Sei que transformei parte da nossa história em contos
eróticos, te tirei do ostracismo e fiz do Zeca um mito dessa mais nova
sociedade transante. Mas eu nunca pensei que fosse me apaixonar.
É que o mercado exige, acima de tudo, postura e eu nunca
apostei no jeito como você para. Essa quebrada, todo esse peso que você joga em
cima da bacia. Essa tentativa desengonçada de ser ereto. Eu não tenho
explicações para o que acontece no meu corpo quando você está a alguns metros
de distância. Fico ainda mais confusa quando você resolve dançar.
Eu não sei como faz efeito. Não é o seu sorriso. Nenhum dos
três cortes de cabelo que você decidiu experimentar desde que a gente se
conheceu. Nada disso imprime melhor que os ombros largos do Astolfo, as
entradas do Wagner ou o traquejo do Bruce. Mas eu fecho os olhos e não tem
ninguém mais justo que você nos meus delírios de prazer carnal.
Hoje eu só queria dizer que eu gosto de você. Sem roupa.
Cansado. À procura do seu saco de
dormir. Eu não passaria nem uma hora tentando achá-lo com você, mas a gente
pode correr atrás de uma loja pra comprar... Eu também não vou pagar. Mas te
dou ideias pra gente fazer uma grana e se nada der certo tudo o que eu mais
queria era que você abrisse o jogo e me contasse quem é o Zeca por trás dessa
fama de amor da minha vida.
Sem pressão. Fica aí. Eu fico aqui tanto tempo quanto você quiser
que eu fique longe. Eu não preciso me fazer de forte quando a minha fortaleza é
saber que eu não domino nada disso. Quando você passa eu olho, quando você olha
de volta eu me inclino pra cumprimentar, quando você se inclina demais dá nessa
dança. E você nem sabe dançar. Mas sabe o bastante pra eu me apaixonar.