11 de dezembro de 2011

A arte de dar





Eu sou ruim num monte de coisas. Dentre esse monte não mesmo consigo correr, nem dar presentes. O meu pai avacalha com meus pés meio tortos e a corrida é uma tortura de pensar que se eu usasse um tênis de luzinhas não faria um bom desenho numa foto com trinta segundos de exposição. Sou pior em presentear. Passo folegadas do meu dia a descarregar providências pessoais em objetos ilusórios. Eu crio uma coleção de mimos que não existem; satisfaço-me e a ninguém mais.

Concedo dedicatórias em livros meus num certo ato de mesquinharia. Comigo mesma, eu digo. Descubro com cinco minutos de esteira o quanto gosto de alimentar saudade ao invés de sedimentar memória. Com dez eu me envergonho e juro tentar melhorar. Com quinze já estou pensando que é melhor correr na pracinha dos cavalinhos. Droga! Voltei pro pensamento inicial.

Essa comoção da atividade aeróbica me irrita. Acontece que eu tenho amigos educadores físicos (,) e pretendo respeitá-los. Não me irrita o diálogo. O encaixe das palavras certas nas horas exatas faz meu dia de despedida terminar anônimo. Bem como uma fagulha, uma fantasia e tudo o que antecede o real.

Antes do acontecer eu faço verso e a diversão é o único presente que surpreende – como um tombo. Eu sou alguém que adora tropeçar. Analisar o que terceiros compreendem do meu texto é como me esborrachar assim como gosto de gargalhar.

No meio do meu caminho tinha uma pedra e foi um jeito melhor de correr. 
No meio de meu presente tinha uma quimera e há de ser melhor de dizer.
O quanto gosto dos amigos. O quanto me apaixono por eles.
O tanto que leio de artigos. O tanto que espero resposta deles. 

29 de novembro de 2011

vrum vrum vrum


Vivi bem quando no passado tocava mesmo o tamborim mais bonito que os de todos os outros era o meu favorito em suas mãos mais bonitas que as de todas as outras que Vivi era mesmo um desenho sem margem pra não ficar fácil de tocar eu não sei mas Vivi enquanto foi bom bastante durou mais que todo o resto que Vivi.

Vivi é um vão no carrinho. Todo homem devia ganhar seu vermelho de rodinhas e corda resistente ainda pequeno. Vivi voando até que um chapéu voador caiu sobre mim. Fiquei feito elefante na boca da jibóia. Todo homem devia entender mais de chapéu. Vivi vindo sem ter nome até você me assoprar.

Diz pra mim seu signo. Me mata um pouquinho não poder terminar o menino que leva no vão do carrinho um negócio assim meio sem nome como eu. Diz pra mim teu sonho. Dá preu te hipnotizar bastante até chegar num meio de um monte de treco que a princípio não serve pra nada e apesar tá entre a confusão de tranqueira do seu automóvel e a confusa Tamarineira que a inspiração me dá.

Eu vou viver o verão de sonho até o que vivi partir e voar. Você chegou no meio de uma caçamba e eu me pus num vazio feliz deu ali estar. Vamos fingir que escreves pra mim, que finjo decolar. Dou gás num bocado de pensamento que em mim eu te apresento faz questão de sair assim meio torto todo inúmero de falas prosaicas e leves e loves de banal tem só palavras que no fundo guardam algum disfarce pra não se denunciar. 

18 de novembro de 2011

Os Traços


Por Google Tradutor

Tarde de sábado no mundo maravilhoso dos shoppings centers. Chega lá uma doce criatura devota das dádivas ininterruptas. Ela diz:

- Vai ser rock`n roll de novo, gracinha. Não tente separar atos e omissões, bondades e maldades.

- Qual é o brinde? – eu pergunto apressada.

- Olha, acompanha três desses pacotinho-surpresa.

“Essa gente meio que deixa a gente meio sem saber se tá usando o plural da maneira correta” eu pensei. Em seguida tentei decifrar aquelas mini-embalagens plásticas em formato quadrado com cores opacas e nada tímidas.

- Maneiro. Você sabe o que vem dentro?

- Uma proteção de látex pro brinquedo que veio junto com a promoção do mês passado.

Eu tive a estranha impressão de já ter brincado com tudo aquilo.

- Eu vou querer o número 2, então. Mas não conta pra ninguém que como carne que eu andei mentindo por aí...

- Bebida?

- Carlsberg.

- A Devassa acompanha o tema do mês...

- Ok, Devassa. Enche a caixinha de ketchup. Enche mesmo.

Que saudade de sentar na praça de alimentação com aquele projeto de felizesparasempre entre você e seu hambúrguer. No início do ano eu fiz o mesmo e foi Gostoso Demais.

Pausa.

Isso aqui tá com cara de expectativa. Cara daquilo que a Fernanda falou dois anos atrás. Esse laranja berrante, o néon do bate-bate. Há três dias uns ursos polares resolveram habitar a minha barriga. Eles clamam por um Mc Lanche Feliz e eu resolvi ser bem-resolvida agora? Não mesmo! Trata de cair de boca nesse sanduíche.

- Moça, veio duplo.

- É a novidade da sua vida amorosa. Você compra uma frustração e a outra acompanha.

Sentei. Comi. Senti que nem mesmo uma dúzia de Devassas desceria aquela bosta meio magra e sem-sal entalada na minha garganta. Eu não queria passar mal. Você sabe como é... Bruna is the new black e eu tava a caráter. Ela ajudou:

- Olha tigutiguti! Você pode destacar uma guitarrazinha da caixa de papelão.

Os caras que cuidam do projeto gráfico do Mc deveriam ser mais ousados. Tais formatos existem desde a minha infância.

Pausa. Eu acabo de revelar que não sou uma menina e os erros de pontuação são uma tentativa tola de estilo.

- Ei! Eu acabo de me lembrar que deveria vir um brinde...

Nessa hora você remexe aquele lixo todo dentro da caixa e percebe que foi ludibriado.

- Desculpa, querida. Nós vamos estar lhe providenciando outro brinde.

Malditos paulistas donos de centrais de tele-atendimento.

- Pronto. Com isso você poderá obter uma conexão inexprimível com o show de uma das suas bandas favoritas.

(...)

Alone, Together.

23 de outubro de 2011

Cadê o gosto da panqueca? - parte 2

Matei outro homem. Não. Foi ela. Quer dizer, você. Na verdade, comprei o congelado. Já faz tempo eu quero saber qual o gosto daqueles tipos enfeitados por photoshop. Mas sabe de outra coisa que não mesmo se relaciona com a minha declaração? O amanhecer em Botafogo é bonito purdemais e uma pena eu só tê-lo podido viver duas vezes.

Cheguei em casa e tirei do freezer a tal carne. Eu passei dias namorando o saco lá no fim da prateleira coberta de gelo. Prato preferido dá uma vontade de apressar o preparo e um medo do sabor não ser mais o mesmo que no final parece que você pôs a mesa à toa. É por isso que eu detesto coisa que se exibe pela internet. Pré-vestibulandos, em estatística a rede nunca esteve tão cheia de maquiavélicos virgens. Eu não resisto a corte dado de maneira semelhante. Tive que comprar o pedaço que a outra menina matou.

Quando descongelou que eu vi tudo podre. Às vezes eu também acordo com uma coceira no olho e não dá pra enxergar nada direito. Lá em casa dizem que se estragado é pra jogar fora logo; eu fiz. E fiquei comendo daquela panqueca de antes. Aquela panqueca não cede, nem se aproxima. Fica cheirando bom e meu nariz entope sempre na hora de saborear. Minha saúde é problemática demais para quem mata e come tanto.

Enfim - que eu estou com essa mania de falar assim agora - encontro de matadoras parece evento mais interessante que Rock in Rio. Come-se melhor que o sanduíche sem gosto, que você se matou um pouquinho pra fazer.

De repente minha intenção agora é ser tão otimista que chega a constrager, mas já que na minha fantasia você se matou bem pouco, deixa só a marca no esmalte vermelho provocante. Aceita um chopp comigo pra não falar de homem nenhum a matar. Eu gosto de batata frita e bacon, de bastante ketchup e seria ótimo falar dos que estão mortos. Dessa vez dos caras já consagrados que reconheço na minha escrita e na sua. Tratar de como é bom textuaizar o contexto e como a sensibilidade femina deve irritar.

A quem matou o carinha do congelado, eu digo que devemos conversar sobre Machado, Joyce... Desses outros caras que falo.

Amanhecer em Botafogo é muito bom. Tem poesia que fica no papel. E gente bacana que eu não sei bem como eu admiro a atitude de vir puxar papo.

Prazer. É mais ou menos assim que falo.

27 de setembro de 2011

Cadê o gosto da panqueca?


Hoje eu matei um homem e o moí todinho. Deixei no freezer por duas semanas. Ai não. Matei um homem há quatorze dias, fiz carne moída e amanhã descongelo pra ontem. Droga. Matei um homem, eu juro. Escolhi um novo gordo que esses novos gordos não contraem nenhum músculo quando em perigo. Homem é como porco, não pode sofrer quando aos golpes, senão a carne não amacia.

Parti os pedacinhos. Cento e oitenta e três, pra ser exata. Vejam, não falo de cortar uma parte da banda da bunda e preparar com requinte. O que sobrou do morto ta lá na geladeira. O caso aqui não é traição, não está no cinema, não é dos meus filmes favoritos, nem é brasileiro. Eu matei esse homem num buraquinho que eu cavei em Brasília e deu lá noutro lado do mundo.

Estava fazendo um favor. Eu livro a humanidade das figuras patéticas. Este sujeito me aparece querendo sumir e não tem nada que me incomode mais que gente brincando disso. Pegou forte na minha cintura, me implorou pra quebrar uma garrafa em sua cabeça. Não o fiz. Deita aqui no meu ombro, querido. Agora nós somos amigos e mais tarde eu te dou de comer.

Aí o cara começa a me pedir trakinas de morango e eu me irrito. Nada nos bolsos além de umas revistinhas eruditas. Que sujeito não carrega três reais nos bolsos pra numa emergência comprar um pacote de biscoito recheado? O tipo que gasta em bancas e bibliotecas. O tipo que dá vontade de dar doze facadas e cortar em cento e oitenta e três. Verdade, eu juro.

Estou em casa a relatar meu crime com tamanha classe para que afinal você se canse de ler e vá logo chamar a polícia. Existem algumas outras possibilidades – aqui citarei só as interessantes, não contando assim com a habitual troca ou cancelamento de abas abertas no seu navegador. Eu se fosse você tentaria descobrir o paradeiro desse homem. Melhor, vou preparar panqueca com a carne moída. Pode chegar aqui em casa.

- Odeio nariz entupido que não deixa sentir o gosto da comida. Odeio tudo úmido e salgado.

7 de agosto de 2011

Eu vou casar



Antes dos 27. Antes que ele use óculos, pois atrapalha tudo. Só pra chegar em casa e alguém concordar que comprei a melhor alface americana. Se prontificar a preparar um molho com muito queijo e alecrim. Pensar em sexo na cozinha com diálogo de filme. Com direito a briga de espeto de churrasco à lá espadachin. E de calcinha bem normal. Sem paciência pro papo de que o ato de sacar uma rolha é algo de muito intelectual.

Mas só me caso com quem não tira aliança nem pra tentar tirar. Com quem tira o tênis sem desamarrar. Só se deixar a cama pra eu arrumar e pedir de joelho pra eu não bagunçar. E fala pouco mais do que toca. Ronca pouco menos que arrota. Finge pros meus pais que dirige devagar. Só com esse fazedor de besteira secreta. Que não arrisca comprar um carro, que só cai na estrada de bicicleta.

Caso até o dia que contar mais de uma semana sem chorar. E só sei viver ao lado de quem se incomoda quando eu quero. Na frente de quem pelo beijo na nuca não espero. Atrás de quem fala mal de todos os meus versinhos. Caso sobre tudo com quem entenda que nasci casada. E não se arrependa de nenhum voto se eu chegar em casa atrasada.

Caso eu case, é melhor entender de tudo que eu entendo. Você pediu minha mão sabendo do meu outro enlace. Me disse que quem faz jogo duro esconde marido. Por isso ficou comigo que não faço nada escondido.  Sabe o que acontece? É essa ideia de relação sem compromisso. Nosso grupo pensa que tudo bem. Beijar o vizinho não mexe no que a gente tem. Quem amarela foto é o tempo. Se amarelar entre nós é o sentimento. 

Eu sempre disse pra você que tava errado. Eu não confio no que ficou no passado. Invento esse discurso há anos.

Caso eu case, eu não durmo só com você. Meu maior e melhor amigo me dá muito mais prazer. A química trata de deixar só seu lado ciumento de lado. Dá pra fazer bobagem dentro de uma jaula, com todo mundo olhando a aula, o treino, o jogo passatempo dele com você alienado. Se eu casar é pra fingir que faz sentido. Ninguém mandou assinar nada quando eu nasci casada comigo.

10 de julho de 2011

A Farsa

Você com essa mania de se apaixonar por banalidades. Não consegue terminar um texto. Faz um bololô de frases soltas à serem melhor aproveitadas no rodapé de um calendário clean, numa noite de domingo sem ideia do que postar no Face.


- Ei José, eu não consigo escrever de forma objetiva o bastante. Nós somos dois protagonistas desse sonho inútil. A mazela de inventar o onírico, de arranjar verso bonito num sei onde.

- Cai comigo na estrada? A Rodoviária tem nome próprio. Eu vou te levar pra uma cidadezinha sem narrador.

- Vamos partir pra algo mais íntimo que sexo? Me mostra a playlist do seu Ipod.

Alguém arranjou de organizar o pensamento e quanta genialidade não foi desperdiçada com medo da loucura. Eu escrevo com prazer e sem método. Eu dou um prato de comida pro pedinte e ignoro o menino que me olhando daquele jeito no trânsito. Quem entende o que eu digo?

Até agora só rolou preliminar. Eu te enrolei com novecentos e trinta e nove toques pra despertar o assunto. Minha linguagem é um personagem e só vale se representar algo que não sou. Ela diz:

SE FOR LER O POST DO BLOG, COMECE POR AQUI.

Era uma vez uma jovem. Convidada à viajar, pegou ônibus numa estação com nome de Farsa. Dalí gente partia pra tudo quanto é canto. Ela ia tentar conhecer alguém. Durante o caminho todos ignoravam a estrada. Prestavam atenção no quão inclinada estava a poltrona da frente. Se passasse do limite dava pra reclamar.

Chegou no hotel e pediu um quarto de casal com vista pro mar. Ensaiou um striptease; tinha o cuidado de pousar a mão sobre as roupas de jeito elegante. Pediu champagne, mas desistiu. Ligou pra pedir cerveja e pizza. Tomou um banho de quarenta minutos e passou hidratante. Adoraria eternizar as vezes que cheirava o ombro com aroma de mel. Deitou na cama e dormiu.

Voltou entendendo a estrada. De onde saía e aonde entrava. Conversou com o motorista que nunca teria a sorte de parecer interessante. Casar só se fosse cosigo mesma.

O motorista gostou daquilo. Descobriu anos depois que a moça foi seu grande amor perdido. Ou então, num happy end eles decidiram no meio da viagem que ficariam juntos para sempre.

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Quem sabe onde compra lencinho branco de acenar na partida? É mais um detalhe que fica na forma. Mais uma banalidade que me apaixona. Sempre quis conhecer as profundezas, mas o mundo é uma estante empoeirada e todo mundo só passa o dedo e assopra.

Era uma vez a Farsa. Lá vende bilhete pra quem quiser vir até aqui. Encontrar o amor da minha vida vai demorar o tempo de fazer as contas pra cobrança de tarifas.

2 de abril de 2011

Vossa Válvula e tua reforma

Era uma vez uma menina que tinha pacto com o diabo. Um dia ela chegou a sala e anunciou pra toda família que a prima fazia sexo com um sujeito. Falou isso como nenhuma outra criança de dois anos falaria. Aos seis comia uva de garfo e faca, aos nove fazia professoras lhe arremessarem tamancos, aos douze destruiu a exposição que valia ponto na última fase da olimpíada de conhecimento. Mas ainda assim em seus intervalos solitários não se faziam lacunas. No terceiro degrau do segundo lance de escadas do quinto andar, ninguém sabia quem era a estranha a gargalhar do verso da embalagem de Ana Maria. Ninguém poderia acreditar.

Sem causar muitas suspeitas, ela continuou a trabalhar. Chamava um ou dois menores, tirava monstros da televisão e como a fazia bem causar o pânico. Arrancava uma página daqui, colava noutra página alí e lá estavam as fábulas em confusão. Cada dia com uma gargalhada diferente, inventando que não sabia espirrar. Mas ainda assim ninguém desconfiava. Achavam bonita a história da Voz.

A Voz era um amigo, sem muitas requisições. "Era o murmúrio de um fingimento e a encarnação da verdade sem medo." E dizer isso era fazer todos acreditarem no que dizia. Ela criou o engano e ninguém percebeu. Por isso o Diabo lhe deu nome de Anna, a que engana. E Luiza, a que enfeitiça. Mudou a grafia da Voz e tomou o mundo de inexatidão. Ela passou a se chamar Segunda Pessoa do Plural desde então.

Para os íntimos, Vós. Para as belas donas, Vossa. Para Anna Luiza, Vossa Válvula de escape.

Minha empregada dizia que criança que fala sozinha tem pacto com o Diabo. Desde que descobri resolvi compactuar...

29 de março de 2011

Os homens

Admito que não fiz suficiente esforço. Acho que mereço mérito pelas últimas vezes em que me enfeitei. Sempre que quero ser sincera; eu juro, tento me controlar. Veja só como fiz de tudo para evitar que dessem nome de desespero a minha sensata vontade. Mas não consigo me desfazer das minhas gracinhas batidas e de toda a vulgaridade. Eu não tenho corpão e a minha fragilidade nunca caberá naquela conta que eles resolvem pagar.

Eu não tenho qualquer coisa além da beleza. E ainda me falta comedir as palavras e os gestos. Esconder minhas polpas. Desfilar minhas roupas. Fingir que não quero tirar, pra depois acertar sem ensaiar. Pois é isso que se espera.

Eu tenho um amigo antigo que faz quase tudo o que eu peço. Tem que ser em tom de provocação porque a nossa relação é assim. Não tem hora, nem data marcada; encontrar com ele é como falar sozinha e aguardar que os outros te proponham o suicídio. Sempre pede meu olhar mais atraente.

Na verdade é um ensaio. Eu vou fazendo pose enquanto ele me treina. Prefere mesmo olhinhos de Baby e linguinhas de Joey. Desconversa pra me fingir de inteligente. Me interrompe pedindo preu escolher uma das mãos. Mas o caso é mais o sorriso condenando ambas escolhas. Alí eu sou do tamanho que ele deseja.

Vai preferir a calmaria à brutalidade, sem se desfazer da safadeza. Ele venera todas as outras mulheres e eu não me importo, se ele lembrar de como eu gosto do matte pela manhã. Ele não é gay, mas ele não é real.

...

Pedrinho aparece, que entender o sexo oposto é como fingir que entendeu.

12 de março de 2011

Te sus no homi

Hoje vi um menino morrendo enquanto o povo gingava. No rosto dele tinha um suor de dor e na mão da morena um pandeiro. Quem marcava era ela e o branquelo sambava e mulato morria e o povo sorria.

Ontem vi um povo morrendo sei-lá-do-quê. Parei no bar e tinha terra em todo lugar. Tinha lama até em mim, que o fortão ontem fez questão de espalhar. Pedi o copo e pedi pra ir. Eu vejo o mundo que me vendem e ninguém quer comprar o meu fim.

Amanhã eu quero ver tudo dourado. Não vai ser de festa, nem à prêmio. Pode não mesmo secar terra nenhuma. Faz não molhar demais nem o cerrado. Isso não é amor, não é meu grêmio. É um preto a rezar sem uma pluma. Prum carnaval sem fome e sem frio. Sem homem e sem rio.

9 de março de 2011

When I'm home, everything seems to be right

Hoje eu deixei toda a auto-estima baixar de novo. Mas não adiantou, que o sol raiou e meu Alto ficou com cheiro de Rio da Anna. Aí tocou um sambão que eu nem selecionei. Ancorou em mim uma calmaria marítima e foi gostoso que nem caetanear. E apesar deu ser o alvo do plano diabólico das seleções musicais ao redor do mundo, deixa tocar Fab4 que eu nem me importo se cair cerveja em mim.

Chama um gatinho pra tocar guitarra, que desses tem aos montes por aí. Coloca uma blusa bacana, enfeita tudo de néon, não vai ser dificil recompor a produção. O complicado é juntar tanta galera bonita. Um monte de cara maneiro, acompanhando a música bem assim como eu. E no final do segundo verso de Come together o now é tão malandro quanto qualquer sorriso da gente. Tão carioca quanto dava vontade de ouvir.

A vida é assim mesmo... Ouvir música boa, em ritmo de batucada, de camiseta e shortinho, enquanto o tio ensina a criança a tacar serpentina. A garotinha sentada nos ombros dele só quer mesmo é gritar Help como se estivesse esperando pra morfar. Que nem ela tem um casal de carnaval. A garota e o garoto que sempre se encontram sem querer na Voluntários. Acabaram indo pro mesmo bloco que os amigos em comum e ... Come on and twist a little closer now.

Pros conterrâneos dá pra descrever o sentimento de voltar. É só olhar o bloco entre duas ruas de Botafogo e o Cristo encoberto, enquanto a chuva não tira calor nenhum. Enquanto quem reclama de claustrofobia vai fazer o mesmo no ano que vem. Enquanto o muleque que chega na sua melhor amiga vai fazer o mesmo no ano que vem. Enquanto a tia na varanda com a camisa do Brasil e a máscara do Ronaldinho;

Quem não sai de lá bêbado, sai alegre. Sai puto, sei lá. Sai de lá e liga pros amigos perdidos na multidão. Quando todo mundo se encontra vem a melhor parte: partir dalí prum buteco fuleiro. Quem é da Tijuca aproveita que o metrô tá funcionando 24h. DesXvia de unsX carasX susXpeitosX. Mas relaxa, que ta com os amigos, que ta no Rio.

Relaxa, que esse foi o texto mais folgado que eu já escrevi.

8 de fevereiro de 2011

Gostoso demais

Ela está para ser comida e ele para satisfazer. Numa noite de muito frio não há nada melhor pra se fazer.

Mas antes repara como sob a luz vermelha sua estampa de bolinhas fica tão mais envolvente. E dá uma distância pra ver que bonita a sombra no olhar. Em seguida chega perto, que ele não é desses que muda ao se aproximar. Só não toca que podem reparar, já vem logo um guardinha mandando se afastar. De pertinho já dá pra refletir bastante; até que os pensamentos voam prum breu esbaforido a se realizar.

É nessa hora que roubam a sua poesia e te transformam numa própria. A perspectiva vai diminuindo até sumir. E reaparece num vazio bom. Lá é tudo seu, mas parece mais inconsciente coletivo. Vai achar que ele é surrealismo, dadaísmo, pop art. Vai ficar esquadrinhando cada parte sem olhar. Ele reclama da iluminação e apaga. Dá pra brincar de mudar de ângulo pra ver como é que fica. Mas isso tudo vai da sua experiência.

Quanto a ela, tá lá, paradinha. É tão delicada que dá medo de garfar. Tão jeitosa que parece pecado. Tão pecaminosa que dá ódio não tentar. Não pedir a coleção... Ainda mais porque te oferecem água com gosto de flor. Depois de sentar e ouvir uma musiquinha boa, nada melhor que água com gosto de flor. E enquanto você pensa em por onde deve começar, já tá sentindo cheiro de creme. E quando a ponta do nariz ta muito próxima, nem adiantar mais pensar.

Tudo isso leva pouco álcool, mais pelas medidas. Leva pouco tempo também. Basta saber fazer, ser bem guiado. Por que não arranjar um guia? O que não falta é gente no mundo com os mesmos gostos que você. Se tudo der certo em algumas horas estará em casa tendo câimbras de tanto tentar. Não liga se demorar pra conseguir toda a parafernalha, pois vale a espera. Só não perde a vontade de saborear. Que depois só fica a lembrança de experimentar.

Dedico à chocolate and pear tart e ao desenho sem nome de Harry Clarke.

21 de janeiro de 2011

Região agradável e corrupta

Tira o chopp que eu quero cerveja. Tira o short que eu quero cereja. Bota a mão em mim.

Puxa meu braço sem machucar. Pixa de spray sem ocultar. O casal fazendo do banheiro o seu jardim.

Que houve foi mais loucura. Tacaram um peão nessa ciranda. Nem notaram que o pecado encanta, que pra fazer ciranda tem que pecar.

Não sei se combina, mas digo candura. Prum diabo e olha lá. É um alienígena que fala a minha língua. Dando giros em murais de cores, é ele que eu quero escutar.

Te fizeram pra ter pouco pé no chão. Se tu cai, já tá na mão. Põe pra rodar um passado em três. Tava querendo fugir da fantasia, mas a paranóia me encontrou de vez.

E sumiu. Mandou um carta selada em paixão. Dizendo pra mim esquecer a razão. Toda escrita em português errado, pra logo salientar o pecado.

Minha dor dormiu. Se morreu eu sou um anjo de mochila nas costas. Se eu voei nada importa. O meu céu não fica distante, não tá ocupado, ninguém pode trancar. E é todo mundo jovem, não custa viajar.