29 de abril de 2013

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Eu gostaria de ter 40 anos pra entender o que está acontecendo. Sou mais imbatível que esse super-homem deitado no divã. Eu tenho uns óculos com os ares e aros de fanfarra, mas a minha conduta é nada ousada. Nada careta. Eu to perdida.

Ter 40 me ajudaria a acalmar o coração impaciente que cruza a esquina e enrola o cabelo pra esperar o grande amor. Ajeita a coluna lendo um livro na pracinha quando passa alguém que pode roubar o coração ou despertar qualquer suspense que preenche a falta da mínima aventura necessária pra anotar o celular com giz no meio da amarelinha que as crianças largaram pra ir jogar videogame.

Eu tenho um amigo brilhante que vira noites zapeando a TV a cabo. Ele não passou de ano no terceiro ano, mas suas conversas de bar deveriam estar imortalizadas em coletâneas com capa dura. Eu tenho uma pá de amigos incrivelmente frustrados, fracassados, fudidos. Uns vários que escrevem, tocam, interpretam, soletram muito bem. Eu tenho a sensação de que todos eles viram as noites zapeando a TV a cabo.

Eu quero ter 4 filhos. Duas meninas de um francês, um menino de um pernambucano e outro de um baiano. O meu primogênito eu quero que trabalhe com restauração. Nenhum deles pode ser engenheiro, nem economista. Advogado só pra trabalhar com direitos humanos. É muito importante que todos sejam de esquerda. Eu teria discussões homéricas com o caçula se ele resolvesse apoiar algo como a redução da maioridade penal. Depois eu jogaria no sofá e faria cócegas.

Aos 40 eu espero ter tido pelo menos um relacionamento estável que olhe com carinho pra todas as paixões ensandecidas que deixei na estrada. Que seja cordial com as que me acompanharão até o fim da vida. Um grande amor deixa mais que filhos. Já mãe, aos 40, eu espero entender o que isso significa.

Quero ser como o meu velho que só faz inspirar todos os bilhetes daqui-pralí que compro nessa Europa que vai ficando pequena pros meus 20 e poucos anos. Quando eu estiver numa livraria minúscula em alguma cidade do estado de Oregon eu lembrarei dessas noites que passei em branco tentando resolver em poucas horas o que fazer dessa minha desajustada vida. E lembrarei que resolvi escrever.

27 de abril de 2013

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um rum
eu vou tremer meu corpo inteiro antes de digitar aquela frase que eu fiquei pensando horas pra formar
isso é paixão na era digital
ei, menino. Já que o mundo quer ser hipster eu vou dizer agora mesmo o quanto me encanta suas olheiras.

dois um rum
fez aquele barulhinho de que alguém me respondeu
eu não quero nunca ler o que você escreveu
sou ruim de rima, haha
não sei nunca o que falar
hehe
não sei nunca o que dizer

ai que conversa é essa da gente tentando elaborar o que todas as outras pessoas resumem em kkk

um dia vai existir um arquivo físico dessas conversas de msn
vão perguntar o motivo da sigla
mas nunca
eu duvido muito mesmo
vão se ligar na poesia
que ali havia