4 de fevereiro de 2010

Caio na rede

O rádio me aconselha “nenhum aquário é maior do que o mar”. Pois meus pensamentos viajam num mar de aquário celebrando os aniversariantes do por agora. É bem deles essa frase, que ensina a grandiosidade de um mundo que se quer descobrir, que se deixa molhar os pés e deita na areia olhando o céu imenso pra descobrir como somos ínfimos. É bem de um deles, de um compositor que adoro.

Deles posso falar com experiência. Tenho um legítimo de terceiro decanato em casa. Escolhia suas roupas, botava sua comida, preparava a nebulização, brigava quando ele tentava copiar as besteiras que o papai sempre fez; era difícil controlar as duas crianças em nossas viagens. No tempo das vacas gordas, quando ele resolvia gastar o vale que mamãe dava para a semana inteira distribuindo lanches para todos, eu era chamada. E todos tinham medo de mim. Mas ninguém se metia com ele. Porque lá estava eu. O peixe mais protegia o aquário que ele a mim.

Mais tarde fui expulsa do seu mundinho, como acontecem a todos os irmãos, antes de se necessitarem eternamente. Como hoje nos necessitamos eternamente. Nesse meio tempo conheci o mar. E ele abrigou outras águas, percebeu como poderia ser suficiente sem a minha presença. Hoje ta grande, ta trabalhando, ta saindo sozinho, ta invertendo as previsões de que quem sairia de casa primeiro seria eu.

Apesar do vazio que a lembrança preenche, digo da sensação de abrigo que eu era, fico feliz com o jovem aquariano que temos casa. Percebo finalmente como a humildade e a generosidade me foi ensinada por ele. Vai lá que ele quer usar uma capa de super-herói e se ver servidor público no futuro, mas pra mim ele será sempre o menino que esbanjava em comida na hora do recreio. Para ele não sei bem o que sou, talvez a irmã mais velha que senta no sofá trazendo uma panela de brigadeiro para assistirmos um besteirol americano nada inédito.

Ele puxa meus pés pro chão. Me mostra como ser terreno é divertido também, como é real, como é sensível e até possível. No fundo eu sou somente isso e não devemos nada um ao outro. Para mim finalmente não há nenhuma sede de autoritarismo, fico com a vontade de voltar para o meu lugar no sofá, com uma das colheres que enfio na panela, sem filosofar demais as gargalhadas que damos sem perceber. Tudo muito ao natural.

Impressiona a diferença radical entre a semântica do signo empregado para o signo – e essa só os mais inteligentes do zodíaco compreendem. Na verdade o aquário aprisiona menos que o mar, pois com ele pode-se passear por outros estados do mundo sem perder a vida. Enquanto estive no mar via muitos peixes caindo na rede, poucos aquários perdidos por lá. Ainda dizem que são os piscianos os mais sábios...

- Como? Se jogando na rede por diversão? Permanecendo lá em busca da aventura?

Os aquarianos não jogam redes e se deixam buscar ao natural.

Quero que as águas corram que eu vou junto.

No mar estamos os dois: peixes e aquário. Um nadando acelerado, contra a corrente e a favor. Outro boiando, observando o mar, observando a costa. Um acreditando que dentro do mar tem a liberdade de ir para onde quiser, com pena do outro que vive a boiar. Não sabe que aquário também pode afundar e viajar no mar. Só o aquário entende que na verdade os dois ocupam o mesmo lugar.

Parabéns aos aniversariantes!

2 comentários:

  1. cara, sensacional tudo no texto. Sempre tive muitas ideias para como falar da minha relaçao com meu irmao, mas essa foi genial.
    parabens best
    bjos

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  2. Adorei! Vc é uma irmã muito fofa!!Seu irmão tah trabalhando?
    Sabe o que não concordo nessa estória de signos? Generaliza muito as coisas,sabe?Só pq as pessoas nascem nesse período não quer dizer que sejam todoas com a mesma personalidade.Sei lá,isso é muito estranho
    A propósito,o texto está incrível.

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