10 de julho de 2011

A Farsa

Você com essa mania de se apaixonar por banalidades. Não consegue terminar um texto. Faz um bololô de frases soltas à serem melhor aproveitadas no rodapé de um calendário clean, numa noite de domingo sem ideia do que postar no Face.


- Ei José, eu não consigo escrever de forma objetiva o bastante. Nós somos dois protagonistas desse sonho inútil. A mazela de inventar o onírico, de arranjar verso bonito num sei onde.

- Cai comigo na estrada? A Rodoviária tem nome próprio. Eu vou te levar pra uma cidadezinha sem narrador.

- Vamos partir pra algo mais íntimo que sexo? Me mostra a playlist do seu Ipod.

Alguém arranjou de organizar o pensamento e quanta genialidade não foi desperdiçada com medo da loucura. Eu escrevo com prazer e sem método. Eu dou um prato de comida pro pedinte e ignoro o menino que me olhando daquele jeito no trânsito. Quem entende o que eu digo?

Até agora só rolou preliminar. Eu te enrolei com novecentos e trinta e nove toques pra despertar o assunto. Minha linguagem é um personagem e só vale se representar algo que não sou. Ela diz:

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Era uma vez uma jovem. Convidada à viajar, pegou ônibus numa estação com nome de Farsa. Dalí gente partia pra tudo quanto é canto. Ela ia tentar conhecer alguém. Durante o caminho todos ignoravam a estrada. Prestavam atenção no quão inclinada estava a poltrona da frente. Se passasse do limite dava pra reclamar.

Chegou no hotel e pediu um quarto de casal com vista pro mar. Ensaiou um striptease; tinha o cuidado de pousar a mão sobre as roupas de jeito elegante. Pediu champagne, mas desistiu. Ligou pra pedir cerveja e pizza. Tomou um banho de quarenta minutos e passou hidratante. Adoraria eternizar as vezes que cheirava o ombro com aroma de mel. Deitou na cama e dormiu.

Voltou entendendo a estrada. De onde saía e aonde entrava. Conversou com o motorista que nunca teria a sorte de parecer interessante. Casar só se fosse cosigo mesma.

O motorista gostou daquilo. Descobriu anos depois que a moça foi seu grande amor perdido. Ou então, num happy end eles decidiram no meio da viagem que ficariam juntos para sempre.

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Quem sabe onde compra lencinho branco de acenar na partida? É mais um detalhe que fica na forma. Mais uma banalidade que me apaixona. Sempre quis conhecer as profundezas, mas o mundo é uma estante empoeirada e todo mundo só passa o dedo e assopra.

Era uma vez a Farsa. Lá vende bilhete pra quem quiser vir até aqui. Encontrar o amor da minha vida vai demorar o tempo de fazer as contas pra cobrança de tarifas.