que ele quer usar uma capa de super-herói e se ver servidor público no futuro, mas pra mim ele será sempre o menino que esbanjava em comida na hora do recreio. Para ele não sei bem o que sou, talvez a irmã mais velha que senta no sofá trazendo uma panela de brigadeiro para assistirmos um besteirol americano nada inédito.

Ele puxa meus pés pro chão. Me mostra como ser terreno é divertido também, como é real, como é sensível e até possível. No fundo eu sou somente isso e não devemos nada um ao outro. Para mim finalmente não há nenhuma sede de autoritarismo, fico com a vontade de voltar para o meu lugar no sofá, com uma das colheres que enfio na panela, sem filosofar demais as gargalhadas que damos sem perceber. Tudo muito ao natural.

Impressiona a diferença radical entre a semântica do signo empregado para o signo – e essa só os mais inteligentes do zodíaco compreendem. Na verdade o aquário aprisiona menos que o mar, pois com ele pode-se passear por outros estados do mundo sem perder a vida. Enquanto estive no mar via muitos peixes caindo na rede, poucos aquários perdidos por lá. Ainda dizem que são os piscianos os mais sábios...

- Como? Se jogando na rede por diversão? Permanecendo lá em busca da aventura?

Os aquarianos não jogam redes e se deixam buscar ao natural.

Quero que as águas corram que eu vou junto.

No mar estamos os dois: peixes e aquário. Um nadando acelerado, contra a corrente e a favor. Outro boiando, observando o mar, observando a costa. Um acreditando que dentro do mar tem a liberdade de ir para onde quiser, com pena do outro que vive a boiar. Não sabe que aquário também pode afundar e viajar no mar. Só o aquário entende que na verdade os dois ocupam o mesmo lugar.

Parabéns aos aniversariantes!

25 de janeiro de 2010

Versim

Vão ser dois passos e virada curva
Eu já me meti num caminho desses
Já medicada não faço besteira
O doutor de zueira me escapa por vezes
Mas tonta perco a direção na estrada turva

Vão ser dois passos e virada curva
Seu canto de boca não é mais surpresa
Estou a deslizar minhas mãos
Num toque de boba menina indefesa
A curva é de lembrar em ilusão
A mão é minha, uma quase viúva

Vão ser dois passos e virada curva
Devo nem devo virar
Viro a mão-fantasma na cintura de esquerda
A direita que finge endireitar
E tenta encaixar, só vai caçoar
Giro já pasma pra aventura que é perda

Vão ser dois passos, dessa vez eu sigo
... foram breves instantes de Chico
: Nem o Destino vai te dividir!
Ai, hoje as tardes foram um perigo
Lembrei do menino que eu quero seguir

Vão ser dois passos, eu não decidi
Parada de olhos fechados e de toque nos lábios
Enganchada, que sábios não ficam de olhos fechados
Se fosse mentira eu chamava guri
Se é que suspira não é no Chuí
Não vou revelar que eu já decidi

Passaram dois passos que eu passei
Digamos ainda que ainda não sei
Vão ser dois passos e virada curva
Breves passados caem como luva
Na mão viúva de quem quer sentir
Estou esperando quero que saiba
Talvez ainda caiba que fui sem querer partir

23 de janeiro de 2010

O menos mais óbvio

Há de entender como são um espetáculo único - Quando o moço me disse eu nem sóbrio estava. Nem ele era moço. Nem eu era quem sou.

Sou perceptor de encontro de luzes e são poucos os que nascem com esse privilégio. Soube disso tudo numa conversa de bar com o velho Profeta. Esse era seu nome mesmo. Me contou alucinações das quais eu ria interminavelmente e ele nem se incomodava. Sabia como era essa vida. Ele é como eu.

Nos dias seguintes eu fui percebendo como isso toma conta de mim. Nosso grupo é um segredo e estamos em toda parte do mundo. A parte boa, é que isso que nos segregaciona parece mentira, e ninguém acredita. Por isso vou lhes contar minha história. Pra vocês contarem aos seus filhos, aos seus netos.

Meu batente não tem suor, mas nesses últimos dias o verão não perdoa nem os mais pacatos. Encontrei uns colegas baianos na Lapa semana passada e eles me disseram que depois da divulgação acerca das olimpíadas de 2016, o litoral fluminense tem sido uma zona próspera para a realização de nossa atividade. Depois de dez anos de profissão você entende porque os cariocas são os mais aperfeiçoados perceptores de encontro de luzes.

Aqui no Rio as habilidades para a percepção são exploradas desde de muito cedo. Nós crescemos esperando a gema cozinhar pra entender porque assim somos chamados. Eu me lembro que passava horas olhando pra frigideira, vendo o calor que borra a minha visão, que camufla a sua profundidade. Mais tarde era igualzinho no Arpoador, depois que o sol se punha, o calor era o mesmo e as luzes do Vidigal ficavam igualmente borradas.

Depois eu entendi que as luzes artificias não se encontram. As luzes naturais, que só nós percebemos, sofrem uma transformação física antes da final comunhão. Elas se reparam, ficam borradas, ficam néon, no último estágio acabam se perdendo numa busca afoita uma pela outra, pra enfim se encontrarem. Quando se encontram se tornam uma esfera densa de luz forte, difícil de ficar muito tempo olhando, que nem o sol. Tenho pra mim que é por vergonha dos momentos mais calorosos que vivem então.

E sim, o calor é propício para a comunhão. Assim, nas férias, as fontes mais novinhas saem do ninho em busca dessa experiência. Meus colegas contaram que era muito prazeroso trabalhar observando esse encontro mais cru. Resolvi experimentar e rumei para uma cidadezinha aqui perto. Cheia de fontes. Cheia de gente. A cidade Frio mais cheia de calor.

Pude constatar que nem mesmo crus deixam de ser ardente. Na verdade, cientificamente, como a cidade tem poucas luzes artificiais o encontro é mais nítido. Na verdade, obviamente, como a cidade tem praia, sol e pouca roupa fica mais fácil de se encontrar. Na verdade, intuitivamente, como a cidade tem uma suposta contagem regressiva em si que quer se deixar aproveitar, nada mais evidente do que fazê-lo.

Dois casos peculiares aconteceram no mesmo dia. Dois pontos de luz carmim em sintonia diferente, mas que estavam sempre juntas. Ao encontro de dois pontos de luz azúli em quase mesma sintonia, que nem muito se viam. Eram, em suas respectivas cores, da mesma região. E embalados por dó, ré, mi e fá se encantaram uns pelos outros. Azúli por Carmim, Carmim por Azúli.

O que há de bem peculiar é que, mesmo com toda a coincidência e diferença nítida entre Carmim e Carmim, e Azúli e Azúli, em comunhão eram como um. E o processo biofísico foi acelerado e modificado. Assim, depois do reconhecimento químico, os pontos ficaram logo borrados, muito tempo no estágio néon (já em perfeita ligação), novamente muito tempo perdidos querendo se encontrar, pra experiência ter sucesso. Ficou muito difícil observar depois da comunhão.

Trabalho cumprido. Eu fiz as malas. Pois vocês acreditam que depois da comunhão as fontes, todas quatro, voltaram para sua região em tempos diferentes? Eu esqueci de dizer que o encontro é uma tarefa que pode ser desfeita. Desfazendo uma das mais trabalhosas e maravilhosas realizações.

Dizem uns amigos meus que um mesmo encontro pode acontecer mais de uma vez, ou até mais vezes. E que é bem bonito. Mas eu tenho pouca experiência nessa área. Como adoro o que faço, gosto de pensar que cada encontro é único e verdadeiro. Repito o que gosto de ler no blog dessa grande amiga, no qual agora posto essa passagem: os maiores sentimentos têm que durar bem pouco para serem eternos.


Aqui escreve um amigo, que já te observou.

4 de janeiro de 2010

Acredita?

Me responsabilizo por roubar de um amigo meu a melhor definição para a minha medida de fé.

"Não sei se acredito em tudo ou em nada"

Ainda estou nessa busca. Mas se existe uma fase Anna Luiza cheia de fé é o final do ano. Nado contra a maré do nascimento de Cristo (apesar de achar a comemoração cristã muito bem justificada) e resgato todas as possíveis e impossíveis superstições. E quando falo impossíveis, não é mero esquema textual.

Cá estou para expor meu parecer sobre a probabilidade disso tudo ser verdade. Preciso informá-los de que acredito de olhos fechados naquilo que todo mundo diz que é besteira e desconfio catucando aquilo que todo mundo segue sem questionar. Vai entender...

Começo meu ritual fim de ano não comprando presente pra ninguém (exceto os oportunos amigos ocultos). Nenhuma superstição, mas incrívelmente não consigo achar nada que me agrade nessa época do ano. Obviamente me sinto mais pecaminosa, em termos de delírios de consumo, com a chegada de janeiro e suas liquidações deliciosas.

Outra excessão de compra é a roupa da virada. Ora, nem essa foi excessão esse ano. Mas não devo mudar de assunto, afinal esse é um campo experimental de vasta experiência.

Quando passei de rosa, tive um excelente primeiro beijo. Quando a calcinnha era vermelha, tudo foi muito caloroso. Quando passei de laranja tive energia suficiente para aguentar o ano do vestibular. Nada como passar de azul e ter muito sucesso. Mas o insuperável branco...

Tinha me esquecido dele até o ano passado. Gosto de colorir tudo, mas nada como a paz. De espírito ou sei lá de quê. Passei a virada de 08 para 09 de branco, com uma fita amarela no cabelo. E foi muito difícil abandonar 2009...

Que ano repleto de paz. Não pensem que meus textos me contradizem, já que fiz esse ano algo que não tinha coragem de fazer e que recomendo: se expor. A exposição é tão pacificadora! Se livrar das armas internas não é instigar ninguém, não é chamar pra briga, é só sinal de redenção. O ser humando é que encucou e temeu e desconfiou daquilo o que é, claramente, um ato esperançoso de conciliação.

E isso tudo que acabo de dizer pelo caminho mais direto é um sinal.

Não passei de verde porque esperança é o que não me falta. Passei de branco, porque aprendi que é sempre muito bom. E de rosa... Com uma fita vermelha na cintura. E fiquei bolando mil suposições para as minhas superstições. De verdade o que vale é olhar pro céu em busca de um algo a mais. É o que eu sempre faço na virada.

Mas, existe uma simpatia EFICIENTÍSSIMA. Vale a pena eu dividí-las com vocês (no estilo mais Capricho / Atrevida / Gloss):

Sabe a calcinha rosa ou vermelha velhinha que você comprou pra virada? Usou pouco, nem usou ou vive usando? Não importa. Quer se livrar desse amor antigo? Quer um novo amor? Jogue-a fora no minuto que virar o ano!

Isso mesmo, vista-a para aquela festa de reveillon e durante a contagem regressiva tire-a e jogue no mar. Se você não estiver na praia, jogue em um rio (ou pela privada. Algum lugar com água). Mas tem que ter a desinibição de bancar o half-striptease! É tiro-e-queda!!

...

Acreditem, eu sou e não sou a pessoa mais crente do mundo.