11 de dezembro de 2011

A arte de dar





Eu sou ruim num monte de coisas. Dentre esse monte não mesmo consigo correr, nem dar presentes. O meu pai avacalha com meus pés meio tortos e a corrida é uma tortura de pensar que se eu usasse um tênis de luzinhas não faria um bom desenho numa foto com trinta segundos de exposição. Sou pior em presentear. Passo folegadas do meu dia a descarregar providências pessoais em objetos ilusórios. Eu crio uma coleção de mimos que não existem; satisfaço-me e a ninguém mais.

Concedo dedicatórias em livros meus num certo ato de mesquinharia. Comigo mesma, eu digo. Descubro com cinco minutos de esteira o quanto gosto de alimentar saudade ao invés de sedimentar memória. Com dez eu me envergonho e juro tentar melhorar. Com quinze já estou pensando que é melhor correr na pracinha dos cavalinhos. Droga! Voltei pro pensamento inicial.

Essa comoção da atividade aeróbica me irrita. Acontece que eu tenho amigos educadores físicos (,) e pretendo respeitá-los. Não me irrita o diálogo. O encaixe das palavras certas nas horas exatas faz meu dia de despedida terminar anônimo. Bem como uma fagulha, uma fantasia e tudo o que antecede o real.

Antes do acontecer eu faço verso e a diversão é o único presente que surpreende – como um tombo. Eu sou alguém que adora tropeçar. Analisar o que terceiros compreendem do meu texto é como me esborrachar assim como gosto de gargalhar.

No meio do meu caminho tinha uma pedra e foi um jeito melhor de correr. 
No meio de meu presente tinha uma quimera e há de ser melhor de dizer.
O quanto gosto dos amigos. O quanto me apaixono por eles.
O tanto que leio de artigos. O tanto que espero resposta deles.