10 de agosto de 2014

Enquanto eu bossa a gente flana no motel

Eu coça caso
Um monte de opção de casa pra alugar
Eu meio sem lugar pra morar
Você meio a se instalar

Enquanto eu fuço, foca
Nalgum farol nalgum mar
Um monte de pista pra dar
Enquanto eu finjo a gente forja
Um monte de música sua pra escutar

Um cronômetro no meio do nada a pausar
Pra gente beijar
Com tempo pra recomeçar

Uma poesia, dois motivos e um terceiro
Pro risco parar de brincar
De escrever e a gente riscar

26 de julho de 2014

De quando me apaixonei por um ator pornô

Sei que transformei parte da nossa história em contos eróticos, te tirei do ostracismo e fiz do Zeca um mito dessa mais nova sociedade transante. Mas eu nunca pensei que fosse me apaixonar.

É que o mercado exige, acima de tudo, postura e eu nunca apostei no jeito como você para. Essa quebrada, todo esse peso que você joga em cima da bacia. Essa tentativa desengonçada de ser ereto. Eu não tenho explicações para o que acontece no meu corpo quando você está a alguns metros de distância. Fico ainda mais confusa quando você resolve dançar.

Eu não sei como faz efeito. Não é o seu sorriso. Nenhum dos três cortes de cabelo que você decidiu experimentar desde que a gente se conheceu. Nada disso imprime melhor que os ombros largos do Astolfo, as entradas do Wagner ou o traquejo do Bruce. Mas eu fecho os olhos e não tem ninguém mais justo que você nos meus delírios de prazer carnal.

Hoje eu só queria dizer que eu gosto de você. Sem roupa. Cansado.  À procura do seu saco de dormir. Eu não passaria nem uma hora tentando achá-lo com você, mas a gente pode correr atrás de uma loja pra comprar... Eu também não vou pagar. Mas te dou ideias pra gente fazer uma grana e se nada der certo tudo o que eu mais queria era que você abrisse o jogo e me contasse quem é o Zeca por trás dessa fama de amor da minha vida.

Sem pressão. Fica aí. Eu fico aqui tanto tempo quanto você quiser que eu fique longe. Eu não preciso me fazer de forte quando a minha fortaleza é saber que eu não domino nada disso. Quando você passa eu olho, quando você olha de volta eu me inclino pra cumprimentar, quando você se inclina demais dá nessa dança. E você nem sabe dançar. Mas sabe o bastante pra eu me apaixonar.

21 de maio de 2014

Xoni: um estado. Um estatuto.

To numa leve hesitação. Pedindo paixão. Ouvindo Caetano e vendo o Zeca em pb. Descendo desembestada essa ladeira que sobe pra descer e quando peca e pega e roda e mete e paira.

Serve só pra flutuar. Pra virar poeira poética. O estado bobo da gente. Essa fantasia de membros dormentes. O balbuciar de palavras meio ditas; meio sem coragem de dizer. O encantamento entorpecente. O que hoje faz medo traduzir em paixão.

Estou numa constante. Sou a criança que pede mais uma vez. E outra. Eu eternizei esse instante e a complexa lógica do mundo boicota a sensação do detalhe. Vamos passar a vida inteira falando difícil pra falar mais e ficar perto um da boca do outro até que vai ser impossível não morrer pra gente mesmo. Aqui. Nesse beijo.

Nesse olhar. Nesse toque, talvez.

A sensação. A do detalhe. A que funciona em close-up. De olhos azuis. De narizes grandes. De furinhos ao redor da boca. De toque no pandeiro. De falar formal. De falar pedindo desculpas, feito falar mineiro. Feito gaúcho. Feito qualquer desses homens pelos quais eu me apaixonei.

Mas que seja bem diferente pra ser único. A gente se apaixona quando você ri de cabeça baixa. Pela cara de bom menino. Pelo jeito como se escora na porta dos fundos à espera de uma promessa de sexo casual em plena madrugada. Porque você é um pouquinho desse desengonçar com um quarto de parede laranja.

A gente já se apaixonou pelo signo da sua mãe; que é o mesmo que o meu. A sua habilidade de me apelidar com o nome de grandes divas. As suas olheiras. De calças caídas. De cigarro. Enrolando um baseado. Você de oclinhos e estudando. Fazendo ponte. De casaquinho de crochê da vovó. Jogando dama comigo na pracinha. Só.

E no escuro.

Com versos do Cartola. Sussurrando o proibido. Com tudo o que disse mais um mocinho bandido do Rubem Fonseca. Só a respiração.

Só paixão. Faz mal nenhum se apaixonar. Assim pequeno. Assim sem esperar.

Assim meio Zeca. Meio mela cueca. Meio lembrando de como era bom só gostar.



Q’o mal é saber nonde tudo isso vai dar.

30 de março de 2014

A insaciável vontade do tempo

Não gosto mais de bala de tamarindo. Botei na boca, fiz questão de tentar até o fim e não deu. Nem deu pra lembrar como era gostar. Fiquei com aquele azedume perdido no tempo de quando parei de gostar; a dúvida do dia que aquele prazer vai voltar, mas mal dá pra engolir seco esse meu novo estar.

Eu gostava de bala de tamarindo. Era básico. Tinha todo o tempo e sem medir tempo pra esperar. Era certeiro, não tinha mistério. Um dia o tempo passou, eu parei de chupar tamarindo e ficou a lembrança. E chupar tamarindo não é mais como lembrar como era chupar.

Sabe, eu amo Frumelo. Não é básico, muito menos certeiro. Às vezes tem um pacote que eu não sei se pode abrir. Então eu espero. Tem vez que o pacote abre, todo mundo pega e eu fico sem. Depois de um tempo vai ter outro pacote. E pode acontecer o mesmo. Ou pode acontecer da minha vontade de comer Frumelo ser maior, eu roubar o pacote e ir me deliciando aos pouquinhos.

A minha relação com Frumelo é assim. Pouco enjoativa, cheia de perigos, cheia de gente me dizendo o que eu tenho que fazer e eu a fazer tudo ao contrário. Acho que só Frumelo me entende. Acho.

Mas bala que satisfaz é de momento. Tem aquele pirulito muito doido que explode na boca. Tem de várias marcas. Não é como Frumelo que só Frumelo é como Frumelo. O pirulito eu encontrei até na Europa com um nome diferente; nada europeu nem rebuscado, coisa meio árabe mesmo, meio de fim de noite. Sabia que ia ter no Brasil igual e fiquei meses explodindo coisas em mim. Até passar mal.

Bala saudável é hortelã da Garoto, por tradição. O tempo me trouxe um encantamento pelas coisas formais e saudáveis, eu que sempre fui de vício e autodestruição. Eu que sempre fui de chupar todas as balas do pacote de uma vez, dessa vez eu comprei um pacotinho. Aquele pequeno pacote de hortelã da Garoto. E uma de cada vez. De primeira, que foi muito menos careta do que eu esperava – e bom. De segunda, que foi bem maior do que eu esperava. E até o fim. Até o fim que eu não quis dar.

Enquanto restavam as últimas pastilhas do pacote eu fui conversando com a razão. Fui admirando aquele quadrado bem doce numa vontade sem critério de por tudo de uma vez na boca. A vontade de por doce na boca me levou ao tamarindo e me fez estranhar todas as balas do mundo. Me fez lembrar de Frumelo e que sempre vai estar lá. Me fez desistir de passar mal demais. Me fez ver que um dia a gente pode simplesmente deixar de gostar.

Embrulhei a hortelã com as que faltavam pro pacote acabar e num acesso de raiva da espera não acabar eu joguei em algum lugar que agora vai dar muito medo e preguiça de achar.

15 de março de 2014

O Bom-menino

A minha janela fica na curva
Não quero saber quem vem
quem vai embora
Eu mando beijo
jogo as tranças
espio pela fresta
Ninguém empresta metade ou um quarto da hora
Todos chegam pra eternizar

Resolvi fechar janela
e tocar a orgia aqui dentro
; cruzou a esquina um Bom-menino
Parei pra admirar

Bom-menino chega bem na hora
que falta fé
- Bom-menino, vai embora
vou dizer bem assim
Bom-menino, estou debruçada
perdão pela ousadia, mas fica mais
que gosto de esperança a gente quer sentir pra sempre

e acaba
acaba o gosto
deixa o menino
Bom-menino

- Corre
Pisando de ladinho vai mais rápido
Sai que eu sou roubada
e você é tão bom que eu quero convidar
pra entrar aqui dentro
conhecer minha cozinha
minha casinha
meu circo; de horrores
e amores
Você é tão bom
de bondade
que sou todos os dedos pra maldade

Você é tão bom de bondade
e chegou tão na hora errada de verdade
que eu vou fechar janela
pra não te chatear
com a falta de mundo que há em mim
E a vontade de ser plena
falta bem na hora
que eu vou me debruçar
e por isso vou fechar janela
pra não te chatear

Bom-menino

lindo.

7 de março de 2014

A MENOS UM VEZ

Dar ou não dar. A questão é por quanto tempo prolongar. Fodam-se os meus desejos. Foda-se a minha vontade. Deixa descobrir que a transa poderia ser boa sem que ela de fato tenha vindo a ser. E é o século 21. E eu ouvi faz tempo que não era pra dar de primeira.

Passei uma vida questionando esse princípio. Acreditei por muito tempo na magia do momento; em situações isoladas que me renderiam momentos incríveis. E renderam. Mas eu falo de uma permissividade. O permitir-se que exige bem mais coragem do que a decisão de dar ou não a xoxota.

Comer depois de já ter experimentado é o poder que o homem se permite ter de levantar ou não a saia. É uma hipocrisia do caralho. E eu deveria ter entendido isso faz tempo se o meu lance era fazer render aquele brigadeiro que por um milagre esteve no ponto. De presente de aniversário eu ganhei a ideia de não dar de colher na boca de ninguém.

Combinei com um amigo de tentar essa experiência. Um que já me comeu de primeira vez. Mas é que eu precisei chegar à vez  de número “menos um” pra entender que o mundo disfarçou uma entrega. Que é bem bacana e cool ser moderninha e se render ao desejo de momento. Mas nunca será tão transante investir num jogo que não é o homem que sai ganhando.

Uma palma e meia para os que continuaram a sair depois de um sexo de primeira vez. A metade de palma que falta é esse suspiro de consciência por amostragem: eu já dei pra sete caras de primeira. Somente um quis continuar me comendo.

É. Meu sexo é ruim e esse é o relato de uma mal-comida. Eu vou discutir o apelo social e sexista da questão já que eu não posso estuprar um cara. E nem quero.

Faz tempo que eu entendi que o sexo é bom quando a gente quer. E ponto. Enquanto isso a sociedade tenta me convencer a baixar a mão do cara que tenta invadir a minha pélvis.


Só que da próxima vez eu resisto.