23 de julho de 2010

Avoiding repetition

A sequência de espirros sempre foi um aviso para Kimberly. Sobre os momentos em que tudo faz sentido, um arranjo do destino para que finalmente todos os pontos possam ser interligados, ela nunca teve dúvida de que isso aconteceria pois estava escrito. Kimberly acabava de comprar pizza quando, esperando o sinal fechar, se viu no meio da história de sua mocinha favorita. Quis ajeitar o cabelo para seu narrador-onisciente e esperava o momento em que ele expressaria toda a agonia que aquela revelação representava.

Nada se fez. Enquanto esperava o bonequinho verde figurar do outro lado da rua nenhum mocinho de espreita, nenhum nariz de palhaço, nada de folhas de fichário, nem bola de clóvis. Um vento. Como aquele e ela pôde atravessar finalmente. Ficou esperando sua carona do outro lado com uma pizza e uma sacola na mão. Sem ter como fazer sinal para o Yugo prestes a capturá-la dentro da sua imaginação. A mentira não era só dela.

A verdade era que lá estava uma garota de dezenove acompanhando o formato das pedras portuguesas com os pés. Olhando para sua cópia barata de all star, descobrindo um novo sinal no tornozelo e pulou um espião quando o outro sinal fechou. Ele disfarçou rápido. Kimberly virou, umedeceu os lábios e ficou olhando de espreita. Quando seu olhar já não tinha ângulo para o disfarce virou novamente. O espião sumiu na esquina deixando o bonequinho verde atravessando do outro lado.

Tudo teve razão mais uma vez. A lua branca no céu estrelado lembrava que além da água, existem outras formas de comunicação. A mesma via de duas mãos num outro tempo-espaço tem outro significado. Por ela o bonequinho podia estar carregando um lap top na mão quando estivesse vermelho, a poesia teria até mais sentido. E o vento em definitivo acelerava seu pensamento, enquanto ela ponderava em minutos suas histórias de amor.

Passou uma moto fazendo barulho que deu susto. Mais uma outra realidade. Mais uma personagem dela mesma, com nome de power ranger, levando comida pra casa. Tinha uma menina sentada na beira da rua que olhou pra Kimberly. Disputavam o título da Dona da Verdade quando chegou um cara com um troféu na mão explicando que o destino é uma sabedoria. Ele era um sábio muito atraente, com uma gargalhada sacana e tinha o troféu na mão pois sabia como convencê-las a obtê-lo. - ambiguidade proposital -

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