25 de janeiro de 2010

Versim

Vão ser dois passos e virada curva
Eu já me meti num caminho desses
Já medicada não faço besteira
O doutor de zueira me escapa por vezes
Mas tonta perco a direção na estrada turva

Vão ser dois passos e virada curva
Seu canto de boca não é mais surpresa
Estou a deslizar minhas mãos
Num toque de boba menina indefesa
A curva é de lembrar em ilusão
A mão é minha, uma quase viúva

Vão ser dois passos e virada curva
Devo nem devo virar
Viro a mão-fantasma na cintura de esquerda
A direita que finge endireitar
E tenta encaixar, só vai caçoar
Giro já pasma pra aventura que é perda

Vão ser dois passos, dessa vez eu sigo
... foram breves instantes de Chico
: Nem o Destino vai te dividir!
Ai, hoje as tardes foram um perigo
Lembrei do menino que eu quero seguir

Vão ser dois passos, eu não decidi
Parada de olhos fechados e de toque nos lábios
Enganchada, que sábios não ficam de olhos fechados
Se fosse mentira eu chamava guri
Se é que suspira não é no Chuí
Não vou revelar que eu já decidi

Passaram dois passos que eu passei
Digamos ainda que ainda não sei
Vão ser dois passos e virada curva
Breves passados caem como luva
Na mão viúva de quem quer sentir
Estou esperando quero que saiba
Talvez ainda caiba que fui sem querer partir

23 de janeiro de 2010

O menos mais óbvio

Há de entender como são um espetáculo único - Quando o moço me disse eu nem sóbrio estava. Nem ele era moço. Nem eu era quem sou.

Sou perceptor de encontro de luzes e são poucos os que nascem com esse privilégio. Soube disso tudo numa conversa de bar com o velho Profeta. Esse era seu nome mesmo. Me contou alucinações das quais eu ria interminavelmente e ele nem se incomodava. Sabia como era essa vida. Ele é como eu.

Nos dias seguintes eu fui percebendo como isso toma conta de mim. Nosso grupo é um segredo e estamos em toda parte do mundo. A parte boa, é que isso que nos segregaciona parece mentira, e ninguém acredita. Por isso vou lhes contar minha história. Pra vocês contarem aos seus filhos, aos seus netos.

Meu batente não tem suor, mas nesses últimos dias o verão não perdoa nem os mais pacatos. Encontrei uns colegas baianos na Lapa semana passada e eles me disseram que depois da divulgação acerca das olimpíadas de 2016, o litoral fluminense tem sido uma zona próspera para a realização de nossa atividade. Depois de dez anos de profissão você entende porque os cariocas são os mais aperfeiçoados perceptores de encontro de luzes.

Aqui no Rio as habilidades para a percepção são exploradas desde de muito cedo. Nós crescemos esperando a gema cozinhar pra entender porque assim somos chamados. Eu me lembro que passava horas olhando pra frigideira, vendo o calor que borra a minha visão, que camufla a sua profundidade. Mais tarde era igualzinho no Arpoador, depois que o sol se punha, o calor era o mesmo e as luzes do Vidigal ficavam igualmente borradas.

Depois eu entendi que as luzes artificias não se encontram. As luzes naturais, que só nós percebemos, sofrem uma transformação física antes da final comunhão. Elas se reparam, ficam borradas, ficam néon, no último estágio acabam se perdendo numa busca afoita uma pela outra, pra enfim se encontrarem. Quando se encontram se tornam uma esfera densa de luz forte, difícil de ficar muito tempo olhando, que nem o sol. Tenho pra mim que é por vergonha dos momentos mais calorosos que vivem então.

E sim, o calor é propício para a comunhão. Assim, nas férias, as fontes mais novinhas saem do ninho em busca dessa experiência. Meus colegas contaram que era muito prazeroso trabalhar observando esse encontro mais cru. Resolvi experimentar e rumei para uma cidadezinha aqui perto. Cheia de fontes. Cheia de gente. A cidade Frio mais cheia de calor.

Pude constatar que nem mesmo crus deixam de ser ardente. Na verdade, cientificamente, como a cidade tem poucas luzes artificiais o encontro é mais nítido. Na verdade, obviamente, como a cidade tem praia, sol e pouca roupa fica mais fácil de se encontrar. Na verdade, intuitivamente, como a cidade tem uma suposta contagem regressiva em si que quer se deixar aproveitar, nada mais evidente do que fazê-lo.

Dois casos peculiares aconteceram no mesmo dia. Dois pontos de luz carmim em sintonia diferente, mas que estavam sempre juntas. Ao encontro de dois pontos de luz azúli em quase mesma sintonia, que nem muito se viam. Eram, em suas respectivas cores, da mesma região. E embalados por dó, ré, mi e fá se encantaram uns pelos outros. Azúli por Carmim, Carmim por Azúli.

O que há de bem peculiar é que, mesmo com toda a coincidência e diferença nítida entre Carmim e Carmim, e Azúli e Azúli, em comunhão eram como um. E o processo biofísico foi acelerado e modificado. Assim, depois do reconhecimento químico, os pontos ficaram logo borrados, muito tempo no estágio néon (já em perfeita ligação), novamente muito tempo perdidos querendo se encontrar, pra experiência ter sucesso. Ficou muito difícil observar depois da comunhão.

Trabalho cumprido. Eu fiz as malas. Pois vocês acreditam que depois da comunhão as fontes, todas quatro, voltaram para sua região em tempos diferentes? Eu esqueci de dizer que o encontro é uma tarefa que pode ser desfeita. Desfazendo uma das mais trabalhosas e maravilhosas realizações.

Dizem uns amigos meus que um mesmo encontro pode acontecer mais de uma vez, ou até mais vezes. E que é bem bonito. Mas eu tenho pouca experiência nessa área. Como adoro o que faço, gosto de pensar que cada encontro é único e verdadeiro. Repito o que gosto de ler no blog dessa grande amiga, no qual agora posto essa passagem: os maiores sentimentos têm que durar bem pouco para serem eternos.


Aqui escreve um amigo, que já te observou.

4 de janeiro de 2010

Acredita?

Me responsabilizo por roubar de um amigo meu a melhor definição para a minha medida de fé.

"Não sei se acredito em tudo ou em nada"

Ainda estou nessa busca. Mas se existe uma fase Anna Luiza cheia de fé é o final do ano. Nado contra a maré do nascimento de Cristo (apesar de achar a comemoração cristã muito bem justificada) e resgato todas as possíveis e impossíveis superstições. E quando falo impossíveis, não é mero esquema textual.

Cá estou para expor meu parecer sobre a probabilidade disso tudo ser verdade. Preciso informá-los de que acredito de olhos fechados naquilo que todo mundo diz que é besteira e desconfio catucando aquilo que todo mundo segue sem questionar. Vai entender...

Começo meu ritual fim de ano não comprando presente pra ninguém (exceto os oportunos amigos ocultos). Nenhuma superstição, mas incrívelmente não consigo achar nada que me agrade nessa época do ano. Obviamente me sinto mais pecaminosa, em termos de delírios de consumo, com a chegada de janeiro e suas liquidações deliciosas.

Outra excessão de compra é a roupa da virada. Ora, nem essa foi excessão esse ano. Mas não devo mudar de assunto, afinal esse é um campo experimental de vasta experiência.

Quando passei de rosa, tive um excelente primeiro beijo. Quando a calcinnha era vermelha, tudo foi muito caloroso. Quando passei de laranja tive energia suficiente para aguentar o ano do vestibular. Nada como passar de azul e ter muito sucesso. Mas o insuperável branco...

Tinha me esquecido dele até o ano passado. Gosto de colorir tudo, mas nada como a paz. De espírito ou sei lá de quê. Passei a virada de 08 para 09 de branco, com uma fita amarela no cabelo. E foi muito difícil abandonar 2009...

Que ano repleto de paz. Não pensem que meus textos me contradizem, já que fiz esse ano algo que não tinha coragem de fazer e que recomendo: se expor. A exposição é tão pacificadora! Se livrar das armas internas não é instigar ninguém, não é chamar pra briga, é só sinal de redenção. O ser humando é que encucou e temeu e desconfiou daquilo o que é, claramente, um ato esperançoso de conciliação.

E isso tudo que acabo de dizer pelo caminho mais direto é um sinal.

Não passei de verde porque esperança é o que não me falta. Passei de branco, porque aprendi que é sempre muito bom. E de rosa... Com uma fita vermelha na cintura. E fiquei bolando mil suposições para as minhas superstições. De verdade o que vale é olhar pro céu em busca de um algo a mais. É o que eu sempre faço na virada.

Mas, existe uma simpatia EFICIENTÍSSIMA. Vale a pena eu dividí-las com vocês (no estilo mais Capricho / Atrevida / Gloss):

Sabe a calcinha rosa ou vermelha velhinha que você comprou pra virada? Usou pouco, nem usou ou vive usando? Não importa. Quer se livrar desse amor antigo? Quer um novo amor? Jogue-a fora no minuto que virar o ano!

Isso mesmo, vista-a para aquela festa de reveillon e durante a contagem regressiva tire-a e jogue no mar. Se você não estiver na praia, jogue em um rio (ou pela privada. Algum lugar com água). Mas tem que ter a desinibição de bancar o half-striptease! É tiro-e-queda!!

...

Acreditem, eu sou e não sou a pessoa mais crente do mundo.