30 de março de 2014

A insaciável vontade do tempo

Não gosto mais de bala de tamarindo. Botei na boca, fiz questão de tentar até o fim e não deu. Nem deu pra lembrar como era gostar. Fiquei com aquele azedume perdido no tempo de quando parei de gostar; a dúvida do dia que aquele prazer vai voltar, mas mal dá pra engolir seco esse meu novo estar.

Eu gostava de bala de tamarindo. Era básico. Tinha todo o tempo e sem medir tempo pra esperar. Era certeiro, não tinha mistério. Um dia o tempo passou, eu parei de chupar tamarindo e ficou a lembrança. E chupar tamarindo não é mais como lembrar como era chupar.

Sabe, eu amo Frumelo. Não é básico, muito menos certeiro. Às vezes tem um pacote que eu não sei se pode abrir. Então eu espero. Tem vez que o pacote abre, todo mundo pega e eu fico sem. Depois de um tempo vai ter outro pacote. E pode acontecer o mesmo. Ou pode acontecer da minha vontade de comer Frumelo ser maior, eu roubar o pacote e ir me deliciando aos pouquinhos.

A minha relação com Frumelo é assim. Pouco enjoativa, cheia de perigos, cheia de gente me dizendo o que eu tenho que fazer e eu a fazer tudo ao contrário. Acho que só Frumelo me entende. Acho.

Mas bala que satisfaz é de momento. Tem aquele pirulito muito doido que explode na boca. Tem de várias marcas. Não é como Frumelo que só Frumelo é como Frumelo. O pirulito eu encontrei até na Europa com um nome diferente; nada europeu nem rebuscado, coisa meio árabe mesmo, meio de fim de noite. Sabia que ia ter no Brasil igual e fiquei meses explodindo coisas em mim. Até passar mal.

Bala saudável é hortelã da Garoto, por tradição. O tempo me trouxe um encantamento pelas coisas formais e saudáveis, eu que sempre fui de vício e autodestruição. Eu que sempre fui de chupar todas as balas do pacote de uma vez, dessa vez eu comprei um pacotinho. Aquele pequeno pacote de hortelã da Garoto. E uma de cada vez. De primeira, que foi muito menos careta do que eu esperava – e bom. De segunda, que foi bem maior do que eu esperava. E até o fim. Até o fim que eu não quis dar.

Enquanto restavam as últimas pastilhas do pacote eu fui conversando com a razão. Fui admirando aquele quadrado bem doce numa vontade sem critério de por tudo de uma vez na boca. A vontade de por doce na boca me levou ao tamarindo e me fez estranhar todas as balas do mundo. Me fez lembrar de Frumelo e que sempre vai estar lá. Me fez desistir de passar mal demais. Me fez ver que um dia a gente pode simplesmente deixar de gostar.

Embrulhei a hortelã com as que faltavam pro pacote acabar e num acesso de raiva da espera não acabar eu joguei em algum lugar que agora vai dar muito medo e preguiça de achar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário