8 de novembro de 2012

Meu bem,


Bom dia, doce ventania. Digo, Senhor Ventilador, como eu fui dormir tanto?

Não vale mesmo lhe apelidar. É bom que permaneçamos na farsa social enquanto você finge espantar algum calor aí de cima. Eu aqui embaixo deitada na mesa não faço questão de ter modos.

Mantenho-me geograficamente afastada, no entanto. Para que um dia você se canse de tentar disfarçar.

A sua brisa é úmida. É um bocado de vontade meio salgada que não dá pra segurar.

As suas voltas quase param. Pra me observar. Você fica mais bonito tentando ponderar círculos espirais. Que tomba pra um lado e pra outro.

Nesse longo tempo adormecida eu quase cansei de sonhar. Dava até pra gente se tocar. Quando em sonho, girar.

Mas se eu agarro uma de suas hélices na rotação é mais um teatro de loucura. Bom e frágil; bem a tempo de acabar.

Então eu acordei. Esperando um liquidificador.

Nem pense em fugir. A culpa é sua desse vai e vem na minha barriga. Eu vou parir essa sensação de centrifugar imóvel. Eu vou dar a luz aqui estirada em frente a você. 

Talvez você entenda tudo como uma obra de arte inspirado pelos contornos arquitetônicos da sua aerodinâmica. Mas é só um filho.

Um filho que a gente não vai ter o trabalho de educar.

E se você pedir, eu volto a sonhar. E a gente finge que não há nada no ar.