8 de fevereiro de 2011

Gostoso demais

Ela está para ser comida e ele para satisfazer. Numa noite de muito frio não há nada melhor pra se fazer.

Mas antes repara como sob a luz vermelha sua estampa de bolinhas fica tão mais envolvente. E dá uma distância pra ver que bonita a sombra no olhar. Em seguida chega perto, que ele não é desses que muda ao se aproximar. Só não toca que podem reparar, já vem logo um guardinha mandando se afastar. De pertinho já dá pra refletir bastante; até que os pensamentos voam prum breu esbaforido a se realizar.

É nessa hora que roubam a sua poesia e te transformam numa própria. A perspectiva vai diminuindo até sumir. E reaparece num vazio bom. Lá é tudo seu, mas parece mais inconsciente coletivo. Vai achar que ele é surrealismo, dadaísmo, pop art. Vai ficar esquadrinhando cada parte sem olhar. Ele reclama da iluminação e apaga. Dá pra brincar de mudar de ângulo pra ver como é que fica. Mas isso tudo vai da sua experiência.

Quanto a ela, tá lá, paradinha. É tão delicada que dá medo de garfar. Tão jeitosa que parece pecado. Tão pecaminosa que dá ódio não tentar. Não pedir a coleção... Ainda mais porque te oferecem água com gosto de flor. Depois de sentar e ouvir uma musiquinha boa, nada melhor que água com gosto de flor. E enquanto você pensa em por onde deve começar, já tá sentindo cheiro de creme. E quando a ponta do nariz ta muito próxima, nem adiantar mais pensar.

Tudo isso leva pouco álcool, mais pelas medidas. Leva pouco tempo também. Basta saber fazer, ser bem guiado. Por que não arranjar um guia? O que não falta é gente no mundo com os mesmos gostos que você. Se tudo der certo em algumas horas estará em casa tendo câimbras de tanto tentar. Não liga se demorar pra conseguir toda a parafernalha, pois vale a espera. Só não perde a vontade de saborear. Que depois só fica a lembrança de experimentar.

Dedico à chocolate and pear tart e ao desenho sem nome de Harry Clarke.