14 de outubro de 2010

A partir do inamor

Desculpa meninos, mas eu despi a calça jeans sem pudor. To vestindo a cinta-liga de maneira muito hábil, ágil, fastil. Ou vou com algo muito apertado. Ou muito leve e delicado. Tudo fica bem num olhar direto, de boca semi-aberta sem sorriso. Eu tenho uns toques desesperados pelo rosto: aperto meus lábios, procuro espinhas, comprimo a glândula lacrimal. Venham logo que eu to passando a língua nos dentes lá de cima.

É que eu não acredito mais no amor. Nunca confiei em relacionamentos, mas sentimentos coloridos são a grande fraude de todos os tempos. Você tem toda razão. Eu sou mal amada, mal parada, mal digerida. Tem dias que eu quero mesmo que todos os pombinhos se explodam, que nem desenho animado, pra ser mais sádico. Eu ia guardar as peninhas numa caixa de sapato. Com bilhetinhos só de papel, pingentinhos só de metal, origamis só de dobradura. E a minha carteirinha Delta Romantic Loser.

Eu me juntei a umas garotas interessantes que não gostam de ser mulher, nem menina. Nós curtimos garotos pra vida passar mais de pressa. Pra acontecer de mãos femininas tocarem costas masculinas num desses momentos únicos. Vestimos cintura alta, temos flor no cabelo ou uma camisa dos Strokes, com casado na cintura. Isso independe do fato de que nunca acreditaremos no teu amor.

Nós descobrimos a prisão de todos os canalhas, pois. A culpa não é sua, é minha

Uma terra paralela, onde é proibido eles te amarem, devido a. O problema é que te amo

A biblioteca dos finais felizes, lá. Você é a mulher da minha vida

A vitrine mágica dos cronômetros, que. Esse não é o momento certo pra ficarmos juntos

Eis o grande chamado de uma era. Arrepio de mão única. Falta de sinalização não causa acidente e evita esperança de que o laranja nunca vai ficar vermelho. Acredite quando eu digo: quem dá muitas voltas está perdido. Excesso de localização não ajuda. Pode dirigir no escuro que aqui ninguém ama. Mas claro que a luz do dia favorece as belas.

Eu sou feia, então tanto faz. Não soa angustiante o anúncio de um conquistar diferente.

6 de outubro de 2010

Pelo jeito não,

ele não existe mais.
Tem outro cara me fazendo companhia quando pego o
ônibus de caminho longo. Na verdade, eu comecei com esse ônibus por ele. Que é
muito diferente quando alguém sabe exatamente o que fazer, o que conversar,
aonde tocar. Então, tem esse garoto que chega no ônibus comigo e sai fazendo
tudo o que eu quero.

Eu sei que é estranho. Sei que parece mentira. Mas não
é.

Tem dia também que eu vou de taxi, de carona,
de pé. Aí ele não aparece. Só no ônibus ou quanto o metrô está muito
vazio.

Quase sempre vem dançando; quer dizer, é mais como um
fundo musical. Me beija no refrão, nos compassos mais eletrizantes. Eu já disse
que ele sabe fazer tudo isso. Ainda aparece diferente a cada dia. Chega de
camisa de flanela, bermuda cargo, óculos de grau e barba. De cabelo enroladinho
grande, de cabelo lisinho sujo, de cabelo que eu não sei definir. Do nada quer
ತಿರರ್ ಅ ರೌಪ, ಕಾಲೋಕಾರ್ ಉಮಾ calça ಜೆಂಸ್ ಎ ಉಮಾ ಬ್ಲೂಸ ಬ್ರನ್ಚಾ, ಮಾಸ não.

- Pode ficar assim! - eu esbravejo.

No minuto seguinte eu to rindo sem querer. É que ele
sabe fazer isso de me convencer. Eu finjo acreditar que é só ele, mas sei o
quanto sou óbvia. Gosto muito dele. Mas enquanto estamos no ônibus eu até que me
controlo bastante. Sou a mulher poderosa que os homens amam.

Sentada no ônibus minhas posições nada femininas até
que ficam graciosas. Meu cabelo não desarrumava nem quando tava longo. Minha
roupa é sempre perfeita e meu corpo escultural. Eu sou do jeito que ele gosta e
ele como eu quero. Faz tudo de errado na hora que eu decido, porque eu odeio
perfeição. E a gente só separa mesmo quando saio do ônibus.

A música me segue e deixa ele lá. Tem vezes que até me
acompanha do lado de cá. Mas some n0 primeiro susto que eu levo, no primeiro
conhecido que eu encontro, na primeira coisa que me dispersa. Quando telefona é
pra me dar bronca fofa: tem que ir no teatro, tem que escrever, senão eu não
apareço. Verdade.

Eu já falei que não é mentira. Que eu vejo ele todo dia
no corpo de alguém. Esquecido de tudo que fizemos no ônibus, dos momentos mais
íntimos. Me dá um abraço, um sorriso, um bater de mãos. Vira meu melhor amigo,
meu colega, um desconhecido. E eu só conheço ele de novo no ônibus. Mas ali é de
verdade.

Eu sou a verdadeira dele e é pra ele que eu escrevo.
Pra ilusão de que os caras de verdade são como eu vejo.

Tá todo mundo iludido. Ninguém conhece quem ama. No anonimato sou Anna Luiza Escritora Aqui do Blog. Ninguém me conhece.