30 de agosto de 2010

Verão de um ano

Introdução

A paixão cria seis páginas de Word quando impossível. Anuncia uma obra de sete volumes se não correspondida.

Capítulo 1 – Ele

É um personagem à quem eu dei muitos nomes. De Fausto a Peixoto e nunca o verdadeiro. Os dias são longos em sua companhia e o sorriso é uma brecha que eu quero penetrar. Cria um portal da maravilha, uma vitrine dos meus maiores heróis; eu te travesti de cada um deles. De palhaço e guitarrista, jogador de futebol, menino dourado e do Rio e de mim. Até o fantasma da groselha – pra eu fingir que amor dá pra ser correspondido.

Ele começou pela metade. De tamanho e de personalidade. Um menino franzino, meio sujo. Eu inventei a beira de uma praia pra ele morar. Mas seu caso era com a biblioteca, pra onde ele ia todo dia ficar olhando as voltas que dava um ventilador velho. Num giro despencou do céu um caderno e uma garota.
Capa dura e ela no rodapé. Ele com preguiça de ler. Deu uma olhada nas piadas, pegou pra amiga, pra passar o tempo, enquanto o ventilador velho não expulsava calor nenhum. Quando o menino ficou muito apaixonante eu resolvi que iríamos pro fim do mundo.

Lá ele era saudade. Tinha uma placa numa esquina me lembrando tudo que a gente podia ter vivido. Deu vontade de mandar uma mensagem fingindo que eu tava perdida, perguntando onde ele estava. O carro virou de novo e eu fugi de lá. Transformei ele em palavra e inspiração; depois em fantasia. Que eu guardei no armário durante as férias e serviu direitinho no carnaval. Virou uniforme. Dava vontade de usar até nos finais de semana.

Ficou apaixonante de novo. Dessa vez eu fiz segredo e tranquei a sete chaves – cada uma num teor alcoólico diferente. Quando veio a bebedeira nós escrevemos um novo personagem. De blusa rosa, lencinho e óculos escuros. Num dos meus versos eu gritei assim Não some da minha vida não. Que o sol parece que bronzeia mais fresco quando o seu olho de penumbra ri de mim.” De olheira, de tempo misterioso, de coleira.

Eu escrevi um herói importante pra eu namorar no teatro e coloquei nele todas as suas características. Com explicações extensas e pintas exatas. Me esnobando, me provocando, me desmentindo, me confundindo. Eu batia nele todo dia. Ainda mais quando falava baixinho no meu ouvido que sabia que era louca por ele. Tava confusa com a quantidade de caras que queria.

E a sua cara que me confundia. Nela tinha só você e um sentimento bonito. Um dragão de fogo, que nem tatuagem. O inferno do fim do mundo quando a gente briga. Uma constante de ir e vir, de caras e pintas. Pra no final ele ser verão. Um calorão de te querer e não.