Estou escrevendo uma carta para os meus dezessete. O mundo é muito cheio
de mudanças climáticas e eu preciso preveni-la. Entre as drogas e a prevenção
sexual deveria estar o aquecimento global na lista de preocupações dos meus
pais. Tudo o que é de aquecer fez uns estragos imensos nos últimos anos.
No entanto, a pequena de dezessete não teria evitado tamanho degelo de
calota polar.
Escrevo mais para que ela pare de buscar as palavras certas. Aprendi que
nada comprova mais a lei da inércia do que a força que faço pra tentar
combiná-las em vão. No banho o mundo fica mais frio e mais quente. No banho eu
consigo arranjar perfeitamente todas as frases feitas que eu preciso te dizer.
Mas fora dele não.
Talvez eu recite uns versinhos em espanhol pra contar como foi
descoberto o eixo errado do mundo. Uns em francês por amor. Uns em português
pra desmentir que sei falar outras línguas. Nada deve perder seu mistério e eu
mesmo não quero que ela deixe de aprender.
Mas Deixa estar.
Que a banda acaba, o show continua e o meu banho ta servindo pra
organizar os pensamentos.
E pra fingir.