21 de junho de 2012

O pequeno apontador



Dentro do estojo de uma menina havia este apontador. Ocupava o mesmo lugar que uma moeda de um real. Era verde fluorescente e estava com manchas de uso. Jazia ali na companhia de lápis bem apontados e canetas esferográficas azuis.

Era o material menos utilizado. O que não é preciso renovar de mês em mês, sequer de ano em ano. Ela fingia que não possuía apontador quando a pediam e gostava de segura-lo bem apertado quando estava nervosa. Ele simbolizava o tempo pra ela. Nenhum lápis volta a ser o mesmo depois de apontado.

Ainda não tinham convencido aquela menina de que um lápis poderia escrever tão bem após feita a primeira ponta. Era doloroso quando se quebrava. Ela era cautelosa com movimentos bruscos no seu traçar. Conheceu sua primeira paixão deixando um lápis recém-apontado cair.

Ele pegou, a entregou e começaram a conversar. O menino era bem diferente das fantasias que sua cabeça faziam dele. Conhecê-lo melhor era ter a certeza de diminuir o tamanho-lápis dessa relação. Mas aí ela descobriu que fazer ponta também é bom.  

15 de junho de 2012

Quando ela chegar

Ela disse segunda que vem. Foi o mesmo ano passado e eu fiquei chupando dedo de olho azul, e lindo. E acabou.

Mas é que se ela vier eu vou me despedindo aos pouquinhos. Essa aí pede casamento. Só permite amante de alma viajante, sem tempo pra recuperar o fôlego.

Ma, se vier traga daquele céu de avião. O meu namorado favorito naquela poltrona. Ou o banco traseiro. E aquele grande amor de selim. Eu vou pedir Milton Nascimento dessa vez. Eu puxo

- Amor, meu grande amor, estou sentindo que está chegando a hora de dormir -

Té loguinho, carneirinho.



Conta um, dois, alguns meses pra tirar de mim o resto do mundo todo de antes deu ser dele mais que sua.