18 de março de 2013

O gosto do gasto

Estou escrevendo uma carta para os meus dezessete. O mundo é muito cheio de mudanças climáticas e eu preciso preveni-la. Entre as drogas e a prevenção sexual deveria estar o aquecimento global na lista de preocupações dos meus pais. Tudo o que é de aquecer fez uns estragos imensos nos últimos anos.

No entanto, a pequena de dezessete não teria evitado tamanho degelo de calota polar.

Escrevo mais para que ela pare de buscar as palavras certas. Aprendi que nada comprova mais a lei da inércia do que a força que faço pra tentar combiná-las em vão. No banho o mundo fica mais frio e mais quente. No banho eu consigo arranjar perfeitamente todas as frases feitas que eu preciso te dizer.

Mas fora dele não.

Talvez eu recite uns versinhos em espanhol pra contar como foi descoberto o eixo errado do mundo. Uns em francês por amor. Uns em português pra desmentir que sei falar outras línguas. Nada deve perder seu mistério e eu mesmo não quero que ela deixe de aprender.

Mas Deixa estar.

Que a banda acaba, o show continua e o meu banho ta servindo pra organizar os pensamentos.

E pra fingir.

6 de março de 2013

A Louca


No canto mais alto e estridente do caos existe um cabana. Dentro dela mora uma Louca. Durante séculos dos incontáveis momentos de ócio nessa inexatidão ela havia sumido. Deixando uma música do Little Joy, deixando uma revanche, deixando a vontade, deixando Dê de Dé em quase todo início das frases.

Daí então pintou uma traição. Coisa que Louca nunca vai entender. Deu briga entre o ser, o saber e o querer. Foi tudo culpa da alucinação, da falta de fé; da falta de Dê no Dé.

Na história chegou enfim um cara feliz. O melhor amiga da Louca. O melhor amigo de todos. Ele destruiu aos poucos a cabana e pediu que ninguém o contasse de tudo o que fazia sem saber.

Um dia a Louca ligou, pediu todos os detalhes e o mundo pôs-se a tremer e girar, pôs-se feliz a cantar. Tudo ficou rosa, azul, quadriculado e branco. Tudo ficou meio manco, sem o fim pra completar.

Agora a Louca está aí, dentro de mim como antes. Fazendo frágil o durante de quando a gente está a sonhar.

1 de março de 2013

O não-dito

Que hora pra estalar os dedos
Que hora pra ficar com o coração na boca
Que hora pra ter vontade de cheirar a sua camisa quadriculada em cima da cama
                          - e esse desodorante de merda só vai me fazer lembrar desse momento

Antes que o leitor pense que é infelicidade

(...)

É a minha nova tatuagem

O não-dito
                ; que ficou debaixo desse cobertor
ficou na ponta língua
e vai abrir desengonçado essa janela difícil
e descer de tobogã
até ninguém nunca precisar saber
e a gente fingir esquecer

(...)

Enquanto eu espero os parabéns o vento resmunga que dá azar antes da hora

Usa o seu óculos de menino estudioso
                                                         - e esse ar
pra mudar toda essa rua

Constrói um correio, sei lá
Eu to revisitando o mesmo lugar
Eu cresci um pouco pra entender que nada desata sem se encontrar