8 de novembro de 2012

Meu bem,


Bom dia, doce ventania. Digo, Senhor Ventilador, como eu fui dormir tanto?

Não vale mesmo lhe apelidar. É bom que permaneçamos na farsa social enquanto você finge espantar algum calor aí de cima. Eu aqui embaixo deitada na mesa não faço questão de ter modos.

Mantenho-me geograficamente afastada, no entanto. Para que um dia você se canse de tentar disfarçar.

A sua brisa é úmida. É um bocado de vontade meio salgada que não dá pra segurar.

As suas voltas quase param. Pra me observar. Você fica mais bonito tentando ponderar círculos espirais. Que tomba pra um lado e pra outro.

Nesse longo tempo adormecida eu quase cansei de sonhar. Dava até pra gente se tocar. Quando em sonho, girar.

Mas se eu agarro uma de suas hélices na rotação é mais um teatro de loucura. Bom e frágil; bem a tempo de acabar.

Então eu acordei. Esperando um liquidificador.

Nem pense em fugir. A culpa é sua desse vai e vem na minha barriga. Eu vou parir essa sensação de centrifugar imóvel. Eu vou dar a luz aqui estirada em frente a você. 

Talvez você entenda tudo como uma obra de arte inspirado pelos contornos arquitetônicos da sua aerodinâmica. Mas é só um filho.

Um filho que a gente não vai ter o trabalho de educar.

E se você pedir, eu volto a sonhar. E a gente finge que não há nada no ar.

8 de setembro de 2012

Decidi nunca mais forjar

Quando se busca a objetividade.

Nada de encontro com o encontro. Nenhum ruído que atrapalhe. A praia e horizonte. Um monte Um monte da gente sem

Cem por cento por quanto tempo? Eu Eu bem descobri o que acontece nos bastidores dos fogos de artifício. E aquela trabalheira toda dos seres objetivos (hau) cognitivos

Quando não se busca é isso. Um blog inteiro de nada real. Agora uma história pra contrariar.

Nem de amor. Nem de nada a evitar.

O mar logo alí. Nadar sem medo. Morrer na praia. Morrer de medo.

Eu decidi nunca mais forjar.

25 de julho de 2012

Suposta subjetividade

Heis a sua lápide: uma mesa no Amarelinho
Só cai chopp. Nem lágrima
Não é o esquecido, é o falecido
Vai nascer uma plantinha

Heis a plantinha: uma dançarina
Um casal. Um quase-casal
Uns amigos
Outra mesa de bar a dançar

Um outro evento de não deitar

o meio da Voluntários

De baile na calçada sem música
Sem paixão, sem mais
nem menos
Heis a surpresa: o outro

deixo
beijo
e uma saudade do que não foi

Heis o deserto: só que não
Que hás de ser sedento
Um todo sempre
Vários artigos indefinidos

e eu
a minha visão
a sua
o que ficou
e o adeus.

14 de julho de 2012

Fantasmas de sábado à noite

que viagem

Tomei todas e fui ver a vista
maquiada de sozinha
vestida de você
o mais belo quadro do Rio pra ver

Deixo na baía um olhar
puxo, prendo e solto suspiro
doce, evito desperdiçar
Busco nunca esquecer
e devo menos lembrar

Eu queria que você se despedisse
pois eu vou embora
E você foge preso no chão
desde os dezesseis
desde os quinze talvez

Vamos ficar mais uma vida sem se falar
dormir junto e deixar pra lá
há um quê de você nisso tudo
nesse emaranhado bobo que é meu mundo

9 de julho de 2012

Você pede

uma calmaria louca 
que combina
com esse vento frio
e a tanta água de ser
de amolecer

uma voz mais rouca
um proferir de mentiras
todas e tantas
tanta água que  só amolece

um calar de boca
um não-beijo
esse silêncio estridente
a sua mão na minha quente
sem estar

Eu hei de fazer todas as vontades
mesmo as maldades

E um dia o mundo há de entender
que os poucos loucos
são roucos
pois se é que você pede
a gente cede.

21 de junho de 2012

O pequeno apontador



Dentro do estojo de uma menina havia este apontador. Ocupava o mesmo lugar que uma moeda de um real. Era verde fluorescente e estava com manchas de uso. Jazia ali na companhia de lápis bem apontados e canetas esferográficas azuis.

Era o material menos utilizado. O que não é preciso renovar de mês em mês, sequer de ano em ano. Ela fingia que não possuía apontador quando a pediam e gostava de segura-lo bem apertado quando estava nervosa. Ele simbolizava o tempo pra ela. Nenhum lápis volta a ser o mesmo depois de apontado.

Ainda não tinham convencido aquela menina de que um lápis poderia escrever tão bem após feita a primeira ponta. Era doloroso quando se quebrava. Ela era cautelosa com movimentos bruscos no seu traçar. Conheceu sua primeira paixão deixando um lápis recém-apontado cair.

Ele pegou, a entregou e começaram a conversar. O menino era bem diferente das fantasias que sua cabeça faziam dele. Conhecê-lo melhor era ter a certeza de diminuir o tamanho-lápis dessa relação. Mas aí ela descobriu que fazer ponta também é bom.  

15 de junho de 2012

Quando ela chegar

Ela disse segunda que vem. Foi o mesmo ano passado e eu fiquei chupando dedo de olho azul, e lindo. E acabou.

Mas é que se ela vier eu vou me despedindo aos pouquinhos. Essa aí pede casamento. Só permite amante de alma viajante, sem tempo pra recuperar o fôlego.

Ma, se vier traga daquele céu de avião. O meu namorado favorito naquela poltrona. Ou o banco traseiro. E aquele grande amor de selim. Eu vou pedir Milton Nascimento dessa vez. Eu puxo

- Amor, meu grande amor, estou sentindo que está chegando a hora de dormir -

Té loguinho, carneirinho.



Conta um, dois, alguns meses pra tirar de mim o resto do mundo todo de antes deu ser dele mais que sua.

26 de maio de 2012

Havia mil motivos pra eu não estar naquele show

Tudo bruto. Esse batuque, cutuque, você. Passando a mão no meu joelho de pai no banco da frente.

Cinco anos a passos largos. Eu de menina, de dezesseis, de calça jeans e salto alto. O meu luto eu faço de vestidos e rasteiras. E evito o preto, porque ele me lembra a sombra. E toda penumbra merece o nosso beijo.

Uma geração de você. De vilão, de dezesseis, de calça jeans e all star verde. Eu queria saber dessa dimensão em que você vive a minha ausência. Que evita a confusão por uma espécie de zêlo ao mistério. Que o que explode contrai. E explode de novo.

Eu choro enquanto lembro. Rio quando quase esqueço. E é como aquele trecho do Vento, o trecho de você que me oferece um cerveja. O trecho da Lapa que a juventude resignifica. Você de significado. Eu de significante.

Eu quero escrever um bom texto pra você. E só pra você ler. Mas o dia que isso acontecer eu chuto comemoração de vinte anos de carreira. A gente vai assim, de cinco em cinco, benzinho. Bem como nada previsto que tá dentro do mínimo do seu espaço.

Aquela torcida pra nada se comparar ao que se compara. Eu acho que os nossos toques já mereceram música. A nossa distância merece muito mais.

Eu devo a minha inspiração ao que consigo sentir. Houve um show em que tudo me inspirou.

17 de maio de 2012

amar ante

escorrego pra ponta do selim
e o horizonte
vem de apito contra o vento

e a rima
que eu gosto
eu aposto
morre nesse ponto final.

1 de maio de 2012

O ufa de quando tudo acabar

- aí, mano, bô sa comida? Que ta com jeito de sobrá pra mim...

- Nada sutil, véi. Mas 2012 e o fim do mundo tão pedindo pôca sutileza meism.

30 de abril de 2012

Os trastes do ConTRaL

Gosto desse negão de fantasia. Parece que daria certo sambar e fazer de tudo não dito erudito.
Se eu amo, é um menino. Um gaguejar. Todos os anti-exemplos que você decidiu imitar.

Eu quando sobe no palco. E quando constrói. E quando olha. E quando dói.

E mesmo quando não.

Eu amo que dá pra fazer comparação.

De todos os músicos, os letristas, os engenheiros, técnicos e marceneiros; de quê figurar de sabichão? Uma onda téc de info mexeu o mundo todo. E agora nem adianta decantar. Do processo químico mesmo.

Que não vale a pena evitar gostar de tudo copiado.

Eu amo a sua voz quando me canta algo já inventado.

22 de abril de 2012

abalroe


aqui com você tem prazo
e eu quero paz e manteiga
culpa sem hora pra acabar

não termina nada nem eu
dá qui sua mão que nem foi
de aperto em aperto, te levo
confia que sei dum breu
duma redoma,
de todo o vazio que toma
dá qui sua risada que nem oi
de acerto em acerto, prescrevo

por tu e por tudo
põe ponto não, que eu deixo tudo chei de vírgula, só
por aquilo e por amor
por pessoas e por pessoa
pra você ver eu me acabar de se e si e gula, e só

dá qui o relógio e a corrente que eu vou engolir
de olho fechado vem que dá tão espaço que té sumir

(...)

abalroar: investir impetuosamente

17 de abril de 2012

Amante,

Cabes direitinho nos meus delírios
Que são largos
Que eu afasto como nadar pra longe em mar aberto
Nem dou a mão
Eu uso a condição de uma fuga pra chegar perto

Daqui de um sentimento
Do meu olhar pra dentro
o mundo é uma sacanagem
A sombra do escuro
A sobra do casado
A sombra é só selvagem

"Quem vai virar o jogo
e transformar a perda em nossa recompensa?
Quando eu olhar pro lado
eu quero estar cercado
só de quem me interessa."

Eu não vou abrir o olho
Eu não quero ver o sol
nem pra ver você
Que assim de olho fechado tá bom
Que eu canto Lenine
me basta enlouquecer
enquanto tem você nesse amanhecer




16 de abril de 2012

Amigo,

E se inventassem uma máquina de fazer origami eu pegava o teu molde. Nada ia sair tão bom quanto aquela coleção que ainda guardo. No mais o sentimento é um papel em dobradura. Um quadrado plano que ganha volume. Eu enxerguei naquela flor uma paixão. A dobra é uma cicatriz, um aprendizado. Me faz delirar de bonito o meu quadrado todo dobrado.

E se conseguissem que eu me expressasse de outro jeito, eu prometo que lhe falaria com mais cautela. Aprendi com você o método. O tempo que demoram todas as coisas é necessário e incalculável. Primeiro esta dobra, depois aquela. Isso não é um móbile inteiro. É uma florzinha; perfeita em si. É que quando eu quero móbile eu fico cega e fazendo bolinha de papel do presente dos outros.

E se fosse pra enquadrar, te dava aquele quadrado. Hoje dobrado e amassado. Cheio de personalidade. Não posso inventar palavras pra falar do amor a um amigo. Devo ser direta. Eu vou escolher a moldura mais bonita pra uma obra de arte que fala de aprendizado. A reinvenção de uma amizade, cheia de atos e desatos, é de emoldurar. Eu quero que os que vierem entendam que o tempo destrói construindo.

Amigo, se a vida parasse pro almoço eu pedia arroz, feijão e farofa em sua homenagem. Apesar da peleja que é o vai e vem, há quem chegue pra ficar. E quem parta deixando um painel gigante de traçados lindos. Uma dobralinha liga-se a outra num caminho a uma espécie de reencontro. Tenha fé que o tempo é insuficiente pro tamanho amor que vivemos aqui.

Hoje se o mundo me permitisse eu costurava uma colcha de origamis pra te acalentar. Fazer isso com palavras fica mais fácil pra mim. E depois de um longo sono espero que acorde pleno para um recomeçar. Transformar-se num novo formato lindo, como os que você faz. Ciente das cicatrizes. O que faltava a minha flor era um apoio que a deixasse em pé. É o que posso garantir que não lhe falta(rá). 

27 de março de 2012

A Anna escarra na cara do perigo

Quer ouvir da sua vida?
Chega mais
Faz que vem
nunca mais

Ripititiva toda vida

Aiela, lá no Canadá
Ieu, nesse texto du sulinhado vermelho
Nessa ode Windows ao sagrado centelho
Qui né só eu
Qui souffre de ça
A Yza, a Julia e a marmota
o que deveria ser não é moda
é uma fase
um pedido
o dever comedido

E qui si ixploda

Taqui o quão prolixo cê prucura
Pro lixo todo do sentimento-loucura
Hoje eu esqueço você em homenagem às mulheres
As cultas, adultas, amigas
aquelas que não queres

24 de março de 2012

Nunca branca demais

Nuca branca
Nunca mais
Num ranca e finca paz dentro de mim

Que eu vou virar um desejo de beijo de
Nunca mas

Era uma vez o lugar onde mora o sentimento. Habita a portaria. Fala com o porteiro. Pega o elavador; sobe e desce. Beija do nono ao térreo. Para só pra tomar a escada. Num gole de sonho que falta a vida banal. A vida conjugal.

Sinto uma imensa vontade de ser de você. A intensa maldade de tudo esconder. Eu peguei emprestada a borracha da colega pra não devolver mais. Morder borracha de bom, de besteira de nem ter vergonha de nada de nem de ninguém. Você é do mundo e tudo bem. Quem sabe ela não sabe que não te tem. Tome borracha. Tome borracha toda mordida. Todo mordido querida. Todas as que você quer.

Vou viver pra sempre numa madrugada até o amor acabar. Fingir que é amor o que eu não sei controlar. Pra toda vez jurar de vez em vez que não tem vez da gente fazer o que fez. Vou viver de dia no dia de uma despedida. Pegar a borracha dela com e sem intenção de apagar pra sempre a razão.

27 de fevereiro de 2012

Ponto e vírgula

Eis a história de uma amiga. Uma amiga conhece dois homens. Dois homens passam por uma mesma dificuldade. Eles preferem se abster de manter amizade e que a amizade os mantenha. O que eu digo a essa amiga é que eles deveriam ler Rubem Fonseca. Andar com uns mano lá da quebrada. E deixar de ser viado.

Eu conheço esse tipo. Eu quero distância.

Eis o meu corpo nú. Em suas camas. Todo coberto. Até o rosto. Eles confessam algum problema psicossomático que os impede de agir em prol da comunicação e escolhem o lençol branco mais bonito e transparente pra me cobrir. De dedos cruzados pra cair uma chuva.

Eu conheço esse tipo, mas hoje eu acordei com uma vontade de me machucar...

Toda vez que eu penso nas minhas outras vidas eu penso em vocês. Me fantasio de diva com uma facilidade. Sucumbir ao melodrama é mais fácil ainda. Ainda assim ninguém aparece. Tá todo mundo comprando lençol branco bonito e transparente mundo afora.

Eis o meu azedume. Eu sou especial numa querência esquisita de quem não me quer. Das coisas babacas que ouvi por aí é que só se perde o que tem. Eu tenho uma amiga que conhece dois homens com o mesmo problema.