22 de dezembro de 2013

Ao que é efêmero

Enquanto os pais brigavam na sala sentou no chão do box de um banho gelado com medo da lacraia sair do ralo e fazer viver todo aquele sofrimento que não se tem ideia do quê seja. Se viu caindo no trilho do metrô. Depois só sentiu o vento do vagão passando bem na frente. Aquele vislumbre da vida de olho fechado. Como todo beijo apaixonado. Como toda vez que ninguém pode saber que é paixão.

Quase todo dia morre um jovem de felicidade enquanto desce o gole da cerveja mais gelada. É que ele leva o tato do copo americano e o calor do Rio. Todo dia a gente ganha um prêmio de consolação por aturar a gente mesmo. Quando sente que é funcional continuar vivendo pra ter ápices de felicidade seguidos de súbita melancolia decide sair de casa pra encontrar alguém que nem é tão interessante assim mas pode transformar meros toques casuais numa casinha. Numa caminha. Em tudo que é muito pequeno e corre o risco de ficar muito grande. Tudo que vale a pena arriscar.

Nessas horas todo mundo é como todo mundo é. Fica emocionado com o menininho perdido que a gente ajudou a encontrar a mãe porque acredita que a possibilidade dele ter entrado na nossa vida é a mesma de cada pai dos três filhos que alguns de nós queremos ter. Cada um dos três pais.

Eu nunca achei que fosse me viciar em drogas, nem na máquina do tempo, embora eu tenha certo pavor de estar obcecada pelo momento que eu conheci o menininho perdido que eu ajudei a encontrar a mãe.