25 de junho de 2010

Sobre um grilo

Espero que alguém tenha sentido falta - carente, como sempre


...

Cri cri
E eu não to zuando
É que nos meus raros silêncios
Tem um canto me alucinando

Dá pra falar pouquinho
Do barulho pro calor
Que só pode à um aquecer
Não, não, não deixa a chama, por favor
Morrer no amanhecer

Como falei é miudinho
Verde, que se camufla e cadê
Pousou na minha mão como um rabisco
No segundo seguinte eu to contando o que ninguém vê
E ele cantando, meu coração a bater
Num canto baixinho
Um tanto curtinho
Que até cabe no versinho
Cri cri

(intertextual)

Sei que o mundo pesa muitos quilos
Não me leve à mal se eu lhe pedir para cortar os grilos
Guardar os grilos

Ai então você vai se convencer: que se o mundo pesa, não vai ser de reza que você vai viver

4 de junho de 2010

A questão é só de dar, a questão é só de dor

Ta, vai dormir. Fecha os olhos (tem gente que dorme com eles abertos). Deixa as vozes e as imagens do seriado favorito se misturarem com as do seu inconsciente. Percebe como os cílios enlaçam essa mistura, parece um processador. Agora dorme.

Vejo uma nuca e uma mão.

Acorda. Lembra de uma aula de Gramática, de Cinema, de Vida, do que for. Chega às pressas, procura os amigos pra sentar perto. Vê uma nuca, uma mão e uma boca. Roendo unha - ignora a porqueira, ignora tudo. Senta atrás. Enquanto um monte de gente famosa canta e encanta, seu olhar passa uma cantada deslavada no encanto da mão na nuca, da mão na boca.

Fecha os olhos. Ouve que há sempre um novo amor a cada novo amanhecer. Lembra da boca que hipnotiza e abre um olho. Fecha em seguida, porque a nuca percebeu e se contorceu. Parece até que você piscou. Que a nuca ignorou ou se assustou. Abre os olhos, que tem que prestar atenção na aula.

Tenta resistir aos charmes da boca, porque a mão e a nuca estavam quietas. Essa boca é simples, mas incorrigível, tentadora. Presta atenção na aula!

Intervalo. Quando desce a escada quem ta lá embaixo? Te encarando? A boca.

Sorri um sorriso desmerecedor daquela boca e fala. Como uma bailarina fantasiada do avesso, dançando sem harmonia, mas com a mesma forma suave a bailar. Lá está a boca linda a sorrir do avesso, falar sem harmonia, mas com a mesma forma suave a bailar. Quem resiste?

Volta pra cama. Liga a TV pra dormir. Bora sono! Processa aquela boca na minha... mente.