2 de abril de 2011

Vossa Válvula e tua reforma

Era uma vez uma menina que tinha pacto com o diabo. Um dia ela chegou a sala e anunciou pra toda família que a prima fazia sexo com um sujeito. Falou isso como nenhuma outra criança de dois anos falaria. Aos seis comia uva de garfo e faca, aos nove fazia professoras lhe arremessarem tamancos, aos douze destruiu a exposição que valia ponto na última fase da olimpíada de conhecimento. Mas ainda assim em seus intervalos solitários não se faziam lacunas. No terceiro degrau do segundo lance de escadas do quinto andar, ninguém sabia quem era a estranha a gargalhar do verso da embalagem de Ana Maria. Ninguém poderia acreditar.

Sem causar muitas suspeitas, ela continuou a trabalhar. Chamava um ou dois menores, tirava monstros da televisão e como a fazia bem causar o pânico. Arrancava uma página daqui, colava noutra página alí e lá estavam as fábulas em confusão. Cada dia com uma gargalhada diferente, inventando que não sabia espirrar. Mas ainda assim ninguém desconfiava. Achavam bonita a história da Voz.

A Voz era um amigo, sem muitas requisições. "Era o murmúrio de um fingimento e a encarnação da verdade sem medo." E dizer isso era fazer todos acreditarem no que dizia. Ela criou o engano e ninguém percebeu. Por isso o Diabo lhe deu nome de Anna, a que engana. E Luiza, a que enfeitiça. Mudou a grafia da Voz e tomou o mundo de inexatidão. Ela passou a se chamar Segunda Pessoa do Plural desde então.

Para os íntimos, Vós. Para as belas donas, Vossa. Para Anna Luiza, Vossa Válvula de escape.

Minha empregada dizia que criança que fala sozinha tem pacto com o Diabo. Desde que descobri resolvi compactuar...