22 de dezembro de 2013

Ao que é efêmero

Enquanto os pais brigavam na sala sentou no chão do box de um banho gelado com medo da lacraia sair do ralo e fazer viver todo aquele sofrimento que não se tem ideia do quê seja. Se viu caindo no trilho do metrô. Depois só sentiu o vento do vagão passando bem na frente. Aquele vislumbre da vida de olho fechado. Como todo beijo apaixonado. Como toda vez que ninguém pode saber que é paixão.

Quase todo dia morre um jovem de felicidade enquanto desce o gole da cerveja mais gelada. É que ele leva o tato do copo americano e o calor do Rio. Todo dia a gente ganha um prêmio de consolação por aturar a gente mesmo. Quando sente que é funcional continuar vivendo pra ter ápices de felicidade seguidos de súbita melancolia decide sair de casa pra encontrar alguém que nem é tão interessante assim mas pode transformar meros toques casuais numa casinha. Numa caminha. Em tudo que é muito pequeno e corre o risco de ficar muito grande. Tudo que vale a pena arriscar.

Nessas horas todo mundo é como todo mundo é. Fica emocionado com o menininho perdido que a gente ajudou a encontrar a mãe porque acredita que a possibilidade dele ter entrado na nossa vida é a mesma de cada pai dos três filhos que alguns de nós queremos ter. Cada um dos três pais.

Eu nunca achei que fosse me viciar em drogas, nem na máquina do tempo, embora eu tenha certo pavor de estar obcecada pelo momento que eu conheci o menininho perdido que eu ajudei a encontrar a mãe.

26 de novembro de 2013

Enquanto eu faço um remédio da minha cabeça

Um banheiro de pastilhas cinco por cinco nas cores amarelo, azul, verde, vermelho e branco. Sem qualquer formalismo. Podendo fazer o desenho que for.

Um belo dia acordam no teto dois pelados. De cabeça pra baixo ficam supondo as inúmeras possibilidades de figura e fundo que o colorido promove. De tanto ele olhar praquela florzinha igual a do anel dela que ela aposta que está bem na direção da ponta do pé esquerdo. Ele diz que está com quadradinhos coloridos nos olhos. Ela ri e fala que é a quantidade de anfetamina na cabeça dele.

Ela ganha um beijo atrás da orelha. Cai uma lágrima.

O chão do banheiro tá ensopado. Cozinhando uma infelicidade.

Ela quer alcançar o telefone da emergência boiando lá embaixo, mas a gravidade não existe mais. O frio na barriga não tem mais o gosto daquela pele cheia de sal. A água toda é menos úmida, mais insossa.

Ela fica p(a)irando no teto. Tenta encontrar ele lá embaixo.

Espera o momento que um braço vá emergir e puxar uma cordinha que a despenque. E que ela caia na água. Sinta o corpo dele. Que eles façam na piscina. Que toque o que há de mais cafona dos anos 70. E nunca mais a ressaca vai ser tão ruim quanto tem sido.

Um banheiro de pastilhas cinco por cinco nas cores amarelo, azul, verde, vermelho e branco. 
Nele toda a loucura faz sentido.                                                                                                 
Fora dele eu to perdida querendo encontrar a chave dele de mim.

11 de novembro de 2013

Mondongo

Estive com você treze vezes antes de conhecer. Em alguma delas você hesitou em perguntar a direção do portão de embarque porque eu tinha cara de cigana. Na décima esbarrei na corrida pra pegar o ônibus e tive vergonha de pedir desculpas. A primeira dessas vezes fomos as duas crianças tímidas convidadas a subir no palco de um teatro de domingo. Você ensaiou um passinho da quadrilha e eu acompanhei. Me deu um beijinho na bochecha e me esqueceu.

Eu esqueci de você algumas vezes antes de te ver. Te olhei várias antes de reconhecer. Já estivemos a menos de cinco metros em alguns festivais; na mesma fila daquela mesma casa noturna; atrás um do outro na disputa pelo primeiro drinque grátis. Fui apresentada a você uma vez enquanto ensaiava uma abordagem ao seu melhor amigo. Você veio me dizer há muito tempo que eu era parecida com uma amiga sua e eu certamente fui antipática. Eu sou de fato parecida com uma amiga sua. E nem foi ela que nos aproximou.

Te vi numa noite. Te olhei numa foto. Te reconheci num show. Mas acho que nunca soube bem quem você é. Coleciono uma série de possibilidades de te encontrar por aí que sempre foram tão fartas quanto parecem agora que eu vivo a colecionar. É como se eu tivesse entrado na fase em que você existe. O fundo e os movimentos são os mesmos, mas existe uma nova dimensão. Ou existe a vontade de ter te encontrado antes, ter aproveitado mais, ter usado óculos.

Quando eu já sei onde te achar e fica cansativo encontrar, a experiência vira uma história. Eu adoro histórias, mas elas serão eternamente melhores como experiências. Nesse momento eu choro, pra vista ficar turva de você. E tentando não te ver eu vou reconhecer que existem muitas dimensões, a gente enxerga muito pouco e nunca cansa de encontrar. E quem sabe da próxima vez que você passar eu vejo alguém que eu nunca soube enxergar.

21 de setembro de 2013

Grande Zeca

Zeca quer que eu tire o short. Zeca mete o pé no acelerador e a gente goza.
A válvula de escape da nossa vontade é botar o carro pra andar.

Zeca sabe um pouco que eu penso um pouco nele.
Zeca sabe mais que eu penso nele só pra fuder.
Zeca deveria saber que eu sou de tremer.
Paramos nessa parte que as partes entram e saem.
Ficamos parados numa vaga sem ter muito pra onde sair.

Nesse momento eu odeio os nossos pais e esse excesso de zelo.
Dane-se. Ele curte me tocar.
Eu curto o sorriso dele.
Enquanto percebo ele sorrindo esqueço quem pode nos perceber.
Foda-se. Não, me fode. Ah, não fode. Ta tocando Elis, é isso mesmo?

Toca Elis e me toca, Zeca.
Deixa eu montar em você.
Eu vou pensar que de uma outra vez você tira a cueca e fica mais fácil de lamber.

De uma outra vez eu quero beijar bastante tempo
Mas de um jeito que tem tempo pra acabar
De uma outra vez a gente tira toda a roupa
E ainda faz parecer que não pode tirar
Dessa outra vez quero que você ponha tudo
Tire só na hora que não der mais pra ficar

Pare bem depois que eu pensar que você vai parar.

9 de setembro de 2013

É por eles que vou me apaixonar

Agenor não faz ideia. Deve conversar com outras duas garotas além de mim. Eu converso com outros sete caras além dele. Por amizade, por sexo e na maioria das vezes pra treinar a minha habilidade de responder coisas divertidas num curto espaço de tempo. É como se eu fosse um hamster que acaba de entrar na roda
.
Agenor tem seu charme e nenhum animal de estimação. Não entendemos muito bem o porquê de manter uma relativa distância enquanto discutimos questões calorosas, mas deve ter a ver com a física quântica. Faz parte do léxico complicado das coisas não ditas. Deve estar explicado na mesma enciclopédia que me fará entender qual a nossa dificuldade com toques e cumprimentos.

Ninguém nem imagina, mas eu sei que todos sabem. Agenor e eu somos apenas amigos. Somos menos amigos todas as vezes que por menos de três segundos me imagino mais perto da boca dele. Mas ninguém nem imagina. E eu sei que todos sabem.

O que sinto por Agenor não é bem amor. É menos que paixão e mais quieto que um furor. Um dia o meu bem partiu e foi Agenor quem ficou. Escutando a minha espera. Cada sorriso meu de saudade ele acompanhou. E sorriu de volta. E de voltar que dia desses me declarei viúva.

Posto isso caso com Agenor e volto para a realidade florescente do meu computador. Qualquer chat virtual me permite criar um verdadeiro amor enquanto eu finjo que não vi o Zeca passando de bicicleta. Finjo que não o vi quando ele estava bem ali. Ficamos eu e Zeca nessa fofoca sem dar uma bitoca meio que numa lorota a enganar o Agenor.

Deixo os dois pra lá. Essa era da internet é boa que não me compromete que eu compro um monte de cassetes e é por eles que vou me apaixonar.

27 de agosto de 2013

e no mais tudo na mais perfeita paz

Pro seu approach brazuca te passo Novos Baianos
Enquanto deixo de gostar um pouquinho dele
Gosto um pouquinho mais de você

Vão inventar a gente numa música inventando gente que inventa gente da gente mesmo
É uma questão de coragem
De colocar o Doutor Agenor pra beijar a boca de uma amiga

Eis Agenor, um cara comum
Tão normal que da vontade de ser normal do lado dele abraçadinha no frio enquanto sai fumaça do café
E ele nem gosta de café

Eu também não
Não sou do Rio, do Brasil, da Tijuca, do sul nem do norte, nem da gente
Nem gosto de café

Eu vou comprar uma Kombi antes que saia de linha
Vou por o Agenor pra dar o beijo proibido na hora proibida

Depois a gente cai na estrada fugindo da impressão que tudo deve ficar quieto quando nunca está

14 de agosto de 2013

Eu e minha amiga Clara

Hoje saímos eu e minha amiga Clara
Em meio a uma tempestade de chuva rala
Mas nem chove e nem faz sol
É casamento de mentira, de viúva e de espanhol
São duas cabeças nubladas
Uma dor-de-cabeça de gente grande
A gente Chloé, a gente Capitu, a gente Ghandi
O coração batendo asas feito elefante
Eu trupico, ela tropeça
rimos a beça
desse vinho que não é de mesa
que soubemos bem escolher

Veja, Clara
Tu claramente podia ti chamar Laara
pra rirmos bastante desse "ti"que eu pus aqui
Vamos falar de política, falar mal, coisa e tal
Vamos nos ater a razão
Andar na contra-mão
Pensar um pouco e criticar
Viver um monte e se atrapalhar
Ter amigos

Eu quero é deitar na rua e quem não quer
Andar no viaduto e seja o que a gente quiser

8 de agosto de 2013

A profecia
















Com a chegada da primavera o mundo sucumbirá a um precipício extenso entre o sul e o norte. Nesses tempos de hoje nada que afaste. O solo em depressão é o calo da gente ao revés. Um incômodo nítido e impaciente. Tende logo a se sarar.

É com o aviso que espero ver todas as companhias aéreas se compadecendo.

A causa nessa eventualidade é um misto atípico de acaso e saudade. Um acúmulo inesperado de não ficar na vontade. Uma sedimentação involuntária de conversas sinceras, olhares furtivos e brechas covardes. E a covardia sucumbe à coragem que sucumbe à covardia que sucumbe à coragem... Que torna tudo mais profundo.

Dessa maneira é complicado prever com que frequência, mas pouco a pouco enfileram-se corações conectados prestes a se jogar. O acontecimento tomaria proporções incalculáveis a partir de um suposto declive também entre leste e oeste. As consequências se dariam em progressão.

No entanto, nada desastroso. Coração que se joga o vento leva. A previsão do impacto não há de remediar. E o King Size no terceiro volume da sua extensa obra observou que a loucura era a dose certa entre a falta e a vontade. De tal maneira o que preenche a brecha da saudade.


E nós estamos tratando de brechas. De eu e de você e das malditas companhias aéreas.

9 de maio de 2013

Quando num ônibus eu deveria estar a pé.

Brigou com a família.

Saiu de casa.

Pensou em como queria ter os braços de um garoto pra poupar a calçada de suas lágrimas.

Olhando pra calçada, esqueceu de olhar o semáforo.

Foi atropelada no cruzamento.

Morreu dois dias depois.


Brigou com a família

Saiu de casa.

Pensou em como queria ter o colo de uma menina pra poupar o volante de suas lágrimas.

Olhando pro volante, perdeu os reflexos.

Atropelou alguém no cruzamento.

Ela era mesmo linda.


(...)

Quando num ônibus eu deveria estar a pé.
Quando a pé eu deveria estar deitada.

29 de abril de 2013

untitled


Eu gostaria de ter 40 anos pra entender o que está acontecendo. Sou mais imbatível que esse super-homem deitado no divã. Eu tenho uns óculos com os ares e aros de fanfarra, mas a minha conduta é nada ousada. Nada careta. Eu to perdida.

Ter 40 me ajudaria a acalmar o coração impaciente que cruza a esquina e enrola o cabelo pra esperar o grande amor. Ajeita a coluna lendo um livro na pracinha quando passa alguém que pode roubar o coração ou despertar qualquer suspense que preenche a falta da mínima aventura necessária pra anotar o celular com giz no meio da amarelinha que as crianças largaram pra ir jogar videogame.

Eu tenho um amigo brilhante que vira noites zapeando a TV a cabo. Ele não passou de ano no terceiro ano, mas suas conversas de bar deveriam estar imortalizadas em coletâneas com capa dura. Eu tenho uma pá de amigos incrivelmente frustrados, fracassados, fudidos. Uns vários que escrevem, tocam, interpretam, soletram muito bem. Eu tenho a sensação de que todos eles viram as noites zapeando a TV a cabo.

Eu quero ter 4 filhos. Duas meninas de um francês, um menino de um pernambucano e outro de um baiano. O meu primogênito eu quero que trabalhe com restauração. Nenhum deles pode ser engenheiro, nem economista. Advogado só pra trabalhar com direitos humanos. É muito importante que todos sejam de esquerda. Eu teria discussões homéricas com o caçula se ele resolvesse apoiar algo como a redução da maioridade penal. Depois eu jogaria no sofá e faria cócegas.

Aos 40 eu espero ter tido pelo menos um relacionamento estável que olhe com carinho pra todas as paixões ensandecidas que deixei na estrada. Que seja cordial com as que me acompanharão até o fim da vida. Um grande amor deixa mais que filhos. Já mãe, aos 40, eu espero entender o que isso significa.

Quero ser como o meu velho que só faz inspirar todos os bilhetes daqui-pralí que compro nessa Europa que vai ficando pequena pros meus 20 e poucos anos. Quando eu estiver numa livraria minúscula em alguma cidade do estado de Oregon eu lembrarei dessas noites que passei em branco tentando resolver em poucas horas o que fazer dessa minha desajustada vida. E lembrarei que resolvi escrever.

27 de abril de 2013

inbox


um rum
eu vou tremer meu corpo inteiro antes de digitar aquela frase que eu fiquei pensando horas pra formar
isso é paixão na era digital
ei, menino. Já que o mundo quer ser hipster eu vou dizer agora mesmo o quanto me encanta suas olheiras.

dois um rum
fez aquele barulhinho de que alguém me respondeu
eu não quero nunca ler o que você escreveu
sou ruim de rima, haha
não sei nunca o que falar
hehe
não sei nunca o que dizer

ai que conversa é essa da gente tentando elaborar o que todas as outras pessoas resumem em kkk

um dia vai existir um arquivo físico dessas conversas de msn
vão perguntar o motivo da sigla
mas nunca
eu duvido muito mesmo
vão se ligar na poesia
que ali havia

18 de março de 2013

O gosto do gasto

Estou escrevendo uma carta para os meus dezessete. O mundo é muito cheio de mudanças climáticas e eu preciso preveni-la. Entre as drogas e a prevenção sexual deveria estar o aquecimento global na lista de preocupações dos meus pais. Tudo o que é de aquecer fez uns estragos imensos nos últimos anos.

No entanto, a pequena de dezessete não teria evitado tamanho degelo de calota polar.

Escrevo mais para que ela pare de buscar as palavras certas. Aprendi que nada comprova mais a lei da inércia do que a força que faço pra tentar combiná-las em vão. No banho o mundo fica mais frio e mais quente. No banho eu consigo arranjar perfeitamente todas as frases feitas que eu preciso te dizer.

Mas fora dele não.

Talvez eu recite uns versinhos em espanhol pra contar como foi descoberto o eixo errado do mundo. Uns em francês por amor. Uns em português pra desmentir que sei falar outras línguas. Nada deve perder seu mistério e eu mesmo não quero que ela deixe de aprender.

Mas Deixa estar.

Que a banda acaba, o show continua e o meu banho ta servindo pra organizar os pensamentos.

E pra fingir.

6 de março de 2013

A Louca


No canto mais alto e estridente do caos existe um cabana. Dentro dela mora uma Louca. Durante séculos dos incontáveis momentos de ócio nessa inexatidão ela havia sumido. Deixando uma música do Little Joy, deixando uma revanche, deixando a vontade, deixando Dê de Dé em quase todo início das frases.

Daí então pintou uma traição. Coisa que Louca nunca vai entender. Deu briga entre o ser, o saber e o querer. Foi tudo culpa da alucinação, da falta de fé; da falta de Dê no Dé.

Na história chegou enfim um cara feliz. O melhor amiga da Louca. O melhor amigo de todos. Ele destruiu aos poucos a cabana e pediu que ninguém o contasse de tudo o que fazia sem saber.

Um dia a Louca ligou, pediu todos os detalhes e o mundo pôs-se a tremer e girar, pôs-se feliz a cantar. Tudo ficou rosa, azul, quadriculado e branco. Tudo ficou meio manco, sem o fim pra completar.

Agora a Louca está aí, dentro de mim como antes. Fazendo frágil o durante de quando a gente está a sonhar.

1 de março de 2013

O não-dito

Que hora pra estalar os dedos
Que hora pra ficar com o coração na boca
Que hora pra ter vontade de cheirar a sua camisa quadriculada em cima da cama
                          - e esse desodorante de merda só vai me fazer lembrar desse momento

Antes que o leitor pense que é infelicidade

(...)

É a minha nova tatuagem

O não-dito
                ; que ficou debaixo desse cobertor
ficou na ponta língua
e vai abrir desengonçado essa janela difícil
e descer de tobogã
até ninguém nunca precisar saber
e a gente fingir esquecer

(...)

Enquanto eu espero os parabéns o vento resmunga que dá azar antes da hora

Usa o seu óculos de menino estudioso
                                                         - e esse ar
pra mudar toda essa rua

Constrói um correio, sei lá
Eu to revisitando o mesmo lugar
Eu cresci um pouco pra entender que nada desata sem se encontrar
   

16 de fevereiro de 2013

Pode avisar que eu não vou, eu to na estrada


O mundo é frágil. Mais que eu. Que qualquer um.

Perde-se a virgindade em qualquer esquina. E o grande amor.

Encontra-se dinheiro. E o grande amor. E perde.

Hoje eu saí de casa com a esperança no porta dólar. Você virou a esquina, pegou um avião. Não adiantou de nada.

Gosto de aeroporto pela inconstância revelada, deslavada. A felicidade pode estar na tristeza da mala extraviada. Ninguém pode saber.

Todo mundo deveria saber.

Eu vou pegar esse voo e deveria saber que quando ele pousar a minha esperança vai estar voando pra outro lugar. Junto com todo o controle que pensa o homem ter do mundo e tudo que vai mudar; tudo que eu deveria prever esperar.

4 de fevereiro de 2013

Alma del ebro


Hoje eu fiz um filme. Meu cadinho spielbergriano encontrou uma cidade perdida em Zaragoza e munida de toda a velocidade da bicicleta eu fui bem como uma heroína. Cachos ventosos, um casacão de frio e aqueles óculos escuros. Era como se a magrela fosse uma vespa, mas no fim ela tinha mesmo de ser magrela.

A adrenalina é na verdade o reconhecimento do tanto de apreço que se tem pelo se ama no mundo.

De vôo em vôo eu cantava verso por verso do samba da benção. E eu não mesmo sei como o abandono do mais recente estilo arquitetônico pode casar com um samba brasileiro, mas eu fui feliz.

Voar é uma questão de estar no chão. Lá de cima dá pra ver o quanto de medo do mundo todo de dar um impulso.

E o meu combustível é a poesia.

Quando ela acabar, não haverá magrela que me faça voar.

Eu sou uma vespa magrela sem tempo nem espaço e não quero nunca mais me achar.