27 de setembro de 2011

Cadê o gosto da panqueca?


Hoje eu matei um homem e o moí todinho. Deixei no freezer por duas semanas. Ai não. Matei um homem há quatorze dias, fiz carne moída e amanhã descongelo pra ontem. Droga. Matei um homem, eu juro. Escolhi um novo gordo que esses novos gordos não contraem nenhum músculo quando em perigo. Homem é como porco, não pode sofrer quando aos golpes, senão a carne não amacia.

Parti os pedacinhos. Cento e oitenta e três, pra ser exata. Vejam, não falo de cortar uma parte da banda da bunda e preparar com requinte. O que sobrou do morto ta lá na geladeira. O caso aqui não é traição, não está no cinema, não é dos meus filmes favoritos, nem é brasileiro. Eu matei esse homem num buraquinho que eu cavei em Brasília e deu lá noutro lado do mundo.

Estava fazendo um favor. Eu livro a humanidade das figuras patéticas. Este sujeito me aparece querendo sumir e não tem nada que me incomode mais que gente brincando disso. Pegou forte na minha cintura, me implorou pra quebrar uma garrafa em sua cabeça. Não o fiz. Deita aqui no meu ombro, querido. Agora nós somos amigos e mais tarde eu te dou de comer.

Aí o cara começa a me pedir trakinas de morango e eu me irrito. Nada nos bolsos além de umas revistinhas eruditas. Que sujeito não carrega três reais nos bolsos pra numa emergência comprar um pacote de biscoito recheado? O tipo que gasta em bancas e bibliotecas. O tipo que dá vontade de dar doze facadas e cortar em cento e oitenta e três. Verdade, eu juro.

Estou em casa a relatar meu crime com tamanha classe para que afinal você se canse de ler e vá logo chamar a polícia. Existem algumas outras possibilidades – aqui citarei só as interessantes, não contando assim com a habitual troca ou cancelamento de abas abertas no seu navegador. Eu se fosse você tentaria descobrir o paradeiro desse homem. Melhor, vou preparar panqueca com a carne moída. Pode chegar aqui em casa.

- Odeio nariz entupido que não deixa sentir o gosto da comida. Odeio tudo úmido e salgado.