3 de março de 2010

Vem me exorcisa



Escrito em 25/02/2010 às 00:40.


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Conheça uma menina que nasceu há exatos 19 anos. Não posso me dedicar a contar o início de sua vida, já que tenho estado de consciência presente de uns quatorze anos pra cá. Não houveram grandes mudanças no mundo, nem ela, nem dela. Ou só no dela. Ontem ela subia a única ladeira doce de sempre, que a conduz ao palácio de eras no meio do seu nada. Em 2010 ela subiu ouvindo sua música.


Não podemos dizer ao certo se Jobim compôs o nome composto ou o singular primeiro, mas certamente conheceu uma Luiza para querer galgar a muralha até a Anna Luiza (vou colocar a grafia na minha mesmo). E quem a foi de alimentar sonhos infantis de que suas conversas com a Lua eram mesmo de verdade. Faz duas semanas que o pai a pegou deitada no quintal olhando o céu estrelado do Rio, eu percebi que ela cantava uma ciranda, que é chegada em milagre. Que milagre algum chegou, nem trovador.


Por isso ela é Anna também. Tem alguma inteligibilidade ininteligível fruto de pura fé que a fez construir os vales, os mares, os montes, as flores, as fontes. Teu mundo é cercado assim, de espécies simples, do que só se vence pelo esforço, por nada mais.


Olha a menina lá no meio, no meio de um banheiro. Com uma máquina de escrever de última geração, balançando os dedinhos, soltando a música, calando a música, sendo quem é, quem acha que é, quem gosta de ser. Refletindo olhando o seu reflexo no vidro do blindex. Apagando a última frase que vocês não descobrirão. Delatando a última gota de insegurança dessa porção. Ela pensa até em voltar a jogar Freecell.


Nem venha me perguntar o porquê. Dela se cercar de artifícios fáceis, dela cuidar do que não sabe ser, dela velar o que já é mistério. É justo que ela seja o maior deles. Se não entendes teu valor escreva um texto inteiro sobre o que pensa ser.


Olhando uma foto dessas novas e sem vida; dessas sem papel; sem toque e cheiro; ela se viu. Jogada na cama, de bruços, com o rosto em evidência, os dentes entrecortados, a boca semi-aberta, um sorriso evidente da meia-cova do lado esquerdo, o cabelo preso torto e os pés a mostra do lado direito, um coçando o outro. Além do texto, a foto também é resultado de pura vaidade. E o fundo é a prova de tudo isso que eu guardei somente pra te dar Luiza.


A redoma sem proteção da primavera em si. Não é toa que a escolheu sem a conhercer sabiamente como sua estação favorita. E o olhar... Ah o olhar... Na Maravilhosa que tem lago, serra e mar. Nele a alteração da cor varia de acordo com o humor.


Ela é mesmo uma muralha de baixa estatura. Ela não é dócil, ela só adocica a vida. E há quem resista a todo encanto. São esses os que já se cansaram no meio do caminho.


- Mas minha mãe ta lá ó!


- Pensou que a filha fosse chorar no primeiro dia de aula e ela só deu tchal.


- Tão meu irmão, os outros zeladores, as crianças, uma feiticeira que me ensina o que fazer do mundo.

A Luiza só se cercou porque não achou o trovador. No entanto eu já a vejo, criando uma cena, fingindo-se de bicho-grilo, cantando que ela brinca de amor.

E cuidado, que todo mundo acreditou!

2 comentários:

  1. e quem é essa menina incrível, afinal?
    a filha da empregada, é claro! olha a caixa de sabão em pó omo ao fundo...


    (brincadeirinhaaa)

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