27 de março de 2010

Usa óculos escuros - mais uma interpretação

Requisito: que meus amigos parem com a preguiça e leiam um singelo poema de quatro estrofes! Só quatro estrofes!


Quem não tem colírio
soca o travesseiro,
se vira do avesso.
- Não dorme de novo!
Não tem recomeço!

Quem não vê o empecilho
é porque vai dormir.
#Inventa um celeiro
naquele mesmo endereço.
Mente pra mim se eu sorrir;
diz que é fim sem eu pedir.
Cala o consenso que eu emudeço.

Beija-me mais, não me desvencilho
nem você se descompromete.
Já sou tua - na tua voz que repete#
E lá na rua ta você possuído
jurando pra ela um amor falido
diferente do nosso por alavancar.

Ceguei teu pavor com um delírio.
Olho pro preto numa máscara de sonho
Será o sentimento do qual eu disponho?
Põe os escuros e me dê um colírio
Talvez eu enxergue o que é
Delirando em ser tua mulher
Percebendo o que você não quer

(ou eu não quero)

18 de março de 2010

O texto e eu. E meu amante: o filme.

Descobri que a descendência do hipertexto é o cotidiano de uma geração plugada. Eu ia falar que estamos todos na mesma vibe, mas isso só é consequência do modo on no qual vivemos. Novamente peço que não levem em conta a prepotência desta que vos esclarece as coisas. Entremos numa onda de que só a nossa geração mesmo viveu essa vibe até agora. Meu palpite é o de que nossos avós se reprimiram, nossos pais piraram e nós fingimos que estamos doidos depois de dois goles de Ice. Eis uma palpitáfora.
Mas hoje só eu vi um filme que tinha tudo a ver com uma crônica que só eu li que refletem essa vidinha que só eu vivo. Não foi apenas meu coração

- um dia eu assiti um filme indicado por um amigo e tive a sensação, no decorrer das cenas, que meus batimentos funcionavam de acordo com a velocidade de rpm do dvd; eu penso até hoje assim -

Não foi apenas meu coração que acelerou daquele jeito que nem nos filmes que agente quer entrar. Foi que o o mocinho é o Tom Hanks indie e desacelerado como a gente gosta. A mocinha é o parceiro cheia de opinião pela qual nós esperamos que eles fiquem encantados. Foram os inúmeros diálogos. O para-brisa limpando a marca de batom no vidro do carro [como as caixas de tic-tac caindo do correio]. Foram as boa referências musicais. New York. Talvez até o final feliz.

O estímulo interessante causado por breves minutos de êxtase me fez pensar sobre o adeus. Dizem que tudo começa quando conhecemos um alguém, como aquele álguém com o qual a infinidade de palavras beira a preocupação abismal de que nada pode dar errado. O vocábulo oi é o então adeus. Buscamos nada mais que a superação da barreira. Ou do absimo. 

A pessoas que está diante de nós, se também interessada, se desfalece. Renasce em quem ela é. Nos encantamos duplamente: pelo ausente que se faz presente, como pelo passado que se faz ausente. Trair o que primeiro sentimos, para poder sentir o que verdadeiramente somos. Ou continuar conquistando mais, se envolvendo menos.

Lá está um primeiro beijo de adeus. Graças a Deus. Querer iludir o público dizendo que essa segunda pessoa é uma dádiva é uma besteira. E uma possibilidade. Mas aí eu fico com vontade de viver isso. Que é só um filme. 

Lá estão os perfis do gênero da gente (ok, pode ser que ninguém concorde comigo). Uma mulher deitada em coma achando que vive. A outra que desliga a televisão quando depois de zapear os canais encontra um filme só seu. Nada de infinito e eutanásia. O lance é buscar essa noite de amor e música. Buscar pra valer.


3 de março de 2010

Vem me exorcisa



Escrito em 25/02/2010 às 00:40.


...



Conheça uma menina que nasceu há exatos 19 anos. Não posso me dedicar a contar o início de sua vida, já que tenho estado de consciência presente de uns quatorze anos pra cá. Não houveram grandes mudanças no mundo, nem ela, nem dela. Ou só no dela. Ontem ela subia a única ladeira doce de sempre, que a conduz ao palácio de eras no meio do seu nada. Em 2010 ela subiu ouvindo sua música.


Não podemos dizer ao certo se Jobim compôs o nome composto ou o singular primeiro, mas certamente conheceu uma Luiza para querer galgar a muralha até a Anna Luiza (vou colocar a grafia na minha mesmo). E quem a foi de alimentar sonhos infantis de que suas conversas com a Lua eram mesmo de verdade. Faz duas semanas que o pai a pegou deitada no quintal olhando o céu estrelado do Rio, eu percebi que ela cantava uma ciranda, que é chegada em milagre. Que milagre algum chegou, nem trovador.


Por isso ela é Anna também. Tem alguma inteligibilidade ininteligível fruto de pura fé que a fez construir os vales, os mares, os montes, as flores, as fontes. Teu mundo é cercado assim, de espécies simples, do que só se vence pelo esforço, por nada mais.


Olha a menina lá no meio, no meio de um banheiro. Com uma máquina de escrever de última geração, balançando os dedinhos, soltando a música, calando a música, sendo quem é, quem acha que é, quem gosta de ser. Refletindo olhando o seu reflexo no vidro do blindex. Apagando a última frase que vocês não descobrirão. Delatando a última gota de insegurança dessa porção. Ela pensa até em voltar a jogar Freecell.


Nem venha me perguntar o porquê. Dela se cercar de artifícios fáceis, dela cuidar do que não sabe ser, dela velar o que já é mistério. É justo que ela seja o maior deles. Se não entendes teu valor escreva um texto inteiro sobre o que pensa ser.


Olhando uma foto dessas novas e sem vida; dessas sem papel; sem toque e cheiro; ela se viu. Jogada na cama, de bruços, com o rosto em evidência, os dentes entrecortados, a boca semi-aberta, um sorriso evidente da meia-cova do lado esquerdo, o cabelo preso torto e os pés a mostra do lado direito, um coçando o outro. Além do texto, a foto também é resultado de pura vaidade. E o fundo é a prova de tudo isso que eu guardei somente pra te dar Luiza.


A redoma sem proteção da primavera em si. Não é toa que a escolheu sem a conhercer sabiamente como sua estação favorita. E o olhar... Ah o olhar... Na Maravilhosa que tem lago, serra e mar. Nele a alteração da cor varia de acordo com o humor.


Ela é mesmo uma muralha de baixa estatura. Ela não é dócil, ela só adocica a vida. E há quem resista a todo encanto. São esses os que já se cansaram no meio do caminho.


- Mas minha mãe ta lá ó!


- Pensou que a filha fosse chorar no primeiro dia de aula e ela só deu tchal.


- Tão meu irmão, os outros zeladores, as crianças, uma feiticeira que me ensina o que fazer do mundo.

A Luiza só se cercou porque não achou o trovador. No entanto eu já a vejo, criando uma cena, fingindo-se de bicho-grilo, cantando que ela brinca de amor.

E cuidado, que todo mundo acreditou!