6 de outubro de 2010

Pelo jeito não,

ele não existe mais.
Tem outro cara me fazendo companhia quando pego o
ônibus de caminho longo. Na verdade, eu comecei com esse ônibus por ele. Que é
muito diferente quando alguém sabe exatamente o que fazer, o que conversar,
aonde tocar. Então, tem esse garoto que chega no ônibus comigo e sai fazendo
tudo o que eu quero.

Eu sei que é estranho. Sei que parece mentira. Mas não
é.

Tem dia também que eu vou de taxi, de carona,
de pé. Aí ele não aparece. Só no ônibus ou quanto o metrô está muito
vazio.

Quase sempre vem dançando; quer dizer, é mais como um
fundo musical. Me beija no refrão, nos compassos mais eletrizantes. Eu já disse
que ele sabe fazer tudo isso. Ainda aparece diferente a cada dia. Chega de
camisa de flanela, bermuda cargo, óculos de grau e barba. De cabelo enroladinho
grande, de cabelo lisinho sujo, de cabelo que eu não sei definir. Do nada quer
ತಿರರ್ ಅ ರೌಪ, ಕಾಲೋಕಾರ್ ಉಮಾ calça ಜೆಂಸ್ ಎ ಉಮಾ ಬ್ಲೂಸ ಬ್ರನ್ಚಾ, ಮಾಸ não.

- Pode ficar assim! - eu esbravejo.

No minuto seguinte eu to rindo sem querer. É que ele
sabe fazer isso de me convencer. Eu finjo acreditar que é só ele, mas sei o
quanto sou óbvia. Gosto muito dele. Mas enquanto estamos no ônibus eu até que me
controlo bastante. Sou a mulher poderosa que os homens amam.

Sentada no ônibus minhas posições nada femininas até
que ficam graciosas. Meu cabelo não desarrumava nem quando tava longo. Minha
roupa é sempre perfeita e meu corpo escultural. Eu sou do jeito que ele gosta e
ele como eu quero. Faz tudo de errado na hora que eu decido, porque eu odeio
perfeição. E a gente só separa mesmo quando saio do ônibus.

A música me segue e deixa ele lá. Tem vezes que até me
acompanha do lado de cá. Mas some n0 primeiro susto que eu levo, no primeiro
conhecido que eu encontro, na primeira coisa que me dispersa. Quando telefona é
pra me dar bronca fofa: tem que ir no teatro, tem que escrever, senão eu não
apareço. Verdade.

Eu já falei que não é mentira. Que eu vejo ele todo dia
no corpo de alguém. Esquecido de tudo que fizemos no ônibus, dos momentos mais
íntimos. Me dá um abraço, um sorriso, um bater de mãos. Vira meu melhor amigo,
meu colega, um desconhecido. E eu só conheço ele de novo no ônibus. Mas ali é de
verdade.

Eu sou a verdadeira dele e é pra ele que eu escrevo.
Pra ilusão de que os caras de verdade são como eu vejo.

Tá todo mundo iludido. Ninguém conhece quem ama. No anonimato sou Anna Luiza Escritora Aqui do Blog. Ninguém me conhece.

6 comentários:

  1. Ray -- Acho que isso responde a minha pergunta.

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  2. Responde. Só é uma pena que você não entenda meus textos.

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  3. Ray -- Como assim ? nunca expressei nenhuma opiniao em relaçao ao seus textos, como sabe o que eu penso deles ?

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  4. Pra bom entendedor pingo é letra. Nesse caso, pergunta é opinião. Quiçá conclusão.

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  5. Ray -- Entendi, você tá certa. Não te incomodarei mais. Mas por mais que eu nao tenha entendido, gostei muito dos textos sobre "ele". Até mais.

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